Por monica.lima

Nada como o glamour de James Bond para tentar levantar o astral do México, mergulhado em notícias escabrosas de crimes praticados por narcotraficantes apoiados por políticos. O espião mais charmoso das telas, encarnado atualmente pelo ator Daniel Craig, está sendo visto pelas autoridades mexicanas como uma poderoso instrumento de marketing. Autoridades do país teriam oferecido incentivos fiscais de US$ 20 milhões para que os produtores da Sony Pictures e MGM do próximo filme de James Bond, “Spectre”, mudem o roteiro para que o vilão não seja mexicano, mas a heroína sim.

A ideia é mostrar o lado bom do México, que atualmente só é fonte de notícias violentas como o desaparecimento e provável assassinato de 43 estudantes por narcotraficantes em setembro, que chocou o mundo, prejudicando a imagem do governo de Enrique Peña Nieto. Em 10 anos, a onda de violência já matou cerca de 100 mil pessoas. Reportagem do site americano “Tax Analysts”, reproduzida por vários jornais, entre ele o britânico “The Guardian” relata a história com base em e-mails da Sony vazados por hackers.

Autoridades mexicanas — de instituições que não foram reveladas — teriam oferecido os incentivos exigindo, entre outras coisas, que a Bond Girl fosse uma beldade mexicana no filme dirigido por Sam Mendes e que começará a ser rodado na próxima semana. A mocinha será Stephanie Sigman que ironicamente ficou famosa pelo filme mexicano cujo título é sugestivo: “Miss Bala”. Nele, Sigman faz o papel de uma moça pobre que vive no meio da violência relacionada aos traficantes do submundo mexicano.

O roteiro original do filme “Spectre” incluía um personagem assassino, Sciarra, que teria como alvo o prefeito da Cidade do México. Mas as autoridades mexicanas teriam pedido que o vilão não fosse mexicano e que sua vítima fosse um líder internacional. Além disso, teria sido solicitado que uma “força policial especial” substituísse no filme a polícia mexicana.

Na história, uma enigmática mensagem do passado de James Bond o coloca numa investigação sobre uma misteriosa organização criminosa. Enquanto M (encarnado pelo ator Ralph Fiennes) enfrenta batalhas políticas para manter o serviço de inteligência funcionando, Bond dedica-se a desvendar o que é Spectre. Os e-mails vazados sugerem que as autoridades queriam também uma cena que mostrasse a famosa celebração do Dia dos Mortos.

Eleito em 2012, o presidente Enrique Peña Nieto passou os primeiros meses de seu mandato concentrado em uma intensa campanha publicitária que buscava convencer os turistas estrangeiros de que a crise de segurança não era um problema tão grave quanto parecia e que o país estava no caminho da modernização, inclusive com projetos de privatização. Mas talvez nem mesmo o infalível James Bond possa ajudar as autoridades mexicanas. Na semana passada, um candidato a prefeito da cidade de Guerrero, onde morreram os 43 estudantes, foi decapitado. E a prefeita da cidade de Matamoros, Leticia Salazar, escapou por pouco de ser morta em um atentado. O James Bond “hecho en Mexico” terá um quê de bang-bang.

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