Ex-presidente norte-americano Donald TrumpAFP

"Muito pequenas ou fracas demais”. Após a tentativa de assassinato contra Donald Trump durante um comício, alguns líderes e figuras proeminentes da direita ultraconservadora dos Estados Unidos criticaram as mulheres do Serviço Secreto encarregadas de proteger o ex-presidente.

O Serviço Secreto, responsável por resguardar as figuras políticas mais importantes do país, tem sido alvo de críticas por permitir que o atirador se aproximasse tanto de Trump, além de comentários sexistas contra sua política de recrutamento "DEI", que promove diversidade, equidade e inclusão.

Várias mulheres de terno e óculos escuros, vestindo o uniforme típico dos agentes do Serviço Secreto, se lançaram para proteger e evacuar o candidato presidencial republicano, que acabou ferido na orelha, durante a tentativa de assassinato em um comício na Pensilvânia no sábado.

"Não deveria haver mulheres no Serviço Secreto. Os agentes devem ser os melhores e nenhum dos melhores é mulher", escreveu o ativista de direita Matt Walsh na rede social X.

Por outro lado, o congressista republicano Tim Burchett criticou a diretora do Serviço Secreto, Kimberly Cheatle, por implementar a política DEI na organização e por seu passado como chefe de segurança na PepsiCo: "Não consigo imaginar como uma contratação DEI da Pepsi possa ser uma escolha ruim para a chefe do Serviço Secreto #sarcasmo", postou no X.

Após vários anos na PepsiCo, Cheatle se tornou a segunda mulher a liderar a agência federal, onde já havia trabalhado por quase 30 anos.

Guerra cultural
O Serviço Secreto, que nomeou suas primeiras agentes em 1971, planeja que 30% de seus recrutas sejam mulheres até 2030, segundo um relatório da CBS News de 2023.

"Estou muito consciente (...) de que precisamos atrair candidatos diversos e garantir que desenvolvamos e ofereçamos oportunidades a todos em nossa equipe, especialmente às mulheres", disse Cheatle à CBS na época.

Como parte de sua guerra cultural, a direita ultraconservadora aproveitou a declaração para denunciar a "wokeficação" no recrutamento, um termo pejorativo que usam para se referir à promoção de temas como igualdade racial, direitos LGBTQPIA+, inclusão ou diversidade, em um momento em que se busca contratar além dos homens brancos.

"Os resultados das políticas DEI: DEI matou alguém", postou a conta conservadora popular Libs no TikTok, em referência ao bombeiro que morreu durante o ataque na Pensilvânia.

Procurado pela AFP, o Serviço Secreto não enviou uma reação imediata.

As práticas de diversificação na contratação aceleraram após o assassinato do afro-americano George Floyd em 2020 por policiais brancos, desencadeando um movimento antirracista no país.

Mas os conservadores intensificaram sua contra-ofensiva nos últimos meses contra os temas de diversidade, argumentando que essas práticas colocam os homens brancos em "desvantagem".

J.D. Vance, o senador eleito de Ohio e companheiro de chapa presidencial de Trump, chegou a apresentar uma proposta de lei em junho para eliminar os programas DEI no governo federal.

"DEI é racismo, simples e claro. É hora de proibi-lo nacionalmente, começando pelo governo federal", disse ele em postagem no X.

Agentes masculinos em Milwaukee
O recrutamento no Serviço Secreto já foi criticado em maio, após o Congresso iniciar uma investigação sobre um incidente envolvendo uma agente de segurança da vice-presidente Kamala Harris.

Em uma carta para Kimberly Cheatle, o congressista republicano James Comer expressou preocupação com a contratação da agente e a verificação de seus antecedentes, argumentando que a atual escassez de pessoal "levou a agência a diminuir seus rigorosos padrões como parte dos esforços de diversidade, equidade e inclusão".

Em resposta, o porta-voz do Serviço Secreto, Anthony Guglielmi, afirmou que o recrutamento é realizado "com os mais altos padrões profissionais (...) e em nenhum momento a agência diminuiu esses padrões".

Cheatle ignorou os pedidos de renúncia e a agência indicou que participará "plenamente" da investigação independente solicitada pelo presidente Joe Biden sobre o ataque a Trump.

A diretora do Serviço Secreto deverá comparecer ao Congresso em 22 de julho.

Biden afirmou que se sente "seguro" com o Serviço Secreto, embora tenha admitido que é uma "questão em aberto" se o atentado contra o republicano poderia ter sido previsto.

Trump estava cercado apenas por agentes homens em sua primeira aparição pública na Convenção Nacional Republicana em Milwaukee, na segunda-feira.

"Assim É como se deve proteger um presidente", escreveu o comentarista conservador Rogan O'Handley no X.