Por monica.lima
"O Brasil é um tipo de milagre geológico%2C com grande futuro"%2C diz Christian StoffaesJacques Demarthon/AFP

O economista, representante da Fundação Getúlio Vargas em Paris, esteve em todas as conferências internacionais sobre o clima desde a origem no Rio, em 1992. Há dois anos, Stoffaes participou no Brasil da Rio + 20, quando anunciou uma proposta para incentivar a eletrificação em países pobres, assunto que será debatido no COP 21, no final do ano em Paris.

O que se pode esperar de novo na reunião deste ano em Paris sobre a Mudança Climática, a COP 21, em termos de políticas de eletrificação?

Em um evento paralelo da Rio+20 fizemos uma proposta que será apresentada na COP 21. Fui secretário geral do E7, grupo das sete maiores empresas de energia, criado na conferência do Rio em 1992 para desenvolver projetos de eletrificação de pequena escala. Já fizemos 15 projetos na África e na América Latina. O projeto foi criado para trabalhar em energia para a África por meio de uma nova agência das Nações Unidas especializada em eletrificação, que coloca nas mãos dos estados africanos o trabalho de desenvolver o programa. Então, estamos trabalhando nisso. Criamos, por ocasião do Rio+20, o Conselho Global para a Eletrificação Sustentável. Acredito que será um tema importante porque deverá haver na COP21 a busca por algo novo. Já não há razão para insistir no protocolo de Kyoto. Nosso argumento é que a eletrificação não tem impacto apenas sobre mudança climática, mas também sobre erradicação da pobreza. Atende as metas do milênio e custaria apenas US$ 5 bilhões a US$ 10 bilhões, o que não é muito dinheiro.

A proposta é que 1% das tarifas de energia da Europa sejam usadas para financiar o programa, não?

Nós fizemos essa proposta. Acreditamos que a ferramenta mais eficiente para promover as energias renováveis foi a “feed-in tariff”, que é a obrigação das empresas de serviços públicos de energia de comprar a eletricidade produzida por produtores independentes a um preço fixo. É uma espécie de subsídio que se mostrou um instrumento muito eficiente. O objetivo é aplicar esse modelo para eletrificar os países pobres. A ideia é cobrar 1% da tarifa para desenvolver isso.

A crise financeira tem tido algum impacto no desenvolvimento de energias renováveis?

Não muito. As renováveis tem uma especificidade: elas não são lucrativas, não são competitivas. Estão se tornando competitivas, mas ainda não são completamente. São subsidiadas.

Mas os países continuam interessados em subsidiar, mesmo com os problemas financeiros?

Sim. Porque, além de não representar muito dinheiro, é bom para a imagem e é uma causa legítima.

Mesmo nos países não desenvolvidos?

Nesse caso, não haverá impacto porque o tema da energia é muito importante. Há um grande esforço para evitar racionamentos, blecautes. É provavelmente o tema mais importante para países em desenvolvimento.

Então o risco de falta de energia pode motivar investimentos em renováveis também?

A mais eficiente e rápida maneira de gerar energia são as plantas a gás ou carvão, mas as renováveis têm suas vantagens. Depois da construção, o custo do combustível é zero e o custo da construção é próximo de zero. Então, isso compensa os subsídios.

Há uma mudança, nos últimos anos, na geopolítica da energia, com os Estados Unidos se transformando em grandes produtores de óleo, carvão e gás barato.Quais os impactos geopolíticos?

Já estamos vendo um efeito imediato na Rússia. O país era bastante arrogante em sua relação com os EUA, era agressivo na Crimeia, mas podia fazer isso porque estava rico com a exportação de petróleo e gás. Agora, o que vemos é a Rússia preocupada com a situação, porque está perdendo receita de exportações. Provavelmente, a revolução na Rússia em 1991 foi causada por isso, porque vinha de um longo período de preços baixos iniciado em 1986. E países produtores de petróleo têm dificuldades de sobreviver a uma década de preços baixos, porque normalmente usam a receita da exportação para investir em políticas sociais, habitação de baixo custo, para subsidiar comida e necessidades básicas. Quando isso é cortado, acontecem as revoluções. Isso aconteceu na Nigéria em 1990. Isso provavelmente aconteceu na Rússia em 1991.

Como o Sr. vê o Brasil neste cenário?

O Brasil é muito rico em termos de recursos naturais. Vocês usam muito a energia hidrelétrica, ainda que não esteja totalmente explorada, e vocês têm óleo e podem se tornar um grande exportador. Vocês são um tipo de milagre geológico, com grande futuro.

Mas não estamos chegando tarde à bonança do petróleo?

Não. Vamos precisar de óleo por muito tempo ainda. Há uma depressão temporária nos preços por causa dos Estados Unidos, mas os preços vão voltar a um bom nível novamente. Vocês não terão problema para viver a bonança do petróleo.

Como a crise da Petrobras pode afetar a imagem do Brasil?

Penso que é um problema doméstico, que vem sendo usado como uma desculpa para atacar a presidenta Dilma Rousseff. Ela tem enfrentado questões na economia, é uma apoiadora do Lula, que é bem popular e fez uma revolução positiva no Brasil. Mas isso foi há dez anos, então a memória se esvaiu e as pessoas estão usando a Operação Lava Jato para atacar ela.

Não é um assunto importante para o investidor?

Não, é doméstico. É uma coisa política. Para os brasileiros, é um grande evento, mas não vejo grande impacto.

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