Sede do Twitter em São Francisco, na CalifórniaConstanza Hevia / AFP

O novo proprietário do Twitter, Elon Musk, prometeu que a plataforma não se transformará em um "inferno de todos contra todos", mas especialistas alertam que as demissões em massa na empresa podem prejudicar a capacidade da rede social de conter a desinformação.
O Twitter demitiu cerca de metade de seus 7.500 funcionários na sexta-feira (4), poucos dias antes das eleições de meio de mandato da próxima terça-feira nos Estados Unidos, quando é esperado um aumento da circulação de conteúdo falso nas redes sociais.
Os cortes, que ocorreram após a controversa compra de US$ 44 bilhões da empresa, afetam várias divisões, incluindo as equipes de confiança e segurança, que gerenciam a moderação de conteúdo, bem como engenharia e aprendizagem automática, de acordo com relatórios americanos.
"Eu teria muito cuidado nesta plataforma nos próximos dias... com o que você retuita, quem você segue e até mesmo sua própria percepção do que está acontecendo", disse Kate Starbird, pesquisadora de desinformação e professora auxiliar da Universidade de Washington.
Em sua própria conta no Twitter, Starbird alertou sobre um risco aumentado de tentativas de "falsidade ideológica", "desinformação coordenada por manipuladores" e "enganos tentando fazer com que você espalhe falsidades".
Jessica Gonzalez, co-diretora executiva do grupo independente Free Press, afirmou estar preocupada que os esforços de moderação de conteúdo do Twitter possam enfraquecer antes da eleição, "quando se sabe que as redes sociais são conhecidas por desinformar, intimidar e prejudicar os eleitores de coração".
"O Twitter já era um inferno antes de Musk assumir, e suas ações... só vão piorar as coisas", declarou Gonzalez.
Yoel Roth, diretor de segurança e integridade do Twitter, tentou acalmar essas preocupações dizendo que a equipe de moderação da plataforma foi a menos afetada pelos cortes e que combater desinformação e danos durante a eleição de terça-feira era uma "prioridade máxima".
"Enquanto nos despedimos de amigos e colegas incrivelmente talentosos, o núcleo de nossas capacidades de moderação permanece em vigor", tuitou Roth.
Membros da coalizão Free Press se reuniram com Musk no início desta semana, depois que estudos acadêmicos relataram um aumento dramático no discurso de ódio, memes nazistas e insultos racistas desde o momento em que ele comprou a empresa.
"Nos encontramos com Elon Musk no início desta semana para expressar nossas profundas preocupações sobre alguns de seus planos e o aumento de conteúdo tóxico após sua aquisição", disse a coalizão, usando a hashtag #StopToxicTwitter.
Um estudo da Universidade Estadual de Montclair descobriu que a aquisição do Twitter por Musk, um autoproclamado "absolutista da liberdade de expressão", "criou uma percepção entre os usuários extremistas de que as restrições de conteúdo seriam amenizadas".
Entretanto, Musk rejeitou essa avaliação, tuitando que "temos visto o discurso de ódio em algumas ocasiões nesta semana diminuir *abaixo* de nossas normas anteriores", embora não tenha apresentado dados para apoiar essa afirmação.
"Para ser muito claro, o forte compromisso do Twitter com a moderação de conteúdo permanece absolutamente inalterado", escreveu o bilionário na sexta-feira.
Musk prometeu aliviar as restrições de conteúdo do Twitter e, desde a compra, anunciou planos para criar um "conselho de moderação de conteúdo" que revisará as políticas da empresa.
"Embora Musk tenha assumido um compromisso público com a transparência, sua decisão de demitir funcionários dedicados a esse trabalho é profundamente preocupante", apontou Zeve Sanderson, diretor executivo do Centro de Política e Redes Sociais da Universidade de Nova York.
Musk insistiu que as demissões eram necessárias, pois a empresa estava perdendo mais de US$ 4 milhões por dia.