Na terça-feira, 4, um outro míssil foi disparado pelos norte-coreanos e sobrevoou o Mar do JapãoAFP

A Coreia do Norte disparou nesta quinta-feira, 6, dois novos mísseis balísticos e afirmou que a série de testes armamentistas dos últimos dias é uma "medida de represália" pelos exercícios militares conjuntos dos Estados Unidos e da Coreia do Sul.
O comunicado do ministério das Relações Exteriores foi divulgado paralelamente a uma reunião do Conselho de Segurança da ONU para discutir o lançamento de um míssil de médio alcance que sobrevoou o território do Japão na terça-feira, 4.
O ministério afirma em sua nota que os disparos são "simplesmente medidas de represália do Exército Popular Coreano às manobras conjuntas da Coreia do Sul e dos Estados Unidos, que aumentam a tensão militar na península da Coreia".
Em menos de duas semanas, o isolado regime de Kim Jong Un disparou seis projéteis. O lançamento do míssil na terça-feira, que provocou ordens de evacuação em algumas regiões do Japão, também estabeleceu um recorde de distância na história do arsenal norte-coreano.
Estados Unidos e Coreia do Sul realizaram nesta quinta-feira um "exercício de defesa de mísseis" em águas próximas da península coreana, com a participação de um destróier do grupo de ataque do porta-aviões americano USS Ronald Reagan, informaram as Forças Armadas de Seul.
Com a manobra, os países "esperam fortalecer ainda mais a capacidade operacional para responder às provocações balísticas norte-coreanas", acrescentaram os militares sul-coreanos. Na manhã desta quinta-feira, no horário local, o exército sul-coreano informou que detectou dois mísseis balísticos de curto alcance disparados a partir da região de Pyongyang em direção ao Mar do Leste, também conhecido como Mar do Japão.
"Nosso exército reforçou o monitoramento e a vigilância e mantém a máxima prontidão em coordenação com os Estados Unidos", afirmou o Estado-Maior Conjunto de Seul em um comunicado.
O primeiro míssil percorreu 350 quilômetros e atingiu uma altura máxima de 80 quilômetros, enquanto o segundo percorreu 800 quilômetros de distância a 60 km de altitude.
A Guarda Costeira do Japão confirmou a detecção de dois possíveis mísseis balísticos e o primeiro-ministro do país, Fumio Kishida, declarou que a série recente de disparos é "inaceitável".
"Os repetidos lançamentos de mísseis da Coreia do Norte não podem ser tolerados"< afirmou o ministro japonês da Defesa, Yasukazu Hamada. "Não podemos ignorar a melhoria significativa de sua tecnologia de mísseis", alertou.
Durante a tarde, o presidente sul-coreano, Yoon Suk-yeol, conversou por telefone com Fumio Kishida e os dois concordaram que é necessário deter as "provocações insensatas" de Pyongyang. Os dois governantes também afirmaram que é preciso "enviar uma mensagem à Coreia do Norte de que as provocações têm consequências", afirmou a presidência sul-coreana. Analistas e autoridades ocidentais afirmam que o míssil de terça-feira foi um Hwasong-12 que provavelmente percorreu a maior distância já registrada por um projétil norte-coreano.
O governo dos Estados Unidos convocou uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, na qual a China, aliada da Coreia do Norte, culpou Washington por provocar os testes militares de Pyongyang.
O vice-embaixador da China na ONU, Geng Shuang, afirmou que os lançamentos recentes estão"estreitamente vinculados" com os exercícios militares realizados na região pelos Estados Unidos e seus aliados. Geng acusou a Washington de "envenenar o ambiente da segurança regional".
Nas últimas semanas, Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão intensificaram os exercícios militares conjuntos, incluindo manobras navais em larga escala.
Pyongyang criticou a decisão americana de enviar seu porta-aviões de propulsão nuclear USS Ronald Reagan à península coreana pela segunda vez em menos de um mês. "A RPDC (sigla oficial do país) vê que os Estados Unidos representam uma séria ameaça à estabilidade na península da Coreia e em seus arredores ao mobilizar novamente o porta-aviões", afirma o comunicado do ministério norte-coreano.
O país liderado por Kim Jong Un realizou neste ano um número recorde de testes de armas e revisou recentemente suas leis para declarar seu status de potência nuclear "irreversível". Esta mudança acaba na prática com qualquer possibilidade de negociar o fim do programa nuclear do país, objeto de sanções da ONU.
A embaixadora americana na ONU, Linda Thomas-Greenfield, pediu o reforço das sanções contra a Coreia do Norte, algo que China e Rússia vetaram em maio.
O Conselho de Segurança está dividido há meses sobre como responder às ações de Pyongyang. Rússia e China apoiam o o regime, enquanto os demais integrantes desejam uma punição maior.
Analistas dizem que a Coreia do Norte aproveita o bloqueio para testar armas mais avançadas, enquanto Washington e Seul alertam que o regime está preparando um novo teste nuclear, o primeiro desde 2017.