Por marta.valim

Moscou - O primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, declarou nesta terça-feira que a Ucrânia "está à beira da guerra civil", no momento em que as autoridades de Kiev enviaram suas forças armadas para o leste do país para deter os separatistas pró-russos.

"Serei breve: a Ucrânia está à beira da guerra civil, isso é aterrorizante", declarou, citado pelas agências de notícias russas, durante uma coletiva de imprensa.

O chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, já havia alertado Kiev que o eventual uso da força contra os insurgentes pró-Rússia nas regiões de língua russa do leste da Ucrânia será um ato "criminoso" e prejudicará o diálogo previsto para quinta-feira em Genebra entre Ucrânia, Rússia, Estados Unidos e União Europeia para abordar a crise.

A Ucrânia, por sua vez, acusou a Rússia de ter "projetos brutais" para desestabilizar o sul e o leste do país e anunciou uma operação "antiterrorista" gradual e "responsável" na região de Donetsk, cenário de uma insurreição pró-Moscou.

"Os projetos da Rússia foram e continuam sendo brutais. Querem inflamar não apenas a região de Donetsk, mas todo o leste e o sul da Ucrânia, da região de Kharkiv até Odessa", declarou Turchynov.

A troca de acusações entre o presidente interino da Ucrânia, Olexander Turchynov, e Lavrov aconteceu poucas horas depois de uma conversa "franca e direta" sobre a crise ucraniana entre o presidente russo Vladimir Putin e seu colega americano Barack Obama.

Neste contexto, um relatório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos divulgado nesta terça-feira pede ao governo ucraniano que propicie "a participação de todos, inclusive das minorias, na vida política".

Os insurgentes armados pró-Rússia passaram novamente à ofensiva na segunda-feira no leste da Ucrânia, quando pediram ajuda ao presidente russo Vladimir Putin frente ao governo pró-Ocidente de Kiev.

Na capital da Ucrânia, centenas de nacionalistas, preocupados com um possível desmembramento do país, queimaram pneus diante do edifício do Parlamento na noite de segunda-feira e pediram a saída do ministro do Interior.

Turchynov agora tenta apaziguar os nacionalistas descontentes.

"Donetsk enfrenta um perigo colossal. Além das 'spetsnaz' (unidades de elite) russas e dos terroristas, há centenas de milhares de ucranianos enganados pela propaganda russa e centenas de milhares de ucranianos inocentes", disse Turchynov.

O governo anunciou o início, na manhã desta terça-feira, de uma operação "antiterrorista ao norte da região de Donetsk, que acontecerá de forma forma gradual, responsável e refletida", assim como o envio de um primeiro batalhão da Guarda Nacional da Ucrânia.

"O objetivo desta operação é proteger os cidadãos da Ucrânia, deter o terror, parar a criminalidade e as tentativas de despedaçar o país", disse o presidente.

A cidade de Slaviansk, onde grupos armados assumiram o controle no sábado de edifícios da polícia, das forças de segurança e da prefeitura, fica na região de Donetsk.

Críticas da Rússia

Em visita a Pequim, Lavrov criticou Kiev.

"Não é possível enviar tanques e ao mesmo tempo dialogar. Recorrer à força acabaria com a oportunidade oferecida pela reunião de Genebra".

"A Rússia exige encarecidamente que Kiev deixe de enviar forças ao sudeste para esmagar os manifestantes", disse o chanceler russo.

"A Ucrânia propaga mentiras, dizendo que a Rússia estaria por trás do que está acontecendo no sudeste", completou Lavrov.

O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, pediu ao governo da Rússia que retire as tropas da fronteira ucraniana.

"Estou muito preocupado com os últimos acontecimentos na Ucrânia, pela violência de pequenos grupos separatistas, assim como com a contínua pressão militar russa na fronteira com a Ucrânia", disse Rasmussen.

"Peço a Rússia que diminua a tensão, que retire suas tropas da fronteira ucraniana e que pare de desestabilizar a situação na Ucrânia", completou.

Obama e Putin conversam

Horas antes, em uma conversa telefônica com Obama, Putin chamou de "conjecturas" baseadas "em informações infundadas" as acusações de ingerência de Moscou e pediu ao presidente americano que "faça todo o possível para não permitir o uso da força e um banho de sangue".

Mas Obama "enfatizou que todas as forças irregulares no país (Ucrânia) devem depor as armas, e exortou o presidente Putin a utilizar sua influência com os grupos armados pró-Rússia para convencê-los a abandonar os prédios que ocuparam", informou a Casa Branca.

Ao enfrentar desde sábado uma série de ataques, que tudo indica são coordenados, de ativistas pró-Rússia e homens armados que geralmente usam uniformes sem distintivos, o país de 46 milhões de habitantes parece mais ameaçado do que nunca por uma divisão entre o leste de língua russa e o centro e o oeste voltados para a Europa Ocidental.

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