Joe Biden, presidente dos Estados Unidos AFP

Moscou - Após o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pedir nesta quinta-feira (10) que os cidadãos americanos deixem a Ucrânia devido à ameaça de uma invasão russa, outros países seguiram o mesmo caminho e também recomendam a saída imediata. Os governos de Japão, Reino Unido, Coreia do Sul e Holanda também solicitaram que as pessoas saiam em razão da instabilidade no país.

"Os cidadãos americanos deveriam sair agora. As coisas podem acelerar rapidamente", declarou Biden durante uma entrevista para a NBC News, alertando sobre o poderio do exército russo, que tem mais de 100.000 soldados deslocados para a fronteira com a Ucrânia.

No entanto, o presidente dos Estados Unidos descartou novamente enviar soldados à Ucrânia, nem para ajudar a evacuar os cidadãos americanos em caso de invasão.

Isso seria "uma guerra mundial. Quando os americanos e os russos começam a atirar uns nos outros, entramos num mundo muito diferente", afirmou Biden.
O Ministério de Relações Exteriores do Japão publicou nesta sexta, 11, uma nota em que pede os cidadãos japoneses para deixarem a Ucrânia imediatamente. Há aproximadamente 150 japoneses no país, segundo o ministério. A Holanda e a Coreia do Sul também fizeram o mesmo pedido aos seus cidadãos.

A recomendação mais recente do governo brasileiro, de 31 de janeiro, diz que "não há, no momento, nenhuma recomendação de segurança da embaixada brasileira contrária a visitas ou à permanência na Ucrânia".

A entrevista de Biden foi ao ar após o início de importantes manobras conjuntas entre os exércitos russo e bielorrusso às portas da Ucrânia, diminuindo as esperanças de uma desescalada após semanas de intensos esforços diplomáticos na Europa.

Estes exercícios, concentrados principalmente na região bielorrussa de Brest, fronteiriça com a Ucrânia, envolvem o envio de mísseis e armamento pesado e, segundo os Estados Unidos, de 30.000 soldados russos adicionais.

A Otan garantiu que o envio de mísseis, armamento pesado e soldados armados a esse país situado ao norte da Ucrânia era "um momento perigoso para a segurança da Europa", que vive os momentos de maior tensão desde a Guerra Fria.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acusou Moscou de exercer uma "pressão psicológica" sobre a ex-república soviética, agora inclinada para o Ocidente.
Reino Unido
O Reino Unido aconselhou nesta sexta-feira (11) seus cidadãos a deixarem a Ucrânia imediatamente como medida de segurança, em meio à crise entre a Rússia e os países ocidentais.

"A segurança dos cidadãos britânicos é nossa prioridade máxima, por isso atualizamos nossos conselhos de viagem", disse um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores.

"Instamos os cidadãos britânicos na Ucrânia a saírem imediatamente pelos meios comerciais enquanto estão disponíveis", acrescentou.

Por outro lado, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse nesta sexta, durante reunião remota com seus aliados sobre a situação na Ucrânia, que "teme pela segurança da Europa".

Johnson uniu-se a um telefonema com o presidente dos Estados Unidos e outros líderes mundiais, e disse-lhes "que temia pela segurança da Europa nas circunstâncias atuais".

Manobras defensivas, segundo Moscou
Os líderes europeus estavam envolvidos nas últimas semanas em um frenesi diplomático para tentar diminuir as tensões, incluindo visitas a Moscou do presidente da França, Emmanuel Macron, e futuramente do chanceler alemão, Olaf Scholz.

O mandatário alemão se reuniu com líderes dos países bálticos nesta quinta-feira e alertou a Rússia para "não subestimar a união e a determinação como membro da União Europeia e aliando da Otan".

O chefe do Estado-Maior dos EUA, general Mark Milley, disse que queria evitar "incidentes desagradáveis" no início das manobras militares, e conversou por telefone com o colega bielorrusso, general Victor Goulevitch.

O ministro da Defesa russo insistiu que os exercícios focariam em "suprimir e repelir agressões externas" e o Kremlin prometeu que as tropas serão repatriadas ao fim das manobras, previstas até 20 de fevereiro.

A Rússia também enviou seis navios de guerra através do Bósforo para a realização de exercícios navais no mar Negro e no mar de Azov.

Diante da indignação europeia, o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, classificou de "incompreensível" a preocupação com os exercícios militares e alertou que "ultimatos e ameaças não levam a lugar algum".

Lavrov recebeu em Moscou a homóloga britânica, Liz Truss, que pediu a retirada das tropas russas da fronteira com a Ucrânia. A ofensiva diplomática de Londres foi completada pela visita do primeiro-ministro Boris Johnson à Otan e Polônia.

Sanções econômicas
A Rússia é acusada de estar disposta a executar uma nova operação militar contra a Ucrânia, após a anexação da Crimeia em 2014. O Kremlin nega qualquer intenção bélica e afirma que deseja garantir sua segurança diante do que considera um comportamento hostil de Kiev e da Otan.

Moscou exige o fim da política de ampliação da Otan, o compromisso de não instalar armas ofensivas perto das fronteiras russas e o recuo da infraestrutura militar da Aliança às fronteiras de 1997, ou seja, antes de a organização receber os ex-membros do bloco soviético.

Os países ocidentais consideram estas condições inaceitáveis e ameaçam Moscou com duras sanções econômicas em caso de ofensiva na Ucrânia, com destaque para possíveis consequências negativas para o gasoduto Nord Stream 2, entre Rússia e Alemanha.

Apesar das tensões, ambas as partes advogam por manter a via diplomática aberta, que parecia dar resultado antes do início das manobras militares em Belarus.

Após a anexação da Crimeia em 2014, uma guerra eclodiu em Dombas (leste da Ucrânia) entre as forças de Kiev e separatistas pró-Rússia que já deixou mais de 14.000 mortes em oito anos, segundo o último balanço da ONU.