Por marta.valim

Mario Draghi enfrenta um velho problema enquanto tenta reavivar a inflação na zona do euro.

O rápido crescimento do número de trabalhadores mais velhos no mercado de trabalho do bloco monetário nos próximos cinco anos será um peso para a inflação, que já está em cerca de um quarto da meta de pouco menos de 2% fixada pelo Banco Central Europeu, segundo Marchel Alexandrovich, economista da Jefferies International Ltd. em Londres.

Desde 2008, o número de trabalhadores de entre 50 e 64 anos têm crescido nos principais países da zona do euro e agora eles representam de 26% a 31% do total da força de trabalho, acima dos 20% a 25% anteriores. O número de empregados com mais de 65 anos também cresceu, mas esse número ainda é inferior ao dos EUA e do Reino Unido. Isso sugere a Alexandrovich que “a economia da zona do euro poderia estar só no começo de uma mudança estrutural de longo prazo em direção a um número maior de trabalhadores mais velhos”.

Se for assim, então Draghi, presidente do BCE, tem outro fator estrutural para se preocupar enquanto tenta evitar uma deflação com uma política monetária flexível, já que trabalhadores mais velhos tendem a adiar o consumo e a poupar para o futuro, ao passo que os jovens que entram no mercado de trabalho são mais propensos a consumir hoje.

Pressão descendente

Embora seja difícil encontrar dados para a zona do euro, uma análise do Instituto de Estudos Fiscais do Reino Unido sugere que entre 2000 e 2005 os trabalhadores britânicos de 55 a 59 anos tiveram uma taxa de poupança anual média de cerca de 5,5%, ao passo que os de menos de 34 anos não economizaram.

“Portanto, uma recuperação na qual a maioria dos empregos vai para trabalhadores mais velhos, que é o que está acontecendo atualmente, terá um aspecto muito diferente de uma em que trabalhadores mais jovens estejam conseguindo seus primeiros empregos”, disse Alexandrovich em um relatório para clientes. “Se outros fatores continuarem iguais, isto implicaria um consumo mais fraco e um perfil de inflação menos intenso”.

A maior propensão à poupança também implica uma pressão descendente sobre as taxas de juros, reduzidas por Draghi para valores recorde no mês passado a fim de encorajar o crescimento econômico, disse Alexandrovich.

Embora a demografia possa jogar um papel nisso tudo, Alexandrovich disse que a maioria dos trabalhadores mais velhos permanece no mercado de trabalho ou reingressa nele porque quer ou precisa. Por exemplo, a taxa de atividade da faixa etária de 50 a 64 anos na Alemanha aumentou 12 pontos porcentuais nos últimos dez anos e agora 18 milhões de pessoas desse grupo estão trabalhando.

Um estudo recente do Departamento de Estatística da Comissão Europeia descobriu que cerca de 50% dos trabalhadores europeus que já recebem uma aposentadoria continuam trabalhando para manter uma renda.

Há uma força negativa para a inflação porque trabalhadores mais velhos tendem a ser menos produtivos, o que poderia tornar as economias mais vulneráveis a pressões sobre os preços do que se o mercado de trabalho fosse composto de jovens, disse Alexandrovich.

“Portanto, há muitas incógnitas e fatores em movimento nessa história de envelhecimento da população ativa”, disse ele. “Mas talvez isso também ajude, pelo menos parcialmente, a explicar por que o BCE, a Reserva Federal e o Banco da Inglaterra têm tido dificuldades para prever a inflação com precisão nos últimos anos”.

Você pode gostar