Militares entram em penitenciária importante de GuayaquilMarcos Pin/AFP

Centenas de militares e policiais entraram, nesta quinta-feira (18), em um presídio do complexo penitenciário de Guayaquil (sudoeste), cidade portuária que é o centro da guerra do governo contra as gangues de traficantes de drogas, informaram as Forças Armadas.

As forças de segurança "realizam uma nova intervenção no Centro de Privação de Liberdade #Guayas, controlando o perímetro externo e interno do centro penitenciário", afirmaram as Forças Armadas em sua conta na rede social X. Repórteres da AFP registram tanques e esquadrões fortemente armados ao redor da prisão.
Crise

O Equador vive uma onda de violência desde o dia 9 de janeiro. O presidente Daniel Noboa decretou "conflito armado interno", em uma tentativa de controlar a situação. A situação se dá em meio a um estado de exceção, decretado pelo governo do país após José Adolfo Macías, de 44 anos, mais conhecido como "Fito", líder de uma das maiores gangues (Los Choneros) locais fugir da prisão.

O país já registrou ataques que incluem a queima de carros e ônibus, sequestros de policiais e vandalismo. Segundo a polícia, 70 pessoas foram presas, três dos seus agentes feitos reféns foram libertados e 17 fugitivos recapturados, além de terem sido apreendidas armas, munições, explosivos e veículos.

Em paralelo a essa onda de violência, homens armados invadiram um canal de TV ao vivo em Guayaquil, a maior cidade do país. Segundo as autoridades, 13 pessoas foram detidas, provas foram recolhidas no local e armas e explosivos foram apreendidos.

"Assinei o decreto executivo declarando Conflito Armado Interno", explicou o presidente na rede social X, enquanto vigora um estado de exceção por 60 dias devido a sequestros de policiais, ataques à imprensa e rebeliões em presídios.

Por causa dos ataques, o governo também autorizou que as Forças Armadas "executar operações militares (...) para neutralizar" cerca de 20 grupos do crime organizado, os quais identificou como "organizações terroristas e atores não estatais beligerantes".

Fuga de líderes de facções

José Adolfo Macías, o Fito, é o líder da facção criminosa Los Choneros, considerada uma das mais perigosas do país — essa não é a primeira vez que ele foge. Ele cumpria pena na Prisão Regional de Guayaquil (a maior cidade do Equador) desde 2011.

Fito foi condenado a 34 anos por crime organizado, narcotráfico e homicídio. Los Choneros disputam com cerca de 20 quadrilhas a rota do narcotráfico em uma guerra sangrenta que assombra o país.

O criminoso teria fugido "horas antes" de uma operação de revista no domingo, 7, no presídio onde cumpria pena, indicou o secretário de Comunicação do governo, Roberto Izurieta, na segunda. Mais de 3 mil homens foram mobilizados para a sua captura, que até o momento não foi encontrado.

Izurieta indicou que "a força do Estado está a postos para encontrar esse sujeito extremamente perigoso". O secretário ainda lamentou que "o nível de infiltrações" dos grupos criminosos no Estado "é muito grande" e tachou de "falido" o sistema penitenciário equatoriano.

A última vez em que Fito foi visto foi em setembro, quando havia sido temporariamente enviado a outra prisão de segurança máxima de Guayaquil depois do assassinato do candidato presidencial Fernando Villavicencio.

Na época, apareceu em fotos obeso, com cabelo e barba grandes. Milhares de militares o vigiavam, em uma das maiores operações militares e policiais que o ex-presidente Guillermo Lasso (2021-2023) realizou na penitenciária.

A fuga dele somou-se, nesta terça, a de Fabricio Colón Pico, um dos chefões da Los Lobos. Ele tinha sido preso na sexta-feira, 5, pelo crime de sequestro e a suposta responsabilidade em um plano para assassinar a procuradora-geral.

Em meio à convulsão, sete policiais foram sequestrados em Machala (sudoeste), Quito e El Empalme (sul). Também foram registradas explosões direcionadas a um posto policial, em frente à casa do presidente da Corte Nacional de Justiça e veículos foram incendiados. Não houve registros nem de mortos, nem de feridos.

Em presídios de cinco cidades do país há 125 guardas carcerários e 14 funcionários administrativos retidos, informou o organismo que administra as prisões (SNAI).

Vídeos que circulavam nas redes sociais mostram supostos reféns ameaçados com facas e a suposta execução de pelo menos um guarda. "São dias extremamente difíceis porque (...) a decisão importante é enfrentar frontalmente estas ameaças com características terroristas", assegurou o secretário de Comunicação do governo, Roberto Izurieta, em entrevista ao canal digital "Visionarias".

Invasão no estúdio de TV

O estúdio da rede de televisão TC em Guayaquil foi invadido na terça-feira, 9. A invasão por homens encapuzados e armados aconteceu durante transmissão ao vivo do canal de notícias. Diversos funcionários foram rendidos e foi possível ouvir tiros e gritos ao fundo. Segundo as autoridades, todos os funcionários estão vivos.

Uma transmissão que foi cortada mostrou pessoas reunidas no chão dos estúdios, enquanto homens armados gesticulavam para a câmera.
Antes de que fossem desligadas as luzes do set, indivíduos encapuzados foram vistos aparentemente segurando uma granada, apontando suas armas para trabalhadores e colocando o que parecia ser uma banana de dinamite no blazer de uma pessoa.

Ainda de acordo com as autoridades, 13 pessoas foram detidas, provas foram recolhidas no local e armas e explosivos foram apreendidos.
César Suárez, promotor antimáfia do Equador que estava conduzindo as investigações sobre a invasão armada ao canal de televisão TC em 9 de janeiro, foi tragicamente assassinado nesta quarta-feira (17) na cidade de Guayaquil, conforme relatado por uma fonte do Ministério Público equatoriano à AFP.