Dmytro Kuleba, ministro das Relações Exteriores da UcrâniaBryan R. Smith/AFP
Ucrânia pede mais armas à Otan e União Europeia
Solicitação responde à anexação de regiões ocupadas pela Rússia; Ministério das Relações Exteriores quer 'tanques, aviões de combate, veículos armados'
A Ucrânia solicitou à Otan e União Europeia um aumento da ajuda militar nesta quarta-feira, 28, e novas sanções contra a Rússia. O pedido foi feito depois que as autoridades pró-Moscou declararam vitória nos referendos controversos de anexação de quatro regiões ucranianas ocupadas. A solicitação de mais armas foi anunciada apesar das advertências reiteradas da Rússia de que poderia utilizar seu arsenal nuclear para proteger estes territórios.
As autoridades designadas por Moscou nas quatro regiões - Kherson e Zaporizhzhia no sul, Donetsk e Luhansk no leste - anunciaram os resultados na noite desta terça-feira, 27, e um dia depois iniciaram os trâmites de anexação. Já os aliados de Kiev na Otan e na UE consideraram as votações ilegais e anunciaram que não reconhecerão os resultados. Até a China, supostamente próxima de Moscou, defendeu o respeito à "integridade territorial de todos os países".
O governo ucraniano fez um apelo aos aliados para que transformem as críticas em fatos concretos. "A Ucrânia pede à UE, Otan e ao G7 que aumentem a pressão sobre a Rússia de maneira imediata e significativa, incluindo a imposição de novas sanções duras, assim como um aumento significativo da ajuda militar à Ucrânia", afirmou o ministério das Relações Exteriores em um comunicado. A pasta mencionou em particular "tanques, aviões de combate, veículos armados, artilharia de longo alcance, material antiaéreo e equipamento de defesa antimísseis".
Os líderes pró-Rússia das regiões de Luhansk e Kherson, Leonid Pasechnik e Vladimir Saldo, divulgaram nesta quarta-feira que solicitaram ao presidente Vladimir Putin a anexação à Rússia. "Caro Vladimir Vladimirovich (...) pedimos que examine a questão da adesão da República Popular de Luhansk à Rússia como um assunto da Federação da Rússia", declarou Pasechnik em um texto publicado no Telegram.
Os referendos representam um ponto de inflexão na guerra após a contraofensiva de sucesso da Ucrânia nas últimas semanas, que levou Putin a anunciar uma mobilização parcial de reservistas. Juntas, as quatro regiões constituem um importante corredor terrestre entre a Rússia e a península da Crimeia, que Moscou anexou em 2014 em um processo similar ao atual.
Incluindo esta península, a Rússia controlaria quase 20% de toda a Ucrânia, cujas tropas recuperaram importantes faixas territoriais, em particular no nordeste. Nesta região, as tropas russas executaram um ataque com mísseis durante a noite contra Kharkiv, segunda maior cidade ucraniana, que deixou mais de 18.000 casas sem energia elétrica.
Um pátio de manobras ferroviário foi atingido pelo ataque e bombeiros tentavam apagar o incêndio. "Estas votações não são legítimas. Acreditamos em nossas forças. No final, venceremos", declarou Denis Kochkov, funcionário do departamento ferroviário de 30 anos.
"Aqui também falamos russo. E o que recebemos? Temos paz e fraternidade? Não. Olha o que recebemos", protestou Irina, 51 anos, outra funcionária da instalação. Os deputados russos devem votar rapidamente sobre a incorporação dos territórios e, segundo as agências de notícias do país, Vladimir Putin pode assinar as leis de anexação neste fim de semana.
A ameaça do presidente russo de usar armas nucleares para proteger os territórios coincidiu com sua decisão de convocar centenas de milhares de reservistas para reforçar as tropas russas no leste da Ucrânia. A decisão provocou medo, protestos e um êxodo de homens em idade de prestar serviço militar para países vizinhos como Geórgia e Cazaquistão.
Em uma unidade militar de São Petersburgo, os sentimentos predominantes eram confusão e resignação, enquanto os novos recrutas e suas famílias observavam seus nomes nas listas. Nikita, um recruta de 25 anos, se despediu com lágrimas da noiva de 22 anos. "Se você tem que ir, você tem que ir", disse com resignação. Já a noiva Alina, respondeu: "Não sei o que dizer. Estou em choque".
Na frente de batalha, os confrontos não dão trégua. Ataques russos deixaram seis feridos na região de Kharkiv, informaram as autoridades locais. Na área Donetsk sob controle ucraniano, cinco civis morreram e 10 ficaram feridos nesta terça-feira.