Jornalista Dom Phillips foi morto na AmazôniaReprodução

O número de jornalistas detidos no mundo registrou um novo recorde em 2022, 533 prisões, afirma o relatório anual da ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) divulgado nesta quarta-feira, 14. Segundo o documento, o número de profissionais assassinados (57) também aumentou, em particular devido à guerra na Ucrânia, depois de registrar números "historicamente baixos" em 2021 (48) e 2020 (50).
O relatório afirma que 11 repórteres foram assassinados no México, 20% do total, seis no Haiti e três no Brasil. Os crimes, diz a RSF, "transformaram as Américas na região mais perigosa do mundo para a imprensa, com quase metade (47,4%) dos jornalistas assassinados no mundo em 2022".
Mais da metade dos profissionais da comunicação detidos no mundo até 1º de dezembro estavam em cinco países: China (110), Mianmar (62), Irã (47), Vietnã (39) e Belarus (31). O Irã é o único país que não estava nesta "lista sombria" em 2021, destaca a ONG, que publica o relatório anual desde 1995. 
A República Islâmica prendeu um número "sem precedentes" de jornalistas em 20 anos, desde o início do movimento de protestos em setembro após a morte da jovem iraniana Mahsa Amini. A curda, de 22 anos, morreu depois de ter sido detida pela polícia da moralidade por supostamente ter violado o rígido código de vestimenta para mulheres no Irã, que exige o uso do véu.
Trinta e quatro jornalistas foram detidos e se uniram aos 13 que já estavam detidos antes do início dos protestos. "Os regimes ditatoriais e autoritários estão enchendo suas prisões com jornalistas mais rápido do que nunca", afirmou Christophe Deloire, secretário-geral da organização de defesa da liberdade de imprensa.
"Este novo recorde no número de jornalistas detidos confirma a necessidade urgente de resistir a estes governos sem escrúpulos e estender nossa solidariedade ativa a todos aqueles que personificam o ideal de liberdade, independência e pluralismo no jornalismo", acrescentou Deloire.
A RSF também destacou o número recorde de mulheres jornalistas detidas, 78, muito superior às 60 do ano passado. "As jornalistas representam agora mais de 15% dos detidos, contra menos de 7% há cinco anos", afirma a RSF.
A organização citou os casos das iranianas Nilufar Hamedi e Elahe Mohammadi, duas das 15 jornalistas detidas durante os protestos, que fizeram reportagens sobre a morte de Amini e agora podem ser condenadas à pena de morte. "É indicativo do desejo das autoridades iranianas de sistematicamente silenciar as mulheres", aponta a ONG.
A organização concedeu na segunda-feira , 12, o Prêmio de Coragem a uma delas, Narges Mohammadi, que foi detida várias vezes na última década. Quase 75% dos jornalistas detidos estão na Ásia e Oriente Médio, informa a RSF, que destaca o aumento da repressão na Rússia após a invasão da Ucrânia.
Casos no Brasil
O relatório da RSF ainda destacou o caso do Brasil, onde foram registradas três mortes de profissionais da imprensa. Um dos assassinatos que ganhou destaque foi o do jornalista britânico Dom Phillips, que foi morto a tiros no dia 5 de junho, junto com o indigenista Bruno Pereira, no Vale do Javari, na Amazônia. Os dois faziam uma expedição na região para documentar a luta de povos indígenas contra a pesca, o garimpo e a extração de madeira ilegais. Os seus corpos foram queimados e enterrados.
Seus cadáveres só foram encontrados dez dias depois, após o pescador Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como Pelado, indicar o local. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a área em que a dupla navegava é "palco de disputa entre facções criminosas que se destacam pela sobreposição de crimes ambientais, que vão do desmatamento e garimpo ilegal a ações relacionadas ao tráfico de drogas e de armas".
Dom era correspondente do jornal "The Guardian". Britânico, ele veio para o Brasil em 2007 e viajava frequentemente para a Amazônia para relatar a crise ambiental e suas consequências para as comunidades indígenas e suas terras.
Bruno Pereira e Dom Philips foram mortos no Vale do Javari, na Amazônia - Reprodução
Bruno Pereira e Dom Philips foram mortos no Vale do Javari, na AmazôniaReprodução
*Com informações da AFP