Por monica.lima

Rio - A destruição recente de ruínas e estátuas milenares por militantes do Estado Islâmico, com as cenas de barbárie divulgadas pela internet, chocou o mundo. Agora, a ideia de formar uma unidade militar das Nações Unidas especialmente para proteger sítios arqueológicos nas áreas atacadas pelo EI começa a ganhar corpo.

O ministro da Cultura italiano, Dario Franceschini, propôs a criação de unidades de capacetes azuis para proteger o patrimônio cultural mundial ameaçado por guerras, como o que se encontra no Iraque e na Síria, países atacados pelos jihadistas do EI. “Seriam uma espécie de capacetes azuis da cultura”, definiu o ministro ao jornal britânico “The Guardian”, referindo-se à força de manutenção de paz da ONU. “Devemos criar um mecanismo de resposta internacional rápida para defender os monumento e os sítios arqueológicos em zonas de conflito”, completou Franceschini.

Neste mês, vídeos divulgados pelo EI mostravam seus militantes dilapidaram relíquias milenares, além de roubá-las para vendê-las-las no mercado negro. Mas a destruição havia começado antes, em fevereiro. O roubo de peças históricas para serem vendidas a contrabandistas já havia sido noticiado desde o ano passado.

Os militantes extremistas sunitas usaram instrumentos como escavadoras, furadeiras,picaretas e martelos para dilapidar as peças raras e desfigurarem rostos de figuras como a de um touro assírio.

Das ruínas de Hatra _ na antiga Mesopotâmia, uma das primeiras civilizações _ construída provavelmente entre os séculos III e II a.C., os militantes do Estado Islâmico não só destruíram partes do sítio arqueológico, usando inclusive explosivos, como levaram todas as peças de ouro e de prata para comercializar no mercado ilegal de antiguidades, uma forma de se auto-financiarem. Hatra, uma cidade-fortaleza, floresceu entre os séculos I e II d.C como centro comercial e religioso, e resistiu várias vezes à dominação do Império Romano. A antiga Mesopotâmia abrigou várias civilizações, como a Babilônia e a Assíria, por volta do ano 3.000 a.C.

Nimrud foi outro sítio arqueológico atacado. Foi uma cidade batizada em homenagem ao heroico rei bíblico Nimrod e data do século XIII a.C, fazendo parte do antigo Império Assírio. Um dos principais museus do Oriente Médio e sítios arqueológicos próximos a Mossul _ a segunda mais importante cidade iraquiana, dominada pelo EI _ foram alvo da fúria de extremistas que alegavam que tinham o dever de destruir “ a idolatria” inerente às peças, proibida pelo Islã, segundo eles.

Os extremistas já anunciaram que se conquistarem outros lugares, como o Egito, vão continuar a destruição histórica, não poupando nem mesmo as pirâmides. Um país que corre risco imediato é a Líbia. O diretor do Departamento da Universidade de Trípoli, Mustafa Turjman, alertou para a atividade cada vez mais intensa dos jihadistas no país.

“Muçulmanos, estas esculturas são ídolos para os povos de antigamente, que as adoravam em vez de adorarem deus. Os chamados assírios e outros povos tinham deuses para a chuva, para as culturas, para a guerra. O Profeta enterrou os ídolos em Meca”, disseram os extremistas. A UNESCO, agência da ONU para o patrimônio cultural e histórico, considerou a destruição “um ponto de virada na estratégia de limpeza cultural em curso no Iraque”. Irina Bokova, diretora-geral da UNESCO, condenou as destruições dizendo que tratava-se de um crime de guerra. “Antigamente os grandes monumentos eram atingidos acidentalmente durante as guerras, nos bombardeios. Agora eles são atacados de propósito por serem são símbolos culturais e religiosos”, explicou o ministro Franceschini.

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