Por monica.lima

Uma greve de cinco mil trabalhadores chineses em uma fábrica de sapatos que fornece produtos para marcas globais como Prada, Adidas, Nike e Timberland, iniciada no domingo e que prosseguiu na segunda e na terça-feira, evidencia a crescente pressão por mais benefícios e mecanismos de proteção sociais no país que enfrenta cada vez mais o envelhecimento de sua força de trabalho.

A fábrica Stella Footwear, pertencente à Stella International Holdings, com sede em Hong Kong, está localizada no centro da cidade de Dongguan, na província de Guangdong, no Sul da China. Guangdong é um grande centro industrial da China que produz mais de um terço das exportações da segunda economia global. A paralisação começou após as autoridades do governo local ter divulgado novas normas para os pagamentos de fundos para habitação, que variam de 5% a 20% da renda mensal de cada trabalhador, segundo ativistas doChina Labor Watch, com sede em Nova York.

Mas de acordo com um porta-voz da fábrica, apenas algumas centenas de trabalhadores se mobilizaram e a maioria já estaria de volta ao trabalho ontem de manhã. No entanto, líderes dos trabalhadores afirmaram que autoridades locais enviaram reforço policial e teria ocorrido até mesmo confronto. Imagens postadas no Weibo, o equivalente ao Twitter na China, mostram a presença de forte policiamento na frente da fábrica e centenas de trabalhadores uniformizados concentrados nos arredores na terça-feira.

Os trabalhadores chineses exigem também mais acesso a serviços médicos. As novas regras para o fundo de moradia foram postas em práticas no dia 1º e passaram a colocar mais dificuldades para os trabalhadores para ter acesso a verbas para habitação. Além disso, restringe o uso desse dinheiro às compras e aluguéis de casas ou apartamentos apenas à cidade de Dongguan. Os trabalhadores querem ter a liberdade de poder usar os fundos para adquirir ou alugar residências em suas cidades natais, geralmente na áreas rurais.

O grupo Stella International opera várias fábricas na China. A Stella Footwear, de Dongguan, emprega cerca de 10 mil trabalhadores e foi criada em 2003.

Greves estão longe de ser novidade na China comunista. No ano passado, dezenas de milhares de trabalhadores de outra indústria de sapatos da cidade de Dongguan entraram em greve. Os funcionários da Yue Yuen cruzaram os braços para terem aumento de pagamentos de pensões e para chamar a atenção do mundo sobre as causas dos trabalhadores chineses. O governo obrigou a fábrica a pagar dezenas de milhões de dólares em fundos de habitação e seguros sociais devidos a 48 mil trabalhadores. Na China não é permitido ter sindicatos com atuação independente do governo.

As paralisações não se restringem a trabalhadores de indústrias de sapatos. Professores também já entraram em greve várias vezes por causa dos valores das pensões. Ontem, o ministro de Recursos Humanos chinês, Yin Weimin, admitiu que Pequim encara “grande pressão” para equilibrara as finanças dos fundos de pensão.

Segundo ele, o número de pessoas com mais de 60 anos de idade vai mais do que triplicar até 2050, chegando a 39% do total da população do país. Atualmente esta porcentagem é de 15%.

Com uma população cada vez mais envelhecida, o governo chinês anunciou que vai, em algum momento, ser obrigado a elevar, mesmo que gradualmente, a idade oficial de aposentadoria. Para as mulheres, em alguns casos, a aposentadoria é oferecida a partir de 50 anos. O rombo previdenciário, segundo analistas, poderá ser de quase US$ 11 trilhões nos próximos 20 anos. E isso acontece em um cenário de desaceleração da economia chinesa, que neste ano ficará em 7%, segundo o governo: o pior desempenho em 25 anos. Este desaquecimento da economia é chamado por Pequim de “o novo normal” e faz parte de um processo de reformas econômicas que tem entre os objetivos manter o nível de emprego em bases sólidas.

O descontentamento sobre as condições trabalhistas e a oferta de benefícios sociais por parte do governo tem preocupado as autoridades em Pequim. Na semana passada, o premiê Li Keqiang disse que o “governo planeja melhorar os mecanismos de supervisão para lidar com disputas e com questões trabalhistas, e assegurar que a legislação proteja os direitos dos empregados”.

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