O trio dividirá o prêmio de aproximadamente R$ 4.692 milhões pelo Nobel de Química AFP
Dupla americana e dinamarquês dividem o Prêmio Nobel de Química
Carolyn Bertozzi é a única mulher entre os sete vencedores nas três categorias já anunciadas do Nobel em 2022
Estocolmo - O Prêmio Nobel de Química de 2022 foi confirmado nesta quarta-feira, 5, para o dinamarquês Morten Meldal e para os americanos Barry Sharpless e Carolyn Bertozz pelo estabelecimento das bases para uma forma mais funcional da disciplina científica. O trio foi reconhecido pelo "desenvolvimento da química 'click' e da química bio-ortogonal", anunciou o júri em sua decisão.
Bertozzi é a única mulher entre os sete vencedores nas três categorias já anunciadas do Nobel em 2022 e a oitava a receber o prêmio de Química, entre um total de 189 laureados.
"Estou feliz por aumentar um pouco este número. Compreendo a gravidade do assunto, já que por toda a minha vida fui uma pessoa sub-representada na ciência", declarou a ganhadora à AFP.
As mulheres são historicamente sub-representadas na premiação do Nobel, em particular nas categorias científicas. Sharpless, de 81 anos, venceu o Nobel de Química pela segunda vez, depois de ser premiado em 2001.
Apenas outras quatro pessoas receberam duas vezes o Nobel: a francesa de origem polonesa Marie Curie (Física em 1903 e Química em 1911), o americano Linus Pauling (Química em 1954 e Paz em 1962), seu compatriota John Bardeen (Física em 1956 e 1972) e o britânico Frederick Sanger (Química em 1958 e 1980).
Sharpless, que mora e trabalha na Califórnia, e Meldal, 58 anos e professor da Universidade de Copenhague, foram reconhecidos por seus trabalhos pioneiros com a química 'click', uma nova forma de combinação de moléculas.
A química 'click' "é uma reação química elegante e eficiente que atualmente é amplamente utilizada", destacou o júri. "Entre muitos usos é empregada no desenvolvimento de produtos farmacêuticos, mapeamento de DNA e criação de novos materiais.
Meldal disse que ficou "muito surpreso e muito orgulhoso" por receber o Nobel. "Há tantas descobertas boas e desenvolvimentos no mundo. É incrível estar nesta situação", declarou Meldal à rádio pública sueca.
A americana Bertozzi, professora de Stanford, de 55 anos, foi premiada pelo desenvolvimento da química bio-ortogonal, uma reação química que é descrita como capaz de iniciar-se em um organismo vivo, mas sem perturbar ou modificar sua natureza química.
"Podemos pegar dois Legos e fazer com que se encaixem, mesmo que estejam cercados por milhões de peças de brinquedo parecidas. E não vão se encaixar com os outros", explicou a premiada, que desenvolveu a técnica a partir dos anos 1990, em entrevista à AFP.
"Carolyn Bertozzi levou a Química a um novo nível", destacou o júri.
As descobertas abriram o caminho para melhorar a eficácia dos tratamentos contra o câncer. "O prêmio de Química deste ano é sobre coisas que não são muito complicadas, mas utilizam o que é fácil e simples", disse Johan Aqvist, membro do Comitê Nobel de Química.
"É possível construir moléculas eficazes seguindo uma rota óbvia", disse, em referência à química 'click' e à química bio-ortogonal.
"Estamos vendo apenas a ponta do iceberg, mas o que eles estão fazendo na Química vai mudar o mundo", declarou à AFP Angela Wilson, presidente da Sociedade Americana de Química.
"É possível observar como um conjunto de Lego. A Química do 'click' é como unir duas peças de Lego", acrescentou.
"As empresas emergentes estão começando a utilizar estas tecnologias, mas ainda estamos nas primeiras fases de seu uso. Acredito que vai revolucionar tudo, da Medicina até os materiais".
O trio dividirá a quantia de 10 milhões de coroas suecas, cerca de R$ 4.692 milhões, e receberá o prêmio das mãos do rei Carl XVI Gustaf em uma cerimônia em Estocolmo em 10 de dezembro, aniversário da morte em 1896 do cientista Alfred Nobel, que criou a premiação em seu testamento.
A Academia Sueca concedeu o Nobel de Química no ano passado ao alemão Benjamin List e ao britânico-americano David MacMillan pelo pelo desenvolvimento da "organocatálise assimétrica", uma nova ferramenta de construção de moléculas que tornou a Química mais "verde" e melhorou a pesquisa farmacêutica.