Valdimir PutinReprodução/AFP

Os quatro referendos em territórios ucranianos ocupados pela Rússia terminaram na terça, 27, sem surpresas. Os resultados devem ser oficializados nesta quarta-feira, 28, mas ninguém acredita em alguma coisa diferente da anexação das regiões. Assim, até sexta-feira, 30, espera-se que Moscou anuncie oficialmente a incorporação das regiões de Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzia — cerca de 15% do território da Ucrânia.

O presidente russo, Vladimir Putin, agradeceu na terça a participação das regiões na votação, e disse que a Rússia quer "salvar essas populações". Ele fará um discurso no Parlamento russo na sexta, quando provavelmente anunciará as anexações, segundo um relatório de inteligência do governo britânico.

Com o anúncio das anexações, aumentaram os rumores de que Putin poderia declarar uma lei marcial, fechando as fronteiras e impedindo a fuga da convocação de 300 mil recrutas decretada por ele na semana passada — e vem provocando um êxodo de jovens em idade militar.

Reconhecimento

Os referendos foram criticados por Ucrânia e Ocidente, que não reconhecerão as anexações. Os países do G-7 também prometeram nunca reconhecer os resultados. Os EUA citaram uma resposta "rápida e severa" por meio de sanções econômicas adicionais às anexações. A China, aliada importante da Rússia, não criticou abertamente os referendos, mas pediu o respeito à "integridade territorial de todos os países".

O que pode complicar as reivindicações de Putin é o fato de a Rússia não controlar totalmente nenhuma das quatro regiões. Mesmo assim, autoridades russas nas áreas ocupadas se comprometeram a oferecer passaportes, pagar assistência social, remédios gratuitos e contas de telefone mais baratas.

Na prática, Moscou passaria a considerar as quatro regiões como parte de seu próprio território, tornando uma agressão ucraniana a essas áreas um ataque à Rússia, o que abriria as portas para uma resposta mais violenta — que poderia incluir o uso de armas nucleares.

"A situação legal mudará radicalmente do ponto vista do direito internacional e isto também terá consequências sobre a segurança nestes territórios", admitiu o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

Os ucranianos temem que uma consequência da anexação seja o recrutamento forçado para o Exército russo contra seu próprio país. Em partes de Luhansk e Donetsk, regiões ocupadas pela Rússia desde 2014, isso já acontece.
Ucrânia pede ajuda militar

A Ucrânia solicitou à Otan e União Europeia um aumento da ajuda militar nesta quarta, e novas sanções contra a Rússia. O pedido foi feito depois que as autoridades pró-Moscou declararam vitória nos referendos controversos de anexação de quatro regiões ucranianas ocupadas. A solicitação de mais armas foi anunciada apesar das advertências reiteradas da Rússia de que poderia utilizar seu arsenal nuclear para proteger estes territórios.

O governo ucraniano fez um apelo aos aliados para que transformem as críticas em fatos concretos. "A Ucrânia pede à UE, Otan e ao G7 que aumentem a pressão sobre a Rússia de maneira imediata e significativa, incluindo a imposição de novas sanções duras, assim como um aumento significativo da ajuda militar à Ucrânia", afirmou o ministério das Relações Exteriores em um comunicado. A pasta mencionou em particular "tanques, aviões de combate, veículos armados, artilharia de longo alcance, material antiaéreo e equipamento de defesa antimísseis".
Vazamentos no Gasoduto

Autoridades de países escandinavos informaram na terça-feira que foram identificados dois vazamentos no gasoduto Nord Stream 1, no Mar Báltico, um na zona econômica da Dinamarca, e outro na Suécia, horas após uma queda de pressão.

Explosões submarinas foram registradas antes que os vazamentos fossem detectados, de acordo com Bjorn Lund, especialista em sismologia da Universidade de Uppsala, na Suécia. Ele atribuiu o fato a possíveis detonações.

A Rússia disse ontem que estava "extremamente preocupada" com os vazamentos" e não descartava a hipótese de sabotagem. Já o governo da Ucrânia declarou que as explosões foram deliberadas, um "ataque terrorista" planejado por Moscou contra a União Europeia.