Por monica.lima

Ela já foi primeira-dama, senadora por Nova York e Secretária de Estado dos Estados Unidos. Hillary Rodham Clinton, 66 anos, será provavelmente o rosto mais conhecido da campanha presidencial americana do ano que vem. Mas se isso pode ser uma vantagem, também traz preocupações. Afinal, Hillary perdeu a indicação nas primárias democratas de 2008 para um Barack Obama que vestia a camisa da “mudança”. Gata escaldada, Hillary prepara uma reforma de sua imagem, segundo o jornal “The Washington Post”. Uma nova embalagem para um produto conhecido desde os anos 90, quando seu marido, Bill Clinton, assumiu a Casa Branca.

Na semana passada a rede de TV “CNN” divulgou uma pesquisa de opinião revelando que Hillary Clinton lidera com vantagem confortável a lista de possíveis candidatos às eleições presidenciais de 2016. Diante da pergunta sobre em quem votariam se ela fosse candidata, 55% dos entrevistados citaram seu nome. O possível candidato republicano que se encontra mais próximo dela é o senador Rand Paul, cujas intenções de voto estão 11 pontos percentuais atrás das de Hillary. Entre os democratas ela também é favorita para as primárias, com uma vantagem de quase 50% sobre o vice-presidente Joe Biden (62% contra 15%) e de mais de 10% sobre a senadora Elizabeth Warren.

Um ex-conselheiro de campanha de Obama disse ao jornal “The Washington Post”: ”Veja a Budwiser. É o que a Hillary Clinton é. Uma das maiores e mais poderosas marcas que existem no país. É importante reconhecer isso”. Mas mesmo assim, os especialistas estão preocupados. Analistas democratas e republicanos acreditam que o desafio de Hillary é duplo: demonstrar que seus princípios transcendem à política e persuadir os americanos de que ela olha para o futuro, não é um nome do passado.

Contra Hillary Clinton há várias questões que poderiam ser usadas como munição eleitoral. Em uma campanha na qual a desigualdade crescente e a necessidade de impulsionar a renda da classe média serão certamente dois temas predominantes, não ajuda muito o fato de a ex-primeira-dama estar sendo criticada porque a fundação de sua família recebe milhões de dólares de bilionários estrangeiros. Por isso, alguns dizem que sua maior fraqueza poderá ser justamente seu sobrenome. É o famoso desgaste de material: há pesquisas que apontam que uma boa parcela do eleitorado americano revela descontentamento com a ideia de que terão como presidente novamente um representante da família Clinton.

As expectativas são de que no próximo mês Hillary lance sua candidatura a presidente, engrossando a pré-campanha que começou nesta semana com o anúncio oficial da candidatura do senador republicano Ted Cruz, de origem cubana.

Apesar de ser a mais conhecida, Hillary, no entanto, não tem dado muitas pistas de seu futuro programa de governo. Mas há um forte lobby da ala progressista do Partido Democrata que defende que Hillary ganhe um toque de Elisabeth. Ou seja, a senadora democrata por Massachusetts, Elisabeth Warren, com ideias bem mais ousadas e muito mais à esquerda do que as da ex-primeira-dama.

Durante meses o nome de Elizabeth Warren foi defendido por esses setores para concorrer à presidência, com a esperança de criar um alternativa à esquerda à candidatura de Hillary Clinton. Mas a própria senadora Elisabeth Warren tem declinado ao chamado. Entre as ideias dela estão as de aumentar os impostos sobre os milionários para bancar os custos de reduzir o débito dos estudantes, expandir os programas de benefícios sociais e reformar Wall Street.

Já começam a surgir críticas de que as sugestões sobre política econômica do futuro programa de governo de Hillary poderão ficar muito influenciadas pela “ala Warren” do Partido democrata, disse o jornal “Financial Times”.

Hillary já sinalizou que sua campanha em 2016 vai enfatizar a política de gênero e seu potencial como presidente mulher. Em uma conferência sobre mulheres profissionais da tecnologia no Vale do Silício, na Califórnia, ela argumentou que era a hora de “quebrar os últimos cacos de vidro do teto” e enfatizou a necessidade de igualdade de gênero e justiça econômica com pagamentos iguais para mulheres e homens.

“Em várias formas a nossa economia parece operar como se ainda estivéssemos em 1955”, disse ela. Mas mesmo nesse quesito ela atrai críticas. Hillary é acusada de hipocrisia porque pagava às mulheres 72 centavos para cada dólar oferecido aos homens em seu gabinete no Senado, segundo o Washington Free Beacon, um website simpatizante da visão conservadora e que fez uma análise de dados oficiais dos gastos da Casa. Esse mesmo evento motivou outra crítica a ela: a de que Hillary dedica muito tempo a públicos de elite, inclusive cobrando pelas aparições. O jornal “New York Times” informou que ela recebeu US$ 300 mil por seu discurso no evento do Vale do Silício.

Analistas republicanos como o estrategista Frank Donatelli, que trabalhou no governo de Ronal Reagan, dizem que um dos problemas de Hillary é querer contentar seus amigos ricos e ao mesmo tempo ser a “melhor amiga” de Elisabeth Warren.

Na última segunda-feira, Obama reuniu-se por uma hora com sua ex-secretária de Estado na Casa Branca. Alguns dizem que a campanha de Hillary será uma forma híbrida da velha marca Clinton com as operações políticas de sucesso de Obama. Algo como “Clintobama”.

Você pode gostar