Ofertas em excesso criam condições excepcionais para quem busca pechinchar em eletrônicos, eletrodomésticos e vestuárioReprodução/AFP

Estados Unidos - Grandes descontos são esperados na Black Friday dos Estados Unidos, que acontece no país na sexta-feira, 25. As ofertas dão início à temporada de compras natalinas, mas os lojistas têm o desafio de fazer o consumidor gastar mais em um contexto de forte inflação.
Em 2021, os varejistas enfrentavam uma escassez de produtos, devido aos atrasos na distribuição e fechamento de fábricas por conta da pandemia. Para evitar situação similar, o setor antecipou as importações de Natal neste ano, mas ficou vulnerável ao excesso de oferta em um momento que os consumidores estão apertando os cintos.
"A escassez de suprimentos foi o problema de ontem. O problema de hoje é ter muita coisa [à venda]", disse o CEO da consultoria GlobalData Retail, Neil Saunders. De acordo com ele, os lojistas reduziram os estoques nos últimos meses, mas a grande quantidade de ofertas cria condições excepcionais para quem busca pechinchar em eletrônicos, eletrodomésticos e vestuário.
Juameelah Henderson sempre confere o que está em liquidação. "Ainda mais agora", disse, ao sair de uma loja de roupas em Nova York com quatro sacolas na mão. Os preços estão "muito bons", justificou.
Os custos mais altos da gasolina e de produtos básicos domésticos, como carne e grãos, são um problema da economia como um todo, mas não impactam a vida de todo o mundo da mesma forma. 
"Os [consumidores] de baixa renda são claramente mais afetados pela alta inflação", afirmou Claire Li, analista da Moody's. Segundo ela, isso acontece "porque gastam mais, proporcionalmente, em produtos básicos".
O aumento dos preços cede de forma gradual. Mesmo assim, no último dia 10, o Índice de Preços ao Consumidor estava em 7,7% em 12 meses, um nível alto para os americanos. Até agora, eles têm se mostrado resistentes às diversas crises vividas desde o início da pandemia e estão gastando mais do que o esperado, mesmo quando os indicadores de confiança refletem suas preocupações.
Parte da explicação está em uma poupança incomumente robusta. Muitas famílias aproveitaram a ajuda do governo concedida durante a crise do coronavírus, quando o consumo estava em mínimas históricas, por conta das restrições impostas.
A reserva, porém, começa a diminuir. Depois de um pico de US$ 2,5 trilhões em meados de 2021, a poupança americana voltou a cair para US$ 1,7 trilhão um ano depois, segundo a Moody's. Os consumidores com renda anual inferior a US$ 35.000 são os primeiros afetados, com uma queda de 39% nas economias nos primeiros seis meses do ano.
Como resultado, o crédito ao consumidor está em alta, conforme dados do Federal Reserve (Fed). "Vemos uma pressão contínua", destacou Michael Witynski, gerente-geral da rede de baixo custo Dollar Tree. Ele observa uma mudança nos consumidores, "que estão muito mais concentrados em suas necessidades e tentam garantir que terão dinheiro suficiente para terminar o mês".
Nos últimos dias, os relatórios de lucros dos varejistas mostraram uma imagem mista sobre a saúde do consumidor. A rede popular Target foi atingida, enfrentando uma forte queda em suas vendas de outubro, o que pode antecipar uma fraca temporada natalina.
"Tivemos consumidores lidando com uma inflação muito persistente, trimestre após trimestre", disse o CEO, Brian Cornell, em conferência com analistas. "São muito cautelosos. Estão muito atentos e dizem 'bom, se eu tiver que comprar, quero que seja uma boa oferta'", completou.
Já o concorrente Lowe's, especializado em decoração, está otimista, mencionando um terceiro trimestre "sólido" e sem sinais de enfraquecimento. "Não estamos vendo nada parecido com uma queda nas compras", afirmou o CEO, Marvin Ellison.
Consumidores como Charmaine Taylor, que consulta os sites das companhias aéreas com frequência, estão de olho. Até agora, ela viu sua expectativa de viajar frustrada, devido aos preços exorbitantes das passagens aéreas.
Taylor não sabe quanto dinheiro poderá gastar em presentes para a família este ano. "Estou tentando comprar alguns presentes". "Não sei se vou conseguir. A inflação está batendo forte", desabafou.