Donald Trump é apontado como o 'regente' do orquestrado ataque ao Capitólio em janeiro de 2021AFP
Ao contrário da primeira sessão, em que os deputados traçaram um esboço do que estava por vir, a comissão apresentou mais detalhes da investigação de quase um ano, que analisou cerca de 125 mil documentos e entrevistou mais de mil pessoas. Segundo uma das integrantes da comissão, a deputada Zoe Lofgren, democrata da Califórnia, a 'Grande Mentira foi também uma grande fraude':
"Trump e seus conselheiros sabiam que as alegações eram falsas, mas continuaram a promovê-las até o momento em que uma turba de apoiadores de Trump atacou o Capitólio", disse ela. "A campanha de Trump usou essas alegações falsas para arrecadar centenas de milhares de dólares de apoiadores a quem foi dito que suas doações seriam para a batalha jurídica, mas a campanha não usou o dinheiro para isso. A Grande Mentira foi também uma grande fraude."
Para ilustrar a narrativa, recorreram a trechos de falas do próprio presidente e a depoimentos gravados de pessoas próximas à Trump, como sua filha, Ivanka, seu genro, Jared Kushner, o ex-conselheiro Jason Miller e o ex-advogado pessoal do então presidente, Rudolph Giuliani. Segundo a comissão, Giuliani era uma das pessoas que pressionavam para que os republicanos declarassem a vitória.
Segundo Miller, que falou em um vídeo gravado, Giuliani estava 'definitivamente embriagado' quando os republicanos se reuniram para discutir o que Trump deveria dizer na noite da eleição. Além do ex-prefeito nova-iorquino, de Miller e do ex-presidente, estavam presentes o conselheiro Justin Clark, o chefe de Gabinete, Mark Meadows, e o diretor da campanha republicana, Bill Stepien.
"Houve sugestões, acredito que do prefeito Giuliani, para declarar vitória e dizer que havíamos ganhado de cara", disse Stepien, também em gravação. "Era cedo demais para fazer algo assim. Os votos ainda estavam sendo contados. Eu lembro de dizer isso", completou, afirmando que Trump "achava que eu estava errado".
Stepien seria a testemunha-chave dos procedimentos desta segunda, mas cancelou faltando uma hora para o início da sessão após sua mulher entrar em trabalho de parto. As mudanças de última hora atrapalharam os planos da comissão investigativa, que adiou o início dos procedimentos em mais de 40 minutos.
As audiências previstas para este mês são um esforço da comissão bipartidária de nove deputados — sete democratas e dois republicanos — para destrinchar os eventos que culminaram na letal invasão do Capitólio, há 17 meses. Pouco após um inflamado discurso de Trump, a sede do Congresso americano foi invadida por turbas de seus aliados durante a sessão conjunta que sacramentaria a vitória de Joe Biden.
A primeira audiência, transmitida ao vivo em horário nobre, ocorreu na quinta-feira, 9, e caracterizou o comportamento do ex-presidente como uma "tentativa de golpe de estado". Recorrendo também a trechos de depoimentos de várias das pessoas mais próximas do então presidente, os parlamentares fizeram uma apresentação do que virá à tona nas próximas audiências.
Haverá mais duas audiências nesta semana, uma na manhã de quarta, 15, e outra na quinta, 16, durante a tarde. A expectativa é que a última sessão ocorra em horário nobre, no fim do mês.
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