Rio - Quer acabar com o mau humor, a falta de memória, o desânimo, a irritação e outros males? Muitas vezes, para solucionar estes problemas, basta dormir. É que a insônia pode causar isso tudo. O ideal é procurar um médico para acabar com o grave problema que afeta milhões de pessoas. Mas fazer exercícios, ter uma alimentação saudável, evitar TV, tablets e celulares na hora de dormir também pode ajudar a acabar com a insônia, dizem pesquisadores.
“À noite o nosso organismo está preparado para relaxar. Mas é na cama, na hora de dormir, que muitas pessoas querem ver TV ou ficar no celular, nas redes sociais. Aquela luz que incide sobre os olhos confunde o cérebro, que está no momento de descanso”, explica Edilson Zancanella, professor da Unicamp e coordenador do Departamento de Medicina do Sono da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia.
Para melhorar a aparência, reduzir o estresse, estimular o cérebro e até perder alguns quilinhos, o ideal seria se desligar das confusões do dia a dia. E tentar dormir entre sete e nove horas por dia. “A privação do sono aumenta os hormônios do estresse e reduz a função imunológica. Ler e ouvir música tranquila nos ajudam a dormir bem”, diz Zancanella.
A Associação Mundial de Medicina do Sono diz que a insônia é uma epidemia global que ameaça a saúde e a qualidade de vida de até 45% da população mundial. De acordo com a instituição, o mundo vive uma epidemia de restrição do sono. E os distúrbios são um fator de risco para transtornos mentais, como depressão e ansiedade.
Otorrino especializado em distúrbios do tipo e professor da Uerj, Lucas Lemes diz que algumas práticas consideradas crendices podem ajudar a dormir. Para ele, um copo de leite quente à noite ou um banho morno servem como calmantes. “Aquilo que chamam de receita da vovó, como leite quente, libera serotonina (hormônio) que ajuda a relaxar. É quase um remédio”, ensina.
O corre-corre e a barulheira nas grandes cidades, o trabalho estressante, a falta de tempo para boa alimentação e outros problemas relacionados às metrópoles são um sério problema na vida da população. Com isso, entre 40% e 50% das pessoas que vivem em grandes capitais, como Rio e São Paulo, dormem mal. “No mundo atual, o mundo moderno, há muita dificuldade para dormir por falta de tempo”, diz Lemes, que há 17 anos pesquisa os distúrbios do sono.
De acordo com o médico Lawrence Epstein, autor do ‘Guia da Escola de Medicina de Harvard para uma boa noite de sono’, a duração do sono, por exemplo, diminuiu de uma média de oito horas na década de 1950 para sete nos últimos anos. Com relação a isso, a pressão arterial e a frequência cardíaca atingem os níveis mais baixos durante o sono. E, geralmente, quem dorme menos tende a ter pressão mais alta.
Médicos alertam que é preciso ter muito cuidado com remédios tarja preta, normalmente utilizados indevidamente por quem sofre de insônia. Sete entre dez pacientes com insônia que vão a consultórios querem remédio para dormir. “Há casos em que pacientes ficam dependentes em apenas três meses”, alerta Edilson Zancanella.
A administradora de imóveis Tereza Ignez, de 55, anos, é uma dessas pacientes que só dormem à base de remédios ou bebida alcoólica. Vivendo num apartamento de frente para a Avenida Nossa Senhora de Copacabana, uma das mais barulhentas do bairro, ela diz que consegue dormir, em média, três horas por noite. “Na maioria das vezes só durmo quando tomo remédio ou bebo taças de vinho. Se eu não dormir direito acordo indisposta, não consigo ir à academia, fico um caco. Passo por isso há quase 30 anos, desde que meu filho nasceu”, queixa-se ela.
Para pesquisar problemas assim, a UFRJ criou o LabSono, o primeiro laboratório de polissonografia da rede pública no Estado do Rio, onde o paciente passa a noite para ser examinado. O laboratório surgiu do Programa de Hipertensão Arterial, desenvolvido pelo próprio hospital da universidade.
Baseado numa pesquisa do Instituto do Sono, Zancanella diz que 32,9% dos brasileiros com idade produtiva sofrem de apneia do sono (param de respirar enquanto dormem). “Essa também é uma das causas que interrompem um bom sono”, afirma o médico, lembrando que 30% das mulheres pós-menopausa e 5% de crianças têm tendência a ter este problema.
Reportagem de Marlos Bittencourt