O diretor Peter Watkins revolucionou a linguagem do documentárioRobert Guinot/Divulgação
Morre Peter Watkins: conheça legado de vencedor do Oscar e pioneiro dos ‘docudramas’
Diretor britânico era conhecido por experimentação, provocações e polêmicas, que acabaram fazendo com que fosse visto como persona non grata por parte do público
Peter Watkins, diretor de cinema vencedor do Oscar de melhor documentário por "O Jogo da Guerra" (1966), morreu na quarta-feira, 30, um dia após completar 90 anos de idade. O britânico foi considerado pioneiro no estilo que posteriormente ficaria conhecido como "docudrama", e também buscou o limite entre realidade e ficção em uma obra cinematográfica.
O Jogo da Guerra, lançado em março de 1966, misturava elementos da realidade e da ficção para pensar como seria o impacto de bombas nucleares no Reino Unido, seu país de origem. Usando estatísticas e informações referentes aos desastres de Hiroshima e Nagasaki, somada a declarações de oficiais de alta patente — alguns que nem sequer existiam, trazia, em meio a um estilo documental sério, com cenas da vida real, entrevistas fictícias
Segundo o British Film Institute (BFI), Peter Watkins tinha intenção de exibir seu documentário na rede BBC à época, mas o diretor-geral da emissora considerou que o material "era muito horrendo para o meio de comunicação".
Já em Edvard Munch (1974), inicialmente produzida como minissérie de televisão, para depois se tornar um longa de quase 3h, traçou uma cinebiografia sobre o pintor expressionista moderno norueguês. Não linear, e também no formato docudrama, idas e vindas ao passado, encontrando ligações entre sua juventude e vida adulta, além da relação com os problemas de saúde da família, com mãe e irmã morrendo de tuberculose e problemas de saúde mental por parte do pai. O renomado diretor sueco Ingmar Bergman (1918-2007) considerou o filme de como "obra de um gênio".
As investidas de Peter Watkins por experimentação, provocações e polêmicas acabaram fazendo com que fosse visto como persona non grata por parte do público inglês. Ao longo das quatro décadas que se manteve em atividade, entregou trabalhos questionadores, sendo o último Comuna de Paris, 1871 (2000), que discorre sobre o fato histórico francês por quase seis horas.
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