Autoridades iranianas afirmam que a jovem morreu por causas naturais, mas ativistas e o Alto Comissariado de Direitos Humanos contrariam a versãoReprodução/Internet

Pelo menos 35 pessoas morreram nas manifestações iniciadas há mais de uma semana no Irã, após a morte de uma jovem detida pela polícia moral por usar o véu de forma "inapropriada", conforme balanço oficial divulgado neste sábado (24).
Os manifestantes tomaram as ruas das principais cidades do Irã, incluindo a capital, Teerã, por oito noites consecutivas desde a morte de Mahsa Amini, de 22 anos. A jovem curda foi declarada morta depois de passar três dias em coma.
"O número de pessoas que morreram nos recentes distúrbios no país subiu para 35", informou a imprensa estatal, elevando o número oficial anterior de pelo menos 17 mortos, incluindo cinco membros das forças de segurança.
Na província de Guilán (nordeste), o chefe da polícia anunciou hoje "a prisão de 739 manifestantes, incluindo 60 mulheres", apenas nesta região, desde o início dos protestos, segundo a agência de notícias iraniana Tasnim.
Na sexta-feira (23), novos protestos aconteream em todo país. Os vídeos que circulavam na Internet mostraram confrontos em Teerã e em outras grandes cidades, como Tabriz. Em algumas imagens, viam-se agentes das forças de segurança nas cidades de Piranshahr, Mahabad e Urmia atirando, com o que parecia ser munição real, contra manifestantes desarmados.
Em um vídeo compartilhado pela ONG Iran Human Rights, com sede na Noruega, um membro uniformizado das forças de segurança dispara com um fuzil de assalto AK-47 contra manifestantes no Ferdowsi Boulevard, em Teerã.
Segundo a organização, outras imagens mostram o "fluxo de forças de segurança do Estado (...) em uma rodovia em Teerã", na noite de sexta-feira.
Também houve uma onda de prisões de ativistas e de jornalistas, incluindo Niloufar Hamedi, do jornal reformista Shargh, que noticiou a morte de Amini. Desde segunda-feira, pelo menos 11 jornalistas teriam sido detidos, conforme a organização Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ).
De acordo com o grupo de direitos curdos Hengaw, com sede na Noruega, os manifestantes "tomaram o controle" de partes da cidade de Oshnavih, na província do Azerbaijão Ocidental.
O Poder Judiciário iraniano reconheceu que os manifestantes "atacaram três bases de Basij", uma milícia islâmica que trabalha sob as ordens do Estado, em Oshnaviyeh, mas negou que as forças de segurança tenham perdido o controle da cidade.
O presidente iraniano, o ultraconservador Ebrahim Raisi, afirmou que era preciso lidar "com firmeza" com aqueles por trás da violência, em um telefonema, neste sábado, com a família de um membro dos Basij assassinado na cidade de Mashhad.
Esta declaração foi dada pouco depois de a Anistia Internacional alertar para "o risco de um derramamento de sangue ainda maior" facilitado por "um apagão deliberado da Internet", em uma tentativa de dificultar a concentração de manifestantes e evitar que as imagens da repressão cheguem ao exterior.
Esta ONG com sede em Londres afirmou ainda que as evidências coletadas em 20 cidades no Irã indicam "um padrão terrível das forças de segurança iranianas, atirando, deliberada e ilegalmente, com munição real contra manifestantes".
Em paralelo, milhares de pessoas saíram às ruas de Teerã na sexta-feira em uma manifestação a favor do hijab, em homenagem às forças de segurança que tentam sufocar o que a imprensa oficial chama de "conspiradores". Também houve manifestações de apoio às forças de segurança em cidades como Ahvaz, Isfahan, Qom e Tabriz.
Amini morreu após ser detida pela polícia moral iraniana, encarregada de aplicar e fazer cumprir o rígido código de vestimenta das mulheres no país. Segundo as ONGs, ela recebeu um golpe na cabeça enquanto estava presa. A informação ainda não foi confirmada pelas autoridades, que abriram uma investigação a esse respeito.
Alguns manifestantes tiraram seu hijab em sinal de desafio e o queimaram, ou cortaram simbolicamente o cabelo, em meio à ovação da multidão, de acordo com imagens publicadas nas redes sociais.
Na sexta-feira, o ministro iraniano do Interior, Ahmad Vahidi, insistiu em que Amini não havia sido agredida.
"Relatórios foram recebidos de agências de supervisão, testemunhas foram entrevistadas, vídeos foram revisados, opiniões forenses foram obtidas e se comprovou que não houve qualquer agressão", declarou Vahidi.
A Anistia Internacional rejeita, no entanto, a investigação oficial e pede ao mundo que tome "medidas significativas" contra a repressão "sangrenta".