Médicos o desaconselharam de viajar para a Ucrânia ou Moscou enquanto se recupera dos problemas no joelhoReprodução/AFP

O Papa Francisco iniciou uma viagem de três dias ao Cazaquistão nesta terça-feira, 13, mesmo desaconselhado pelos médicos a viajar para a Ucrânia num futuro imediato. O pontífice foi até o país da Ásia Central para enviar uma mensagem de paz à tensa região.
Francisco, que precisa usar uma cadeira de rodas devido a dores no joelho e admitiu que precisa desacelerar ou considerar uma retirada, vai participar de uma cúpula interreligiosa em Nur-Sultan, capital do Cazaquistão.
Ele decolou do aeroporto Fiumicino de Roma às 7h35 (2h35 de Brasília) em um avião da ITA Airways.
O papa de 85 anos disse, neste domingo, 11, que a 38ª viagem desde sua eleição em 2013 seria "uma oportunidade" para ter "um diálogo de irmãos, animados pelo desejo comum de paz, uma paz pela qual nosso mundo anseia".
Inicialmente, era esperada a presença do patriarca Kirill da Igreja Ortodoxa Russa, próximo ao presidente Vladimir Putin, mas o religioso russo cancelou sua participação na cúpula sem dar motivos, varrendo as esperanças de Francisco de falar sobre a guerra na Ucrânia.
As opiniões de ambos os líderes religiosos colidem nesta questão: o papa pediu paz e denuncia "uma guerra cruel e sem sentido", enquanto Kirill defende a "operação militar" e a luta contra "inimigos internos e externos" da Rússia.
Cem delegações de cerca de 50 países participarão nos dias 14 e 15 de setembro deste evento no Cazaquistão, ex-república soviética que se tornou independente em 1991.
"Diálogo, reaproximação, busca de paz entre diferentes religiões e mundos culturais estão no centro desta jornada", disse o porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, nesta segunda-feira, 11.
O papa deve desembarcar por volta das 18h00 locais (9h00 de Brasília) em Nur-Sultan, onde irá ao palácio presidencial e fará um primeiro discurso às autoridades e funcionários diplomáticos.
Antes, o pontífice será recebido pelo presidente Kassym Khomart Tokayev. O líder de 69 anos é um aliado da Rússia, mas a invasão da Ucrânia em fevereiro prejudicou seu relacionamento.
Tokayev evitou endossar a invasão e teme um renascimento das ambições imperiais de Moscou no norte do Cazaquistão, onde há uma grande comunidade russa.
Localizado ao sul da Rússia, o Cazaquistão faz fronteira com outras ex-repúblicas soviéticas, bem como com a China e o Mar Cáspio.
Nesta quarta-feira, 14, Francisco liderará a abertura da sessão plenária do Congresso de Líderes das Religiões Mundiais e Tradicionais e oficiará uma missa à tarde.
Já na quinta-feira, 15, ele encerrará sua visita com um encontro com líderes católicos.
O presidente chinês, Xi Jinping, estará neste país da Ásia Central ao mesmo tempo que Francisco, mas nenhuma reunião é esperada, apesar das esperanças do Vaticano de renovar um acordo histórico para nomear seus bispos no gigante asiático.
Rico em recursos energéticos, o Cazaquistão tem 19 milhões de habitantes, dos quais 70% são muçulmanos sunitas e 25% são cristãos, principalmente ortodoxos russos. Apenas 1% é católico.
Tokayev iniciou uma série de reformas após sua eleição em 2019, mas o país foi abalado por protestos contra os altos preços dos combustíveis no início do ano, que deixaram 200 mortos e destruíram sua imagem de estabilidade.
Francisco é o segundo papa a visitar o Cazaquistão. João Paulo II visitou o país em setembro de 2001.
Na última semana, o papa argentino disse que os médicos o desaconselharam de viajar para a Ucrânia ou Moscou enquanto se recupera dos problemas no joelho que o forçaram a cancelar vários compromissos do Vaticano.