Fachada do Itamaraty, em BrasíliaValter Campanato/Agência Brasil

Nova york - O Secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, telefonou para o ministro das Relações Exteriores, Carlos França, na manhã desta sexta-feira (25), para tratar dos ataques da Rússia à Ucrânia e sobre a posição do governo brasileiro acerca do conflito.

De acordo com o Itamaraty, os dois "discutiram o que é possível fazer para encerrar as operações militares em curso, restaurar a paz e impedir que a população civil continue a sofrer as consequências do conflito".

Na véspera, a diplomacia americana havia manifestado desejo de que o Brasil condenasse os ataques e assumisse postura mais crítica sobre a ação militar desencadeada pelo presidente russo, Vladimir Putin.

"Qualquer declaração que condene as ações russas, como violações do direito internacional e da carta das Nações Unidas, ajuda e é bem-vinda. Um pedido de desescalada das hostilidades ao povo ucraniano e de retirada das tropas é um passo importantes para todos os países", disse o atual chefe da diplomacia americana em Brasília, Douglas Koneff. "O Brasil é um País importante, tem assento no Conselho de Segurança. A voz do Brasil importa".

O que começou como uma troca de acusações, em novembro do ano passado, evoluiu para uma crise internacional com mobilização de tropas e de esforços diplomáticos

A mensagem faz parte do esforço de Washington para demonstrar força e união das demais nações democráticas contra os ataques da Rússia. O mesmo movimento de pressão sobre o governo brasileiro tem sido feito por embaixadores de países da Europa, que cobram do Brasil uma posição mais clara a respeito da guerra

Até o momento, o governo brasileiro disse somente que adota um tom de "equilíbrio" diante do conflito e vê os acontecimentos "com grande preocupação".

Definição

O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que uma posição definitiva cabe somente a ele. Na quinta-feira 24, o chefe do Executivo desautorizou o vice-presidente, Hamilton Mourão, que havia declarado que o Brasil não é neutro no conflito e não concorda com a invasão do território ucraniano.

Em uma transmissão ao vivo ao lado do chanceler Carlos França, Bolsonaro, porém, não disse o que pensa a respeito da ação militar russa.

"Deixar bem claro: o artigo 84 da Constituição diz que quem fala sobre esse assunto é o presidente. E o presidente chama-se Jair Messias Bolsonaro. E ponto final. Com todo respeito a essa pessoa que falou isso - e falou mesmo, eu vi as imagens - está falando algo que não deve. Não é de competência dela. É de competência nossa", afirmou Bolsonaro.

Cerca de 500 brasileiros estão na Ucrânia. O Itamaraty informou que não existe um plano para evacuação porque não existem condições mínimas de segurança para a saída por terra. O espaço aéreo ucraniano está fechado.
Entenda o conflito

O conflito na Ucrânia pela Rússia teve início nesta quinta-feira, 24, após o presidente russo Vladimir Putin autorizar a entrada de tropas militares no país do leste europeu. A invasão culminou em ataques por ar, mar e terra, com diversas cidades bombardeadas, inclusive a capital Kiev, que já deixou mais de 130 mortos e mais de 300 feridos. Essa é a maior operação militar dentro de um país europeu desde a Segunda Guerra Mundial.

A ofensiva provocou clamor internacional, com reuniões de emergência previstas em vários países, e pronunciamentos de diversos líderes espalhados pelo mundo condenando o ataque russo à Ucrânia. Em razão da invasão, países como Estados Unidos, Reino Unido e o bloco da União Europeia anunciaram sanções econômicas contra a Rússia.

A invasão ocorreu dois dias após o governo russo reconhecer a independência de dois territórios separatistas no leste da Ucrânia - as províncias de Donetsk e Luhansk. Com os ataques, Putin pretende alcançar uma desmilitarização e a eliminação dos "nazistas", segundo o presidente russo.

Outros motivos de Putin pela invasão na Ucrânia se dão pela aproximação do país com o Ocidente, com a possibilidade do país do leste europeu fazer parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliança militar internacional, e da União Europeia, além da ambição de expandir o território russo para aumentar o poder de influência na região.