Brasil pede na ONU combate à desinformação para garantir missões de pazTIMOTHY A. CLARY / AFP
Em uma época em que a desinformação e as notícias falsas se tornaram uma "arma de guerra a mais", para o secretário-geral da ONU, António Guterres, a comunicação é, "mais do que nunca, central para o sucesso do nosso trabalho". "Sabemos que a desinformação não só é enganosa, é perigosa e potencialmente mortal", pois "fomenta abertamente a violência contra nosso pessoal e nossos parceiros e transforma nossa bandeira azul de um símbolo de segurança em um símbolo de ataque", disse Guterres no fórum.
Segundo um estudo recente, cerca de metade dos capacetes azuis consideram que a desinformação e as notícias falsas têm repercussões nos resultados das operações e ameaçam sua segurança. Um dos exemplos é uma carta recente transmitida pelas redes sociais no Mali, que a imprensa local se encarregou de repercutir, segundo a qual os capacetes azuis teriam colaborado com grupos armados.
Neste país, a Missão Multidimensional Integrada da ONU para a Estabilização do Mali (MINUSA) se tornou uma das mais perigosas: 177 integrantes morreram em atos hostis, quatro deles desde junho. É que o entorno no qual operam os capacetes azuis "é mais perigoso hoje do que em qualquer outra época recente" e eles enfrentam "terroristas, criminosos, grupos armados e seus aliados", que têm "acesso a armas modernas poderosas e muitos com interesse em que o caos se perpetue", lembrou Guterres.
Para o Brasil, que participou de 41 missões de paz no mundo e mobilizou cerca de 55 mil efetivos, a imagem das missões de paz não está em jogo. São "fundamentais para conter conflitos, proteger civis e reconstruir as instituições", disse o ministro.
Sem capacidade de escuta
O chefe da Missão de Estabilização na República Democrática do Congo (MONUSCO), que conta com 13 mil efetivos no país, o general brasileiro Marcos de Sá Affonso da Costa, também lembrou estudos que mostram a percepção "paupérrima" que a população tem dos resultados da missão e da animosidade que gera em algumas partes do país, o que "impede alguns dos nossos deslocamentos".
As campanhas de desinformação das milícias, assegurou, "geram mudanças fundamentais no caráter da guerra e as operações de paz já têm sido afetadas". Por isso, é preciso contrabalançar estas desinformações falando diretamente com os líderes locais, a mídia nacional e regional e os dirigentes governamentais em todos os níveis.
"Estas vozes desempenham um papel crucial para contrabalançar as críticas, explicando o objetivo, os limites do nosso mandato, e nossa política sobre os direitos humanos", prosseguiu. Após muitas idas e vindas, o Brasil conseguiu o aval dos 15 membros do Conselho de Segurança para um documento de 17 pontos no qual pede ao secretário-geral que apresente, no mais tardar em 15 de abril de 2023, uma revisão da estratégia de comunicação, que avalie a situação atual e o impacto nas comunidades locais, identifique os problemas e os desafios e proponha medidas para melhorá-los.
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