Manifestantes bloqueiam fronteira entre Canadá e EUAAFP

Canadá - O governo de Ontário, epicentro dos protestos contra as medidas sanitárias pela covid-19 no Canadá, declarou nesta sexta-feira, 11, estado de emergência nesta província devido às manifestações "ilegais" iniciadas há duas semanas, enquanto o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, garantiu que "todas as opções estão na mesa" para encerrar os protestos, que obstruem passagens da fronteira com os Estados Unidos.
"Está tudo sobre a mesa porque é preciso parar esta atividade ilegal", frisou ele em uma coletiva de imprensa. "As fronteiras não podem e não permanecerão bloqueadas", acrescentou, referindo-se à sua conversa com o presidente americano, Joe Biden, sobre o assunto.
Biden disse a Trudeau que estava preocupado com o impacto dos bloqueios sobre as ligações comerciais vitais com os Estados Unidos.
“O presidente expressou sua preocupação de que as empresas e trabalhadores dos EUA estejam sofrendo sérios efeitos, incluindo desaceleração na produção, redução das horas de trabalho e fechamento de fábricas”, segundo um relatório da Casa Branca.
O primeiro-ministro de Ontário também afirmou que tomaria todas as medidas necessárias para garantir a reabertura da fronteira. “E aos moradores sitiados de Ottawa, digo que garantiremos que possam retornar à vida normal o mais rápido possível", afirmou o conservador Doug Ford em coletiva de imprensa.
Ford ameaçou com multas de até 80 mil dólares e penas de prisão os manifestantes, caso não recuarem no que ele chamou de "ocupação ilegal".
- Golpe econômico -
O centro da capital federal canadense, Ottawa, situada em Ontário, está bloqueado há duas semanas por manifestantes que exigem a suspensão de todas as medidas sanitárias anticovid e se negam a encerrar o protesto.
Além disso, os manifestantes bloqueiam com caminhões a ponte Ambassador, um eixo comercial essencial que conecta Ontário com Detroit, nos Estados Unidos.
Mais de 25% das mercadorias exportadas entre os dois países transitam por essa passagem fronteiriça. Estima-se que 40 mil viajantes, turistas e caminhoneiros com mercadorias no valor de cerca de 323 milhões de dólares passem por lá diariamente.
"Faremos o necessário para acabar com esses bloqueios", acrescentou Ford. "Emitiremos urgentemente ordens que deixarão claro que é ilegal bloquear e impedir o movimento de bens, pessoas e serviços em infraestruturas-chave", afirmou.
Ele foi alvo de críticas durante vários dias por sua inação frente aos manifestantes, que muitos atribuem a cálculos políticos, já que Ford será candidato à reeleição em junho.
- Trudeau sob pressão -
O movimento, chamado de "Comboio da Liberdade", foi convocado em repúdio à decisão do governo de obrigar os caminhoneiros que cruzam a fronteira entre o Canadá e os Estados Unidos a tomarem a vacina contra a covid-19, fazerem testes ou se isolarem. Mas rapidamente se transformou em um protesto contra as medidas de saúde em geral e, para alguns, contra o governo Trudeau.
Os Estados Unidos pediram na quinta-feira que o Canadá utilize os "poderes federais" do governo em particular para resolver o bloqueio da ponte Ambassador.
Seu bloqueio e fechamento desde segunda-feira gerou repercussões econômicas, denunciaram autoridades e executivos do setor privado, particularmente da indústria automotiva de ambos os lados da fronteira, o que provocou uma reação firme dos EUA.
Os protestos canadenses levaram ainda ao bloqueio de outras duas passagens fronteiriças binacionais: a de Emerson, que liga a província de Manitoba ao estado americano de Dakota do Norte, e outra na província ocidental de Alberta.
Até o momento, desde que os protestos eclodiram em 29 de janeiro, apenas 25 manifestantes foram detidos.
- Expansão internacional -
O movimento dos caminhoneiros no Canadá também incentivou ações semelhantes na Bélgica, Nova Zelândia e França, neste último caso com maior vigor.
Milhares de manifestantes contra as medidas anticovid se dirigiam nesta sexta-feira de várias partes do país até Paris, apesar das advertências das autoridades.
"Se interromperem o trânsito ou tentarem bloquear a capital, devemos ser muito firmes", disse o primeiro-ministro francês, Jean Castex, nesta sexta-feira ao canal France 2.
O presidente Emmanuel Macron, por sua vez, pediu "concórdia" e "benevolência coletiva", mostrando compreensão com "o cansaço" e "a fúria" causados pela crise sanitária, durante entrevista ao jornal Ouest-France.
Apesar dos avisos, cerca de 2.600 veículos, segundo a polícia, se aproximavam de Paris. Seu objetivo é chegar à noite para participar das várias manifestações que todos os sábados percorrem as ruas da capital contra o passaporte de vacinação, chave na estratégia da França de combate à pandemia.
Os organizadores dos autodenominados "comboios da liberdade" têm na mira o passaporte, necessário para viajar, entrar em bares e locais de lazer, entre outros, mas rejeitam qualquer intenção de bloquear a capital francesa.
A dois meses das eleições presidenciais, as autoridades querem evitar um novo protesto como os "coletes amarelos", que abalaram a França no final de 2018 e 2019 para protestar contra o aumento do custo de vida, após a alta dos preços dos combustíveis.