Rússia acusa Ucrânia de bombardear a central nuclear de ZaporizhzhiaOLGA MALTSEVA / AFP

O frio é intenso e o fogo de artilharia violento, mas "Viking", um soldado ucraniano da frente nordeste, está determinado a se vingar dos russos.
"Para mim, o mais difícil é a morte dos meus amigos. Já estava motivado antes, mas a raiva, a agressividade e o ódio reforçaram" esse sentimento, diz "Viking", nome de guerra deste solado de 26 anos, membro de uma unidade de tanques.
Apesar das perdas sofridas pelo exército ucraniano nos nove meses de guerra desde o início da invasão russa, "Viking" e outros membros de seu pelotão confiam que podem vencer. Sua unidade participou do ataque que, em setembro, quebrou as linhas de defesa russas na frente nordeste e forçou as forças de Moscou a recuar para o leste, além do rio Oskil.
Essa contraofensiva perdeu força e os russos reforçaram suas defesas, mas os ucranianos garantem que estão progredindo, apesar do frio do inverno que testa as rotas de abastecimento e as condições das estradas.
"Repelimos os russos, nos consolidamos e avançamos aos poucos", explica "Patriot", um soldado de 23 anos, integrante de um pelotão que acampa em um prado cercado de pinheiros.
 
"Há muitos bombardeios. No mês passado, ouvi cerca de 100 a 200 ataques", disse à AFP durante uma visita a sua posição, organizada pelo exército ucraniano.
Perto dali, um mecânico militar de 44 anos, que deseja permanecer anônimo, trabalha no motor de um tanque russo capturado em setembro e que agora será usado contra seus antigos proprietários.
"O estado do equipamento russo é muito ruim. Tudo estava sujo e coberto de diesel", diz.
Após nove meses no terreno, o material da unidade, datado da época soviética, reflete a dinâmica desta guerra: um dos tanques é do exército ucraniano, outro foi tomado dos russos e um terceiro foi doado pela Polônia.
Nesta área do país, os ucranianos esperam tomar uma importante rodovia que passa pelas cidades de Severodonetsk e Lysychansk, mais a leste, ocupadas pelos russos. Essas duas cidades foram capturadas durante a campanha na região industrial do Donbass, na qual ambos os lados perderam um grande número de soldados.
Contraofensiva ucraniana
Desde então, as forças russas passaram por uma série de contratempos, perdendo grande parte da região de Kharkiv e se retirando de Kherson, uma cidade ao sul que ocupavam desde o início da guerra.
"Nesta parte da linha de frente, nós assumimos a responsabilidade de manter nossa posição e, às vezes, lançar contraofensivas", diz Roman, membro do principal batalhão de tanques que opera na região.
"A situação está totalmente sob controle e estamos preparados para enfrentar novos desafios, mesmo inesperados", afirma.
De acordo com especialistas militares, os combates podem se acelerar em breve.
"As temperaturas devem cair na Ucrânia na próxima semana, e isso deve congelar o terreno e acelerar o ritmo dos combates à medida que a mobilidade aumenta em ambos os lados", aposta o Institute for the Study of War, em um estudo recente.
Para os combatentes, a queda da temperatura não é tão importante quanto o fogo da artilharia russa.
"Quando você sabe que a qualquer momento eles podem te alcançar, a adrenalina te esquenta. Você não sente frio", explica "Patriot".