O Papa Francisco teve uma conversa telefônica gravada sem autorização pelo cardeal Angelo Becciu, investigado por corrupção AFP
Julgado por fraude, cardeal grava ligação com Papa Francisco sem autorização
Becciu, de 74 anos, é um ex-conselheiro próximo do pontífice, mas foi afastado do cargo e destituído dos privilégios como cardeal
Vaticano - Investigado por fraude, o cardeal italiano Angelo Becciu gravou o Papa Francisco, sem seu consentimento, durante uma conversa telefônica na qual tentou fazê-lo confirmar que havia aprovado movimentações financeiras confidenciais, informou a imprensa italiana nesta sexta-feira, 25.
No dia 24 de julho de 2021, Angelo Becciu fez a gravação três dias antes do início de seu julgamento, período em que o pontífice havia acabado de passar por uma importante operação do cólon. O áudio não foi tornado público, mas uma audiência no tribunal do Vaticano revelou, na quinta-feira, 24, sua existência.
Becciu, de 74 anos, é um ex-conselheiro próximo do papa, mas foi afastado de seu cargo e destituído de seus privilégios como cardeal em setembro de 2020, na esteira de um escândalo sobre um acordo imobiliário em Londres. Ele alega ser inocente.
Várias pessoas passaram pelo Tribunal Penal do Vaticano desde julho de 2021 por acusações de fraude, malversação, abuso de poder, lavagem de dinheiro, corrupção e extorsão.
Entre elas, está Cecilia Marogna, uma intermediária contratada por Becciu como consultora de segurança. Ela é acusada de ter gastado 575 mil euros do Vaticano em hotéis e produtos de luxo.
Segundo os promotores, os recursos entregues a Marogna - conhecida como "a dama do cardeal" na imprensa italiana - deveriam ter sido usados para ajudar a libertar padres e freiras mantidos como reféns no exterior.
No telefonema com o papa, o cardeal Becciu pede ao pontífice que confirme que aprovou o desbloqueio dos fundos para libertar uma religiosa colombiana detida por um grupo ligado à Al-Qaeda no Mali.
"Você me deu, ou não, a autorização para iniciar as operações de libertação da religiosa?", perguntou o bispo Becciu. "Tínhamos estabelecido o resgate em 500 mil euros, não mais do que isso, porque nos parecia imoral dar mais dinheiro para os (...) terroristas (...) Acho que já o havia informado de tudo isto... Se lembra?", continua.
Segundo a transcrição, publicada, entre outros veículos, pelo jornal italiano "Il Messaggero", o papa responde que se lembra "vagamente".
O pontífice argentino pede, então, que Becciu faça-lhe a pergunta por escrito. A ligação foi gravada no apartamento de Becciu por uma pessoa próxima, segundo o tribunal. O julgamento, o primeiro de um cardeal de tão elevada posição, continua na sexta-feira com audiências de testemunhas-chave.