É a primeira declaração conjunta desde fevereiro de 2022Reprodução: redes sociais

A reunião de cúpula do G20 termina nesta quarta-feira, 16, na ilha indonésia de Bali. O grupo fez condenação majoritária à Rússia e apelos renovados pelo fim da guerra na Ucrânia, que tem consequências calamitosas para o planeta.
A reunião dos líderes das grandes economias do planeta foi abalada pelos grandes bombardeios russos de terça-feira, 15, contra a Ucrânia e pela queda de um míssil na Polônia, o que provocou o temor de uma escalada do conflito.
Os acontecimentos não impediram, porém, a divulgação de um comunicado conjunto, um texto que inclui uma condenação da maioria dos países à guerra na Ucrânia e destaca seu grave impacto na economia mundial.
"É a primeira declaração conjunta desde fevereiro de 2022", celebrou o presidente do país anfitrião, o indonésio Joko Widodo, que reconheceu "discussões muito duras" para alcançar um texto unânime.
O comunicado final do G20 reconhece "outros pontos de vista", mas afirma que "a maioria dos membros condena de maneira veemente a guerra na Ucrânia e destacam que está provocando um imenso sofrimento humano".
Também aponta que o conflito "afetou de maneira ainda mais negativa a economia global" e considera "inadmissível" o uso de armas nucleares ou a ameaça de recorrer a este tipo de armamento, como já fez de maneira velada o presidente russo Vladimir Putin.
Com as tensões geopolíticas existentes e a falta de acordo em todas as reuniões preparatórias, poucos esperavam a aprovação de uma declaração conjunta, que exigia unanimidade. Menos ainda uma condenação, mesmo não sendo unânime, ou a citação do conceito "guerra na Ucrânia", vetado na Rússia.
Os bombardeios russos de terça na Ucrânia e a queda do míssil na Polônia, membro da União Europeia e da Otan, alteraram os debates e as reuniões multilaterais. Em seu segundo discurso por videoconferência na reunião, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky acusou a Rússia e afirmou que a ação era uma "mensagem" de Moscou para o G20.
Poucas horas depois, no entanto, o presidente da Polônia, Andrzej Duda, afirmou que é "muito provável" que o míssil que caiu em seu país pertencesse à defesa antiaérea ucraniana.
A delegação dos Estados Unidos convocou uma reunião de emergência de aliados do G7 e da Otan, na qual pediram uma investigação sobre o que aconteceu na Polônia e condenaram os bombardeios "bárbaros" da Rússia contra cidades e infraestruturas ucranianas.
"Os acontecimentos desta noite são uma evidência clara, mais uma prova da falta de vontade de Putin de acabar com a guerra", disse o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez.
O encontro de cúpula na ilha indonésia foi precedido por uma longa reunião entre Biden e o presidente chinês Xi Jinping, em que ambos tentaram impor limites à crescente rivalidade entre as duas potências e encontraram um tema comum na guerra na Ucrânia.
Embora a China, assim como a Índia, tenha evitado condenar a guerra e criticar diretamente seu aliado em Moscou, o país convocou os dois lados a negociar, denunciou a ameaça de uso de armas nucleares e criticou a instrumentalização bélica de alimentos e da energia.
"A China pode desempenhar um papel de mediação maior ao nosso lado nos próximos meses", comentou o presidente francês, Emmanuel Macron, para quem o encontro de cúpula envia "uma mensagem muito clara" à Rússia.
Em meio a reveses militares na Ucrânia e um crescente isolamento internacional, Putin não viajou a Bali e enviou o ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, que acusou Kiev de apresentar condições "não realistas" para as negociações.
A segurança alimentar e energética figurou como uma das principais preocupações do encontro, que teve a participação de alguns dos países mais afetados pelo aumento dos preços, como a Turquia e a Argentina.
Os países membros solicitaram no comunicado final a prorrogação do acordo entre Kiev e Moscou para a exportação de cereais ucranianos pelo Mar Negro, que termina no sábado, 19. Um dos mediadores do acordo, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, se declarou convencido de que o pacto seguirá em vigor.