Otan pede a Rússia que não use 'bomba suja' como pretexto para escalada na UcrâniaAFP

A Rússia não deve intensificar o conflito na Ucrânia com afirmações falsas de que Kiev planeja detonar uma "bomba suja" em seu próprio território, advertiu, nesta segunda-feira (24), o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg.
Desde domingo (23), Moscou acusa a Ucrânia de querer detonar uma bomba radioativa em seu próprio país. Kiev e seus aliados ocidentais rechaçam essas alegações e temem que a Rússia queira preparar uma escalada militar sob esse pretexto.
"Os aliados da Otan rechaçam esta acusação. A Rússia não deve utilizar isso como um pretexto para uma escalada" do conflito na Ucrânia, afirmou Stoltenberg em um tuíte, após conversar com o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, e o ministro da Defesa do Reino Unido, Ben Wallace.
Segundo o Kremlin, a Ucrânia já estaria na "fase final" de fabricação desta bomba convencional, envolta em material radioativo que é espalhado durante a explosão.
"Segundo as informações das quais dispomos, duas organizações ucranianas têm instruções específicas para criar a chamada 'bomba suja'", reiterou, nesta segunda-feira, o tenente-general Igor Kirillov em comunicado.
Contudo, um funcionário do alto escalão militar americano garantiu que Washington não tinha indícios de que a Rússia havia decidido usar armas nucleares, químicas ou biológicas na Ucrânia.
"Os ucranianos não estão construindo uma bomba suja, nem temos indícios de que os russos tenham tomado a decisão de usar armas nucleares, químicas, biológicas", disse o funcionário, que pediu anonimato.
Missão da AIEA
O chefe do Estado-Maior das forças armadas russas, Valeri Gerasimov, reiterou hoje as acusações sobre a suposta "bomba suja" em uma conversa telefônica com seu homólogo americano, segundo o Ministério da Defesa da Rússia.
No domingo, o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, conversou com os titulares de Defesa de diversos países da Otan para manifestar-lhes sua preocupação de que a Ucrânia planejava utilizar uma "bomba suja".
Em seguida, Estados Unidos, Reino Unido e França emitiram uma declaração conjunta para rechaçar a versão "claramente falsa" da Rússia.
O ministro de Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, insistiu em que as acusações eram "absurdas" e "perigosas". Por sua vez, o presidente Volodimir Zelensky pediu a seus aliados ocidentais que respondessem da maneira "mais dura possível".
Nesta segunda, Kuleba disse que Rafael Grossi, o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), aceitou um convite para mandar especialistas às instalações ucranianas, onde a Rússia "afirma falsamente" que está sendo desenvolvida uma "bomba suja".
"Ao contrário da Rússia, a Ucrânia sempre foi e continua sendo transparente. Não temos nada a esconder", insistiu Kuleba.
Localidades recuperadas
As acusações reiteradas pela Rússia, nesta segunda-feira, acontecem no momento em que as forças de Moscou sofrem reveses na Ucrânia.
O exército ucraniano anunciou, nesta segunda-feira, que conseguiu expulsar as forças russas de diversos povoados no nordeste do país, onde a contraofensiva lançada por Kiev em setembro já lhes permitiu recuperar milhares de km².
"Graças a operações bem-sucedidas, nossas tropas empurraram o inimigo para fora das localidades de Karmazynivka, Myasozharivka e Nevske, na província de Luhansk, e de Novosadove em Donetsk", afirmou o exército em nota.
Moscou também enfrenta outra contraofensiva de Kiev na província de Kherson, no sul do país, um dos quatro territórios ucranianos que a capital russa anunciou que anexaria em setembro. Nesta segunda, a Ucrânia anunciou a reconquista de 90 localidades nessa região.
Nas últimas semanas, a Rússia intensificou seus ataques contra a Ucrânia, em especial contra suas instalações de geração de energia, em uma aparente represália à explosão que danificou a ponte sobre o estreito de Kerch, que liga o território continental russo à península anexada da Crimeia.
Em Kiev, os bombardeios foram realizados com drones de fabricação iraniana, segundo a Ucrânia. Nesse sentido, Zelensky garantiu que a Rússia havia encomendado "cerca de 2.000 drones" iranianos para sua campanha de bombardeios.
O líder ucraniano também criticou a neutralidade que Israel mantém desde o início da invasão russa, o que permitiu, segundo ele, uma "aliança" entre Moscou e Teerã.
"Esta aliança não existiria se seus políticos tivessem tomado uma decisão naquele momento. A decisão que havíamos pedido", declarou Zelensky durante entrevista organizada pelo jornal israelense Haaretz.