Por bruno.dutra

Além de inúmeros problemas políticos e econômicos internos, temem o crescimento de um grupo terrorista mais violento do que os anteriores, o Estado Islâmico (EI). Eficientes no seu esquema de autofinanciamento, eles espalham o terror e provocam o repúdio do mundo com suas execuções bárbaras, algumas gravadas em vídeo e divulgadas na internet. Esses emergentes desviam agora seu foco na direção do crescimento desse tipo de fanatismo religioso. A manutenção da estabilidade política e do crescimento econômico desses países depende em grande parte de sua habilidade em controlar o fundamentalismo islâmico.

Nos últimos meses, o Egito tem lutado contra uma grave crise de energia. Os apagões são cada vez mais frequentes. Algumas regiões têm luz apenas algumas horas por dia e isso vem alimentando a raiva dos egípcios, que há três anos invadiram as ruas do Cairo num protesto gigantesco que acabou na derrubada do governo Hosni Mubarak.

Os apagões ceifaram os cargos de oito funcionários do alto escalão de companhias estatais de eletricidade. Foi ordem direta do presidente Abdul Fatah al-Sisi. Apagões existem em muitos países, mas no Egito eles estão acompanhados de ingredientes políticos. Os funcionários demitidos eram suspeitos de serem simpatizantes da banida organização “Irmandade Muçulmana”. Foram acusados pelo governo Sisi de sabotar hidrelétricas. Na visão do novo presidente do Egito - um ex-chefe militar que foi eleito presidente em maio com mais de 96% dos votos - a Irmandade Muçulmana não é somente um grupo terrorista que tenta minar o Estado. O grupo teria ramificações externas. Por isso, nessa semana, Cairo promoveu ataques aéreos a pontos de milícias islâmicas que seriam afiliadas à Irmandade Muçulmana na vizinha Líbia.

Apesar da tensão em casa e da alegada ameaça da Irmandade Muçulmana, o novo governo egípcio tenta, aos poucos, assegurar a sua posição na região. Há alguns dias os holofotes se voltaram na direção do Cairo, que intermediou um cessar-fogo de prazo indefinido entre palestinos e israelenses na Faixa de Gaza. A atitude reforçou a posição do Egito como o único país capaz de negociar com Israel e o Hamas.

Um país antigo com população jovem e potencial para se tornar uma economia vibrante, o Egito já chegou a bater nas portas do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) no ano passado quando, ironicamente o líder da Irmandade Muçulmana, Mohammed Mursi, era presidente do país. Agora, Mursi está na prisão e Sisi no poder, atropelando os direitos humanos. Seu governo tem enjaulado jornalistas, promovido prisões em massa e eliminado “inimigos” indiscriminadamente. Centenas de pessoas já foram condenadas à morte. Se o Egito não abdicou de seu sonho pós-primavera árabe de se tornar um país emergente que possa encarnar um papel de liderança entre nações árabes, vai precisar acertar os ponteiros em casa. E isso inclui atacar os altos índices de desemprego e inflação.

Nos arredores do Egito - da Líbia, à Síria, até o Iraque - reina o caos. Mesmo países muçulmanos mais distantes, na Ásia, se preocupam com a violenta conjuntura desde que o Estado Islâmico ganhou força e fama, conquistando simpatizantes em vários lugares do mundo. O presidente do país com maior população islâmica do mundo, a Indonésia, disse que as ações do EI são um constrangimento para a religião e instou líderes islâmicos a se unirem para atacar o extremismo. “É chocante. Está saindo fora do controle”, disse Susilo Bambang Yudhoyono, depois de saber que o EI havia divulgado um vídeo mostrando militantes mascarados decapitando o jornalista americano James Foley. Com 225 milhões de habitantes, a Indonésia tem um longo histórico de luta contra o terrorismo islâmico. Uma repressão vitoriosa sobre extremistas acabou nos últimos anos com os grandes atentados. Nos últimos cinco anos, o país tem tido um crescimento de cerca de 5%, mas o alvo é chegar a 7% até 2019.

Líderes de economias emergentes muçulmanas sabem que não apenas as tensões políticas internas são pedras em seus sapatos. As turbulências externas contribuem, e muito, para empacar o seu crescimento econômico. A Turquia, citada como país muçulmano símbolo da democracia, diminuiu seu ritmo de crescimento recentemente. A guerra civil na Síria, sua vizinha ao Sul, teve sua parte de contribuição. Há 200 mil refugiados sírios vivendo em campos governamentais turcos.

Agora, o avanço do EI ameaçando criar um centro do jihadismo radical no coração do mundo árabe, e nas barbas da Turquia, fez com que Ankara ficasse alarmada. Egito, Indonésia e Turquia - muçulmanos, emergentes, e localizados em rotas de fontes de energia que conectam diferentes continentes - são países chave para o crescimento econômico em suas regiões e para a estabilidade política no mundo tudo. O sucesso dos emergentes muçulmanos é uma vitória para o mundo.

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