Na mira do FBI, Trump, que já responde acusação por "coordenar" a invasão ao Capitólio, é suspeito de retirar documentos sigilosos da Casa BrancaAFP

A Casa Branca garantiu, nesta terça-feira (9), que não foi avisada da ação do FBI na mansão de Donald Trump em Mar-a-Lago, na Flórida, que causou um terremoto político nos EUA. A busca foi celebrada pelos democratas, que há muito tempo exigem uma investigação do ex-presidente, e criticada pelos republicanos, que acusam o Departamento de Justiça dos EUA de abuso de poder. 
Este não é o primeiro problema de Trump com a Justiça. Além das caixas de documentos que sumiram, ele é alvo do comitê legislativo que investiga os ataques de 6 de janeiro de 2020, quando uma multidão induzida por ele invadiu o Congresso. Ele pode ser indiciado por obstrução da contagem de votos e conspiração para cometer fraudar eleitoral.
O ex-presidente também enfrenta um processo por interferir na eleição presidencial na Georgia, onde ele foi derrotado pelo democrata Joe Biden por apenas 11.799 votos. Em uma ligação gravada, ele pressionou as autoridades estaduais a mudar o resultado. "Eu preciso só de 11.800 votos", disse Trump ao secretário de Estado, Brad Raffensperger.
FRAUDE
Alguns especialistas, no entanto, acreditam que as acusações de fraude fiscal e bancária em Nova York são a maior ameaça. O promotor Cyrus Vance passou dois anos analisando as finanças de Trump em busca de crimes, como aumento artificial de seus ativos para obter empréstimos.
Os casos são diferentes, mas a justificativa do ex-presidente é a mesma: perseguição política. A notícia da busca do FBI foi divulgada por ele mesmo em suas redes sociais. Por isso, segundo pessoas próximas, em vez de preocupado, ele estaria aproveitando o momento. Michael D’Antonio, biógrafo de Trump, disse à CNN que o republicano deve estar "se deliciando" com o caso.
"Ele é especialista em autopromoção. Pare ele, qualquer publicidade é boa. E o seu grupo de apoiadores radicais, cerca de 35% do eleitorado, será estimulado por isso", afirmou.
A tentativa de obter dividendos políticos se refletiu na reação de outros republicanos, que vão ter o futuro decidido nas urnas, nas eleições legislativas de novembro. Eles criticaram a operação do FBI e acusaram o Departamento de Justiça de abuso de poder.
Preocupada com a repercussão, a Casa Branca disse ontem que não sabia de nada. "Ninguém no governo foi avisado", garantiu a porta-voz de Biden, Karine Jean-Pierre. "O presidente confia na autonomia do Departamento de Justiça", completou.
PODER
O imbróglio está agora nas mãos de Merrick Garland, secretário de Justiça, que tem o poder de indiciar ou não o ex-presidente. Considerado um moderado, Garland vem prometendo, desde que assumiu o cargo, agir de acordo com a lei, sem se importar com a pressão política.
Amigos e ex-assessores descrevem Garland como um promotor extremamente cuidadoso, que jamais autorizaria um mandado de busca na casa de Trump se não tivesse segurança de que a operação lhe renderia provas. Muitos republicanos moderados, no entanto, prenderam a respiração.
No momento em que Trump perde influência no partido, não consegue mais arrecadar tanto dinheiro e vem sendo esnobado pela Fox News, a emissora favorita dos conservadores americanos, o temor é o de que a blitz do FBI possa ter ressuscitado as credenciais políticas do ex-presidente.