Embaixador russo na Bielorrússia Boris Gryzlov, vice-chanceler russo Andrei Rudenko, assessor presidencial russo e o chefe da delegação russa Vladimir Medinsky, Leonid Slutsky, presidente da Duma russa Comitê de Assuntos Internacionais, falar com a mídia após as conversações russo-ucranianas na BielorrússiaMAXIM GUCHEK / BELTA / AFP

Belarus - A Ucrânia e Rússia obtiveram "resultados positivos" na questão dos corredores humanitários, indicou a parte ucraniana nesta segunda-feira (7), após a terceira rodada de negociações entre ambos os países para encontrar uma saída para o conflito bélico, apesar de Moscou ter assinalado que suas "expectativas" não foram cumpridas.

"Conseguimos alguns resultados positivos sobre a logística dos corredores humanitários. Haverá mudanças e será prestada uma ajuda mais eficaz para os que sofrem com a agressão da Federação Russa", escreveu no Twitter Mykhailo Podoliyak, membro da delegação ucraniana.
Por sua vez, o negociador russo Vladimir Medinsky disse que as conversas com Kiev não estiveram "à altura das expectativas de Moscou" e que esperava resultados "mais significativos" no futuro. "Esperamos que da próxima vez possamos fazer um avanço mais significativo", acrescentou ele em uma entrevista coletiva transmitida pelo canal de televisão público russo Rossia 24.

A ofensiva russa, iniciada em 24 de fevereiro, provocou a fuga de mais de 1,7 milhão de pessoas da Ucrânia e um número ainda maior de habitantes estão deslocados dentro do país ou bloqueados em cidades bombardeadas pela Rússia. O agravamento do conflito também provoca turbulências financeiras e o aumento vertiginoso dos preços do petróleo e do ouro.

O presidente russo, Vladimir Putin, estabeleceu como condição preliminar para a resolução do conflito que Kiev aceitasse todas as exigências de Moscou, especialmente a desmilitarização da Ucrânia e o estabelecimento do status de neutralidade no país.

As duas rodadas anteriores de negociações, também organizadas em Belarus, país aliado de Moscou, não apresentaram resultados.


Bombardeio 
No dia de mais uma rodada de negociações, um bombardeio provocou a morte de pelo menos 13 pessoas em uma padaria industrial em Makariv, cerca de 50 quilômetros a oeste de Kiev, informaram os serviços de emergência ucranianos.

Em mensagem no Telegram, os serviços indicaram que cerca de 30 pessoas estavam no perímetro da padaria no momento dos bombardeios. Uma porta-voz dos serviços de emergência confirmou à AFP que o ataque havia matado pelo menos 13 pessoas.

Os serviços de emergência também disseram ter resgatado cinco pessoas presas nos escombros desta fábrica, que estava fechada. Nenhuma outra informação sobre este bombardeio estava imediatamente disponível.
Suspensão temporária
Mais cedo, o exército russo anunciou a suspensão temporária dos ataques em algumas regiões "com fins humanitários" e a abertura de corredores para retirar os civis de Kiev, Kharkiv, do porto cercado de Mariupol e da localidade de Sumy, perto da fronteira com a Rússia. Metade dos corredores, porém, segue em direção à Rússia e Belarus, e o governo ucraniano rejeitou a proposta.

"Não é uma opção aceitável", disse a vice-primeira-ministra ucraniana Iryna Vereschuk. Ela afirmou que os civis retirados das cidades de Kharkiv, Kiev, Mariupol e Sumy "não vão para Belarus, para em seguida embarcar em um avião e seguir para Rússia".

O presidente francês Emmanuel Macron, que conversou com Vladimir Putin no domingo, acusou o líder russo de hipocrisia e cinismo por sua proposta.

"Não conheço muitos ucranianos que queiram se refugiar na Rússia [...]. Nada disso é sério. É de um cinismo moral e político que me parece insuportável", disse Macron em entrevista transmitida pela emissora de televisão LCI.

