Por monica.lima
A famosa política de um filho só imposta em 1979 pelo governo Chinês então liderado por Deng Xiaoping começou a ser aliviada, com as autoridades até mesmo incentivando os jovens casais que são, eles próprios, filhos únicos, a terem uma segunda criança. Este relaxamento da lei começou a ser implantado a partir de 2013 em algumas cidades. Na metrópole de Xangai, a segunda maior da China, com 24 milhões de habitantes, o incentivo oficial para se ter um segundo filho começou em março do ano passado. Desde então, as autoridades se prepararam para um boom de nascimentos. Mas nada disso aconteceu.
Menos de 5% dos “casais qualificados” de Xangai (16 mil 600) se registraram para ter um segundo filho no ano passado, informou a Comissão de Saúde e de Planejamento Familiar da metrópole. Xanghai apresentou apenas a metade da média nacional de casais que se registraram, pela nova política, em 2014. Em todo o país, 1 milhão de casais, em um total de 11 milhões aptos a serem beneficiados pela lei, anunciaram a sua intenção de ter um segundo filho no ano passado.
Publicidade
Xangai tem 370 mil casais que se encaixam no critério adotado pelo governo para a permissão de ter um segundo filho: 90% das mulheres da cidade em idade de procriar têm hoje a permissão de ter um segundo bebê. Segundo o jornal “Oriental Morning Post”, há dois fatores que influenciam o desânimo destes casais em aumentar as suas famílias: o alto custo de criar e educar uma criança e o fato de muitos casais jovens estarem dedicados demais às suas carreiras, adiando assim a decisão de se tornarem pais e mães.
As autoridades de Xangai, com uma das taxas mais baixas de fertilidade do país e uma população idosa crescente, chegaram a divulgar que “é mais adequado” ter dois filhos agora e fizeram um apelo para os casais seguirem o conselho. Fan Hua, diretor da Comissão Municipal de Saúde e Planejamento Familiar, disse que “duas crianças são o número ideal para a estabilidade familiar e para o desenvolvimento social”, segundo o jornal “Xangai Daily”. “Os casais que estão qualificados pela lei estão sendo encorajados a terem um segundo filho”, informou ele.
Publicidade
O discurso oficial é totalmente oposto ao de 30 anos atrás, quando o jornal “Diário do Povo”, oficial do Partido Comunista, publicou um artigo com o título: “É bom ter apenas um filho; o governo vai apoiá-lo na velhice”. O boom de nascimentos começou nos anos 50, logo após a vitória da revolução maoista. No fim dos anos 70 o governo criou a rígida lei de um filho só e os casais que a violassem eram punidos com multas e até abortos e esterilizações forçadas. A primeira brecha na lei, com permissões localizadas para se ter um segundo filho, aconteceu em 1984. Mas foi há dois anos que o governo decidiu ampliar mais este relaxamento da legislação.
Hoje, a ansiedade sobre os desafios futuros dos programas de bem-estar social voltados para a população idosa aumenta em Xangai e em várias outras cidades. Com 1,4 bilhão de habitantes, a China, que há três décadas estava assustada com o boom de nascimentos, começa hoje a incentivar a sua população a procriar, temendo os efeitos negativos do envelhecimento de sua população. A previsão é de que a mão de obra disponível vai diminuir e existirão menos jovens para tomar conta de pais e avós.
Publicidade
Em 2011, o governo de Xangai informou que tinha a maior percentagem de idosos da China: 24,5% de sua população tinha mais de 60 anos. A expectativa é de que esta taxa aumente para 30% até 2016. No ano que vem, a cidade deverá registrar um total de 4,35 milhões de pessoas acima de 60 anos, enquanto calcula-se que entre 75 mil e 150 mil bebês vão nascer entre 2017 e 2020.
O último censo, em 2010, revelou que a taxa de fertilidade de Xangai é de 0,74 nascidos por mulher, a segunda mais baixa entre as metrópoles chinesas, depois de Pequim. A taxa nacional é de 1.18. Segundo demógrafos do país, o governo estuda há algum tempo a ideia de suspender todas as restrições para se ter um segundo filho em todo o país. No entanto, estes mesmos especialistas alertam que isso não resolverá a crise do envelhecimento na China.
Publicidade