O governo da Ucrânia acusa a Rússia de usar a usina como depósito de munição e de ter enviado centenas de soldados ao complexoAFP
Ucrânia confirma bombardeio em base russa perto da usina de Zaporizhzhia
Ataque coincide com uma visita de inspetores da ONU ao complexo para evitar o risco de um desastre
Energodar - A Ucrânia anunciou nesta sexta-feira, 2, que bombardeou posições militares russas na cidade de Energodar, perto da usina nuclear de Zaporizhzhia. O ataque coincide com uma visita de inspetores da Organização das Nações Unidas (ONU) ao complexo para evitar o risco de um desastre.
No fronte econômico, a Rússia anunciou a prorrogação por tempo indeterminado do fechamento de um gasoduto que abastece a União Europeia (UE), aliada da Ucrânia, devido a um problema em uma turbina, o que alimenta temores com a aproximação do inverno europeu.
"Nossas tropas realizaram ataques precisos nas cidades de Kherson e Energodar, destruindo três sistemas de artilharia inimigos, bem como um arsenal de munição", informou o exército ucraniano.
Na usina de Zaporizhzhia, tomada pelos russos desde março, uma delegação da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) continuou sua missão na sexta-feira, iniciada no dia anterior.
Nas últimas semanas, a região foi alvo de bombardeios, que russos e ucranianos acusam-se mutuamente de estar por trás, despertando temores de um desastre nuclear.
"É evidente que [...] a integridade física da usina foi violada em várias ocasiões", disse na quinta-feira o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, que participou do primeiro dia de inspeções.
"Faltam elementos de avaliação", mas "isso não pode acontecer novamente", acrescentou.
Vários membros da missão, inicialmente composta por 14 especialistas, permanecerão "até domingo ou segunda-feira para continuar a avaliação", disse Grossi, que espera estabelecer uma missão permanente na usina da agência da ONU.
De volta a Viena, sede da AIEA, Grossi anunciou que dois inspetores permanecerão na central até o fim da guerra. "A diferença entre estar lá e não estar é como do dia para a noite", afirmou.
O diplomata também enfatizou que um dos principais "pontos de preocupação" são as condições de trabalho, já que os funcionários ucranianos trabalham sob supervisão russa. No entanto, "a central segue funcionando e há um modus vivendi profissional" no local.
A Ucrânia acusa a Rússia de usar a usina como depósito de munição e de ter enviado centenas de soldados para o complexo. Mas, nesta sexta-feira, Kiev afirmou que a Rússia retirou "todo seu equipamento militar da usina" antes da chegada dos inspetores.
A estatal russa Gazprom anunciou que o gasoduto Nord Stream, vital para o abastecimento da Europa, ficará com as torneiras fechadas até data indeterminada, devido a um problema em uma turbina.
O gasoduto, que transporta o fluido para a Alemanha, tinha previsto reabrir neste fim de semana após três dias de suspensão no fornecimento devido a "trabalhos de manutenção".
Desde o início da guerra, depois que os ocidentais e seus aliados impuseram várias ondas de sanções contra a economia russa, Moscou reduziu significativamente seu fornecimento de gás aos países europeus.
O anúncio desta suspensão corre o risco de acentuar os temores de uma escassez de gás no próximo inverno europeu.
"A situação do mercado de gás está tensa, mas a segurança do abastecimento está garantida", afirmou uma porta-voz do Ministério da Economia alemão.
A Alemanha já testemunhou "a falta de confiabilidade da Rússia nas últimas semanas", acrescentou.
As potências econômicas do G7 anunciaram que tentarão impor um teto ao preço do petróleo russo, que é uma importante fonte de renda para Moscou.
Uma medida que, segundo a Rússia, pode desestabilizar os mercados e afetar os consumidores. Na frente de combate, as tropas ucranianas continuam sua contraofensiva lançada esta semana na área de Kherson (sul), a única grande cidade conquistada pelos russos em seis meses de guerra.
A presidência ucraniana indicou que "grandes combates" ocorrem em duas áreas próximas à cidade. Na região de Donetsk (leste), quatro pessoas foram mortas e dez ficaram feridas em vários bombardeios e outra pessoa foi morta em uma cidade perto de Kharkiv (nordeste).
Apesar do conflito, o ano letivo começou na Ucrânia na quinta-feira, embora em várias regiões as aulas tiveram que ser virtuais devido aos combates.
"Estou feliz de voltar às aulas, mas estaria mais feliz se não houvesse guerra, porque tenho saudade da minha professora e dos meus amigos", declarou à AFP Antonina Sidorenko, de 9 anos.