Por sua vez, o representante russo nas negociações entre Moscou e Kiev acusou a Ucrânia de impedir a evacuação de civis de áreas de combate e de "usar [os civis] direta e indiretamente, até como escudos humanos, o que é claramente um crime de guerra".

Cidades sitiadas
A situação humanitária está piorando a cada dia, com muitas cidades sitiadas, nas quais os itens de primeira necessidade começam a ficar escassos e das quais a população tenta sair a todo custo. Na capital Kiev, os soldados ucranianos foram vistos se preparando para um possível ataque russo.

"A capital se prepara para se defender", disse o prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, no aplicativo Telegram. "Kiev resistirá! Vai se defender!", acrescentou.

A cidade portuária de Odessa, às margens do Mar Negro, também está cada vez mais ameaçada. Muitas famílias deixaram seus parentes mais idosos, que estão fracos demais para fugir da cidade, e a seus animais domésticos no convento Archangelo-Mikhailovsky, conforme constatou a AFP.

"Infelizmente não poderemos receber todo o mundo, e também temos problemas de dinheiro", comentou a responsável do convento de cúpulas douradas, Madre Serafina.

Em Irpin, uma pequena cidade nos arredores de Kiev parcialmente controlada pelas forças russas, um corredor humanitário não oficial foi aberto para que milhares de moradores pudessem fugir por uma ponte improvisada e por uma estrada guardada por soldados e voluntários ucranianos.

Crianças, idosos e famílias se apressavam para entrar em ônibus e vans lotadas, na esperança de sobreviver. "Estou feliz por ter conseguido, agora tudo ficará bem", disse Olga, de 48 anos, que foi retirada com seus dois cães.

Segundo o ministro da Educação, Sergii Shkarlet, 211 escolas foram atingidas pelo bombardeio. Para ajudar as crianças que estão retidas em orfanatos na Ucrânia, a escritora britânica J.K. Rowling, autora da famosa saga Harry Potter, pediu doações e prometeu igualar o valor arrecadado em até um milhão de libras (1,3 milhão de dólares; 1,2 milhão de euros).

Front diplomático e sanções
Em resposta à ofensiva, os países ocidentais impuseram sanções sem precedentes contra empresas, bancos e oligarcas russos. No plano diplomático, à margem das negociações diretas, a Turquia anunciou que os ministros das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov; ucraniano, Dmytro Kuleba e turco, Mevlut Cavusoglu, se reunirão na quinta-feira em Antalya (sul). A Ucrânia, no entanto, ainda não confirmou sua participação no encontro.

Além disso, estava prevista uma reunião por videoconferência nesta segunda-feira do presidente americano Joe Biden com o presidente francês Emmanuel Macron, o chefe do governo alemão Olaf Scholz e o primeiro-ministro britânico Boris Johnson. Ademais, os Estados Unidos admitiram que estavam considerando a possibilidade de proibir a importação de petróleo russo.

A China, por outro lado, reiterou sua amizade "sólida como uma rocha" com a Rússia, mas disse que está disposta a participar da mediação de paz "se necessário".

Por sua vez, a União Europeia iniciou a análise das solicitações de adesão ao bloco apresentadas por Ucrânia, Geórgia e Moldávia, que se consideram ameaçadas pelas pretensões territoriais da Rússia. O procedimento, no entanto, é demorado e a adesão necessita de unanimidade dos países-membros do bloco.

O agravamento do conflito e a perspectiva de novas sanções fizeram os preços do petróleo dispararem. Um barril de Brent do Mar do Norte chegou perto dos 140 dólares, quase um recorde. Em resposta às sanções internacionais, o governo russo estabeleceu uma lista de países "hostis" a Moscou, aos quais indivíduos e empresas poderão pagar suas dívidas em rublos, moeda que perdeu 45% de seu valor desde janeiro.