Washington/Atenas - O Fundo Monetário Internacional (FMI) confirmou nesta terça-feira que a Grécia não realizou o reembolso do empréstimo de € 1,5 bilhão ao fundo, tornando-se a primeira economia avançada a ficar em atraso com a entidade. O não pagamento, o maior da história do FMI, é equivalente a um calote, o que implica uma violação das obrigações de Atenas.
O porta-voz do FMI, Gerry Rice, afirmou que a Grécia, agora, só pode receber mais financiamento do fundo quando os atrasos forem quitados.
Ele confirmou que a Grécia solicitou mais cedo nesta terça-feira uma prorrogação de última hora do pagamento, o que a diretoria do FMI irá considerar "no momento apropriado".
O governo de esquerda grego pediu aos seus parceiros europeus um pacote de ajuda de dois anos para cobrir suas necessidades financeiras.
Mais tarde nesta terça-feira, o ministro da Finanças, Yanis Varoufakis, indicou durante telefonema a autoridades europeias que Atenas poderia cancelar um polêmico referendo de 5 de julho se um acordo fosse alcançado, de acordo com fontes da zona do euro.
O esforço diplomático foi uma tentativa de trazer os credores de volta à mesa, depois que cinco meses de negociações inconclusivas levaram a Grécia perto de deixar a moeda única europeia.
As propostas foram feitas enquanto milhares de pessoas protestavam na praça central de Atenas ao longo das últimas 24 horas com duas posturas diferentes: uma para apoiar o governo e outra para pedir que a Grécia permaneça na zona do euro.
A Grécia, como era esperado, não tinha condições de pagar o empréstimo de 1,6 bilhão de euros ao FMI, no que foi o maior calote da história da entidade credora internacional.
O FMI afirmou na noite desta terça-feira que irá examinar um pedido do governo grego para estender o pagamento por dois anos.
As últimas propostas gregas foram feitas tarde demais para evitar o vencimento do atual pacote de ajuda da Grécia, com fundos congelados que o país tanto precisa para pagar salários, pensões e dívida.
Ainda assim, num sinal de que as autoridades europeias não desistiram de encontrar uma solução, os ministros das Finanças afirmaram que irão discutir na quarta-feira o último pedido de empréstimo do primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, efetivamente voltando à mesa de negociações.
Fontes disseram que as autoridades devem discutir na quarta-feira o pedido de Tsipras de um novo empréstimo de dois anos para pagar as dívidas que somam quase 30 bilhões de euros. Tsipras também busca a reestruturação da dívida, um tema que os credores vêm evitando.
Não ficou claro o que a reunião de quarta-feira poderia alcançar.
A confiança entre Atenas e seus parceiros europeus está em frangalhos depois de conversas ásperas. O relacionamento piorou ainda mais depois que a Grécia anunciou no sábado que fará um referendo, em 5 de julho, sobre as propostas dos credores, que preveem reformas em troca de ajuda financeira.
A chanceler alemã, Angela Merkel, descartou novas negociações até depois do referendo de domingo. Uma autoridade grega disse que até a noite desta terça-feira não havia mudanças em relação à realização da consulta popular.
A Grécia recebeu cerca de 240 bilhões de euros em dois programas de resgate do FMI e da União Europeia desde 2010. O recurso permitiu que o país enfrentasse a crise, mas a um custo elevado para a população, que engoliu muitas medidas de austeridade, como cortes nas pensões, salários e serviços públicos.
Com o calote ao FMI, a Grécia está a caminho de deixar a zona do euro, com consequências imprevisíveis para o grande projeto de moeda única da UE e a economia global.
"O que aconteceria se a Grécia saísse do euro? Haveria uma mensagem negativa de que a adesão ao euro é reversível", disse o primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, que há uma semana declarou que não tinha medo de um eventual contágio da crise grega.