Nicolás MaduroAFP

Com renovado impulso internacional, o governo de Nicolás Maduro e a oposição retomam na sexta-feira (25), no México, as negociações sobre a crise na Venezuela, após 15 meses de interrupção que oxigenaram o chavismo.
A agenda se mantém sem alterações. A oposição insiste em pedir um cronograma para eleições presidenciais "livres", previstas para 2024, enquanto o governante exige a suspensão das sanções que os Estados Unidos impuseram à outrora potência petroleira.
A oposição comparece "com a urgência e a vontade de chegar, de uma vez por todas, a acordos tangíveis  que se traduzam em soluções para a crise humanitária, o respeito aos direitos humanos e especialmente" garantias para "eleições livres e observáveis", afirmou a chamada Plataforma Unitária em um comunicado divulgado nesta quinta-feira (24).
O governo espanhol reagiu à notícia, comemorando este "passo muito importante" para a reconciliação.
"O governo da Espanha celebra a retomada do processo de negociação no México entre o governo e a oposição venezuelana", afirmou o Ministério das Relações Exteriores em um comunicado.
Desta forma, "dá-se um passo muito importante na reconciliação do país", acrescentou o Ministério, "pondo sua capacidade de interlocução a serviço das partes e contribuindo para criar as condições necessárias para que as negociações sejam bem-sucedidas".
Analistas como o consultor político Pablo Andrés Quintero consideram, no entanto, que o contexto internacional e o enfraquecimento da oposição esvaziaram os "incentivos" para que Maduro ceda.
A crise energética deflagrada pela guerra na Ucrânia aumentou o apelo do petróleo venezuelano para Washington, à medida que a região experimenta uma guinada política para a esquerda.
"Esperamos que trabalhem pelo alívio dos desafios humanitários que enfrentam os vzlanos [sic], e eleições livres e justas", afirmou nesta quinta, no Twitter, o secretário de Estado adjunto americano para o Hemisfério Ocidental, Brian Nichols.
A retomada do diálogo foi anunciada na quarta-feira pelo presidente colombiano, Gustavo Petro, e deve se estender até sábado.
Está previsto que as partes firmem um "acordo parcial em matéria social", escreveu no Twitter o governo da Noruega, que atua como facilitador.
O chanceler mexicano, Marcelo Ebrard, disse, por sua vez, que espera "boas notícias".
Uma fonte ligada às negociações confirmou para a AFP que as delegações terão uma primeira "sessão de trabalho" na tarde de sexta-feira e esclareceu que ainda não há consenso sobre as próximas eleições e suas condições.
Primeiro presidente de esquerda da Colômbia, Petro manifestou sua disposição de apoiar os contatos entre ambas as partes. Desde que assumiu o poder, em 7 de agosto, o presidente colombiano tem estreitado os laços com Caracas.
Os dois países retomaram as relações diplomáticas, rompidas desde 2019, devido às divergências entre o então presidente da Colômbia, Iván Duque (2018-2022), e Maduro. Além disso, a Venezuela acolhe os diálogos de paz entre o governo colombiano e a guerrilha do Exército de Libertação Nacional (ELN).
O novo encontro consolida o impulso dado em 11 de novembro, em Paris. Nessa data, Petro, o presidente da França, Emmanuel Macron; o presidente argentino, Alberto Fernández; e a chanceler norueguesa, Anniken Huitfeldt, reuniram-se com os principais negociadores venezuelanos.
Depois dessa reunião, realizada durante a quinta edição do Fórum de Paris sobre a Paz, as autoridades pediram às partes que retomassem o diálogo e consideraram a negociação como o "único caminho" para superar a crise que tem forçado a migração de 6,8 milhões de venezuelanos, segundo as Nações Unidas.
O chavismo e a oposição realizaram conversas no México em agosto de 2021, após o fracasso de outras duas tentativas - na República Dominicana, em 2018, e em Barbados, em 2019. Maduro congelou essas discussões dois meses depois por causa da extradição do empresário Alex Saab para os Estados Unidos. Próximo do governo, Saab foi denunciado por lavagem de dinheiro.
O retorno das partes às negociações coincide com a visita oficial de Petro ao México, onde se reunirá com o presidente Andrés Manuel López Obrador na manhã de sexta-feira.