Roma - O papa Francisco visitará a República Democrática do Congo e o Sudão do Sul de 2 a 7 de julho, uma viagem que teve de ser adiada várias vezes devido à violência que assola estes países africanos e cujo objetivo é defender a paz.
"Em resposta ao convite dos chefes de Estado e das respectivas Conferências Episcopais, o papa Francisco fará em breve uma viagem apostólica à República Democrática do Congo de 2 a 5 de julho, durante a qual visitará as cidades de Kinshasa e Goma. Depois visitará o Sudão do Sul, de 5 a 7 de julho, para seguir até Juba", anunciou em um comunicado o diretor de imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni.
Esta será uma viagem delicada, a países africanos que estiveram envolvidos em violentas guerras civis que provocaram muitas vítimas e deslocados.
"A visita do papa é um presente inestimável (...) ao nosso país, ao nosso povo, que está passando por momentos difíceis", disse o cardeal Fridolin Ambongo, arcebispo de Kinshasa.
Em novembro de 2017, Francisco celebrou uma missa na basílica de São Pedro que começou com cantos em suaíli pela paz nestes dois países, que o pontífice deveria ter visitado na ocasião, uma viagem adiada em consequência da guerra civil.
Durante a homilia, ele denunciou a "hipocrisia quando os massacres de mulheres e crianças são silenciados".
A RDC, um país de quase 90 milhões de habitantes, tem 40% de católicos e 35% de protestantes, além de outras igrejas cristãs.
"O papa vem (...) para reavivar a esperança do povo congolês, que precisa de paz, segurança e bem-estar", explicou à imprensa Marcel Utembi Tapa, presidente da Conferência Episcopal do Congo.
A visita inclui Goma, no leste do país, palco de mais de 25 anos de confrontos entre grupos armados.
No Sudão do Sul, o papa visitará Juba, capital, local onde foi assinado uma acordo de paz em 2018, mas as disputas políticas acabaram enfraquecendo os avanços alcançados.
A Santa Sé participou diretamente das negociações como mediadora. Em 2019, o presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir, e o líder da oposição, Riek Machar, foram convidados ao Vaticano por Francisco para um retiro espiritual e, ajoelhando-se diante deles, implorou pela paz, um gesto histórico.
Para o ministro dos Assuntos Presidenciais do Sudão do Sul, Barnaba Marial Benjamin, o povo do seu país "espera há muitos anos" a visita papal.
"Ele vem mostrar sua solidariedade com o Sudão do Sul", disse o arcebispo de Juba, Stephen Ameyu Martin, que considera que a visita tem "um caráter religioso, mas também político".
O Sudão do Sul, independente desde 2011, corre o risco de voltar à guerra, alertou a ONU em fevereiro.
Entre 2013 e 2018, a guerra civil matou cerca de 400.000 pessoas e forçou milhões a deixar suas casas.
Segundo dados do Banco Mundial, 80% dos 11 milhões de sul-sudaneses vivem em "pobreza absoluta" e dois terços sofrem de fome.
Francisco, que celebra o nono ano de seu pontificado este mês, visitou o continente africano quatro vezes - Quênia, Uganda, República Centro-Africana, Egito e Marrocos. Em 2019 fez a sua última digressão a Madagáscar, Moçambique e Ilhas Maurício.
A última visita de um pontífice a Kinshasa aconteceu em 1985, quando João Paulo II permaneceu dois dias no país, que na época ainda era chamado Zaire e era governado por Mobutu Sese Seko.
A viagem ao continente africano será a segunda do papa argentino, de 85 anos, ao exterior em 2022, depois de sua visita a Malta prevista para 2 e 3 de abril.