Por douglas.nunes

De olho na recessão atravessada pelo Brasil, o Uruguai quer ser visto como uma saída estratégica para os empresários brasileiros dispostos a se lançarem ao exterior, como meio de atingir novos mercados e retomar a rota do crescimento, abalada pela crise interna. Para tanto, o país não tem medido esforços. Executivos da pioneira e maior zona franca privada do Uruguai, a Zonamerica, cumprem uma agitada agenda de reuniões com empresários brasileiros e até instituições estratégicas, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A intenção é promover as vantagens de um negócio que reúne hoje 350 companhias multinacionais de serviços — financeiros, administrativos, de recursos humanos e call centers — e de operação logística, empregando mais de 10 mil pessoas, a maioria uruguaios.

Zonamerica responde hoje por cerca de 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do Uruguai e movimentou, em 2014, US$ 54 milhões. O parque de negócios abriga grandes nomes mundiais, como a indiana de Tecnologia de Informação Tata e a multinacional de softwares para a indústria de viagens Sabre; escritórios de assessoramento jurídico e financeiro, como o Citi, KPMG e Deloitte; e empresas de biotecnologia como a Merck, que tem na zona franca um centro de distribuição de produtos para a América Latina e de serviços compartilhados, onde faz o gerenciamento dos departamentos jurídico, financeiro, administrativo e de recursos humanos de suas unidades. A região também serve como centro regional de distribuição de produtos para empresas de logística com negócios na América Latina, como a uruguaia Costa Oriental.

Como uma zona livre especial, Zonamerica conta com uma lei específica, assinada ainda em 1987, que prevê, além da total isenção fiscal aos empresários, a segurança jurídica de que não haverá mudanças na legislação que regula a região, sob pena de indenizações por parte do governo. A autorização para operar como zona especial também tem validade extensa, até 2040.

Essas características, aliada ao perfil da mão de obra local — com 90% dos profissionais com nível superior, inglês fluente e português como segunda língua de estudo —, têm atraído empresários europeus, norte-americanos, argentinos, chilenos e até asiáticos, especialmente os indianos da Tata, um dos maiores empregadores locais, com 1.200 funcionários.

“A crise pela qual a economia brasileira passa impõe necessidades de inovação e aberturas a novos mercados. Esse momento delicado pode ser uma grande oportunidade de os empresários brasileiros olharem para além do mercado doméstico e buscarem soluções que possam lhes garantir redução de custos e um estratégico entreposto comercial para negociações com países da América Latina e o restante do mundo”, afirma Leandro Bonilla, executivo de negócios da Zonamerica.
À frente da Agência de Fomento às Exportações do país, a Uruguai XXI, Alejandro Ferrari avalia que, apesar das relações comerciais globalizadas, os brasileiros estão atrasados e perdem tempo ao permanecerem com olhos fixados apenas na economia doméstica. “A Argentina já tomou o Uruguai como polo estratégico, agora nos falta conquistar o Brasil”, diz.
“Os brasileiros ainda não descobriram os benefícios das zonas francas do Uruguai como centros de serviços de alta qualidade a preço competitivo. Sem falar na qualidade de ser um hub de língua espanhola nas Américas, para aqueles que têm foco em mercados globais”, acrescenta Ferrai.

Sócio do escritório de assessoramento jurídico e financeiro Estudio Posado & Vecino, Raúl Vairo explica que as zonas francas são especialmente vantajosas para as empresas de serviço, que contam apenas com o custo de arcar com a previdência social dos empregados. No Uruguai, a alíquota a ser paga pelo empregador gira em torno de 17% por trabalhador.
“Não existe imposto de renda para a empresa, apenas para os trabalhadores, que podem receber e fazer pagamentos em moeda local ou estrangeira, de forma livre, sem impostos. Já para o empregado estrangeiro, que representa apenas 2% dos funcionários da Zonamerica, ele pode escolher contribuir com o sistema de seguridade social do Uruguai ou do seu país de origem”, esclarece.

O Uruguai conta hoje com 12 zonas livres especiais em seu território, sendo 10 privadas e duas públicas. Dessas, apenas duas são industriais e abrigam empresas finlandesas de celulose, como a UPM e a Montes de la Plata (com participação acionária chilena), que vendem diretamente à Europa. As outras 10 são voltadas para as atividades de serviço — como TI, assessoramento financeiro, administrativo e de RH, além de estocagem e distribuição de produtos para a América Latina. Ao todo, as zonas francas geram 20 mil empregos no país e respondem por 4,8% do PIB uruguaio — que alcançou os US$ 55,3 bilhões em 2014.
As companhias instaladas em Zonamerica estão livres para importar bens de uso, como computadores e máquinas, sem limite de tempo e sem pagamento de tarifas às autoridades uruguaias. Às empresas cabe apenas o pagamento de aluguel aos operadores da zona franca pelo uso do espaço físico, infraestrutura (mobiliário e equipamentos) e serviços de luz, água, esgoto, telefonia e internet, disponibilizados 24 horas por dia e em todos os dias do ano. A estratégia para manter a qualidade do serviço foi contratar as cinco principais empresas que atuam no país: a estatal Antel, Claro, Cisco, Movistar e Dedicado.

Para um país pequeno, de apenas 3,4 milhões de habitantes — pouco mais da metade da cidade do Rio de Janeiro —, a saída para se tornar competitivo foi se voltar para a economia global. Através das zonas francas, o Uruguai atrai empresas estrangeiras, que deixam dinheiro no território por meio do uso dos serviços de água e esgoto, energia e telecomunicações. O país também gera receitas por meio do recolhimento de impostos de pessoa física, visto que a lei das zonas francas condiciona a contratação de mão de obra local. Apenas 25% dos funcionários podem ser estrangeiros.

A eficiência portuária e aeroportuária e sua posição geográfica são outras características que têm reafirmado o Uruguai como um hub logístico da América Latina. “Em Zonamerica estamos a 8km ou 10 minutos do Aeroporto Internacional de Carrasco e a 18 km ou 30 minutos do porto. Sem contar que não temos crimes de roubos de carga no país”, diz Juan Blanco, presidente da Associação Latino-Americana de Logística (Alalog). “No Brasil, um contâiner leva duas semanas para sair do Porto de Itajaí ou de Santos. No Uruguai, Porto de Montevidéu, gastamos no máximo dois dias. Isso é ser competitivo”, salienta.

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