Política de "zero covid" da China causa exaustão e ressentimento entre amplas faixas da populaçãoAFP
Trabalhadores protestam na maior fábrica de iPhones na China e pelo menos 20 pessoas ficam feridas
As reivindicações são por melhores salários e condições de vida
Protestos violentos por melhores salários e condições de vida acontecem na maior fábrica de iPhones do mundo, de propriedade da taiwanesa Foxconn, no centro da China, com confrontos entre funcionários e agentes de seguranças.
Vídeos postados nas redes sociais Weibo e Twitter mostraram trabalhadores protestando em plena luz do dia em Zhengzhou, com alguns entrando em confronto com a polícia de choque e pessoas em trajes de proteção. A Foxconn confirmou a confusão nesta quarta-feira (23).
Imagens compartilhadas com a AFP e captadas por um operário da fábrica mostram uma pessoa inerte no chão ao lado de um homem com um casaco manchado de sangue e que tinha a cabeça atada, num aparente esforço para tratar uma ferida.
Em outro vídeo, dezenas de pessoas vestidas com trajes de proteção são vistas empunhando cassetetes e perseguindo os funcionários, um dos quais é derrubado no chão antes de parecer levar um chute na cabeça.
O trabalhador que compartilhou os vídeos estimou que cerca de 20 pessoas ficaram feridas nos confrontos e algumas foram levadas ao hospital. Ele pediu anonimato para proteger sua segurança.
Os confrontos começaram depois que os funcionários que assinaram um acordo com a fábrica para trabalhar pelo menos 30 dias em troca de um pagamento único de 3.000 yuans (420 dólares) de repente viram o número cair para apenas 30 yuans, disse ele à AFP.
Muitos trabalhadores também ficaram indignados com as condições de vida "caóticas", contou, acrescentando que "não recebia comida" da empresa desde terça-feira.
Alguns funcionários que testaram negativo para covid-19 receberam ordens de trabalhar ao lado de colegas que testaram positivo e não foram colocados em quarentena, denunciou o trabalhador.
A Foxconn explicou que os trabalhadores reclamam de salários e condições na fábrica, mas negou que tenha obrigado os novos funcionários a trabalhar ao lado de empregados contaminados com covid-19.
"Em relação à violência, a empresa continuará se comunicando com os funcionários e o governo para evitar a repetição de incidentes semelhantes", disse a gigante da tecnologia taiwanesa em nota.
A política de "zero covid" da China causa exaustão e ressentimento entre amplas faixas da população, com confinamentos de semanas em fábricas e universidades e a proibição de viajar livremente.
Um vídeo gravado à noite mostrava um homem com o rosto ensanguentado enquanto alguém fora da câmera dizia: "Eles estão batendo nas pessoas, batendo nas pessoas. Sabem disso?"
Outro vídeo filmado no mesmo local mostra dezenas de trabalhadores enfrentando policiais gritando "Vamos defender nossos direitos!", enquanto outra voz fala em "bombas de fumaça" e "gás lacrimogêneo".
A hashtag do Weibo "Distúrbios na Foxconn" parece ter sido censurada ao meio-dia desta quarta-feira, embora algumas postagens referentes a esses protestos tenham permanecido online.
A principal terceirizada da Apple registrou um aumento nos casos de covid-19 em sua fábrica de Zhengzhou nos últimos meses e decidiu fechar o vasto complexo industrial para conter o vírus.
A fábrica, localizada em Zhengzhou, capital da província de Henan (centro), é um enorme parque industrial, apelidado de "a cidade do iPhone", que costuma empregar cerca de 200 mil pessoas, a maioria morando no local em dormitórios.
A Apple reconheceu este mês que a situação "afetou temporariamente" a produção desta fábrica, a joia da coroa da empresa taiwanesa, com uma produção de iPhones que não existe em nenhum outro lugar.
A Foxconn é o maior empregador privado da China, com um milhão de pessoas trabalhando em 30 fábricas e institutos de pesquisa espalhados por todo o país.
A China é a última grande economia do mundo a manter uma política de covid zero por meio de confinamentos em massa, testes e longas quarentenas.