Por gabriela.mattos

Franção - O oitavo dia de manifestações contra o projeto de reforma trabalhista que o governo francês pretende implementar foi marcado pela tensão, que gerou distúrbios em diferentes pontos do país nesta quinta-feira. A queda de braço entre os principais sindicatos e o primeiro-ministro Manuel Valls por conta das remodelações ao código de trabalho voltou às ruas e continuou a afetar setores sensíveis da economia francesa como o transporte, os combustíveis e o fornecimento de energia elétrica.

A escassez ameaça os postos de gasolina, dos quais entre 20% e 30% tiveram as reservas esgotadas. O motivo para o problema é que seis das oito refinarias do país se encontram total ou parcialmente paradas, segundo a União Francesa de Indústrias Petrolíferas (UFIP).

A greve também afeta desde a noite da quarta-feira as 19 usinas nucleares do país (que geram mais do 75% da eletricidade), cujos 58 reatores não foram desligados, mas funcionaram com uma baixa de carga, que nesta manhã era de 5.000 megawatts.

Tensão marca novos protestos contra reforma trabalhista na FrançaEfe

Enquanto isso, a greve de controladores aéreos organizada em meio aos protestos resultou o cancelamento de 105 voos no aeroporto parisiense de Orly hoje. Um porta-voz da diretoria da Aviação Civil (DGAC) ressaltou à Agência Efe que os cancelamentos corresponderam às orientações dadas às companhias aéreas para que reduzissem em 15% a programação em Orly.

Mas esta quinta-feira foi o dia dos manifestantes, que foram às ruas em grande número para protestar contra o que consideram uma rendição do governo socialista às políticas neoliberais. Cerca de 20 mil pessoas segundo a polícia — o sindicato Força Operária elevou calculou 100 mil — participaram da manifestação em Paris, entre as praças da Bastilha e da Nação.

A tensão era clara na praça da Nação, com centenas de agentes antidistúrbios bloqueando o acesso ao local após dezenas de encapuzados queimarem contêineres e lançarem objetos em direção à polícia, que respondeu com o uso de gás lacrimogêneo. De acordo com a imprensa francesa, às 19h locais (12h em Brasília) tinham sido detidas pelo menos 31 pessoas por participação nos incidentes.

A polícia vistoriava as bolsas e mochilas de todos que se aproximavam à manifestação e advertia que era melhor não irem ao local devido ao risco de novos confrontos, enquanto um grupo de manifestantes equipados com capacetes e lenços se misturava ao resto dos participantes do protesto.

Entre a fumaça deixada pelos gás lacrimogêneo e por pequenos incêndios, cartazes com palavras de ordem como "Exigimos a democracia" eram espalhados por alguns dos sindicalistas presentes como Jean Kister, da Confederação Geral do Trabalho (CGT).

"Estamos dispostos a ir até o fim. O objetivo das manifestações e das greves é a retirada completa do texto porque é uma volta ao século XIX", afirmou o sindicalista da divisão de pesquisa da CGT. Uma mensagem de firmeza similar, embora de conteúdo oposto, foi dita hoje pelo primeiro-ministro, Manuel Valls, para defender que "não será modificada a filosofia geral do texto", e principalmente o polêmico artigo 2, que estabelece a primazia da negociação dentro da empresa, em detrimento dos convênios coletivos.

O ministro das Finanças, Michel Sapin, tinha aberto a porta anteriormente para um replanejamento do polêmico artigo, em um racha dentro do governo, mas Valls se apressou para negar essa possibilidade de forma taxativa.

Além disso, o primeiro-ministro se mostrou muito crítico em relação à mobilização feita pela CGT, que considerou "irresponsável", e alertou que as autoridades vão "continuar desbloqueando" as instalações petrolíferas e industriais cujos acessos foram fechados pelos grevistas. "Todas as possibilidades estão sobre a mesa", disse Valls em uma entrevista ao canal "BFM TV" quando perguntado se poderia recorrer às disposições que permitem obrigar os grevistas a voltarem ao trabalho em caso de força maior.

O chefe do governo reiterou que o projeto de lei para a reforma trabalhista acabará sendo aprovado e não descartou voltar a utilizar o mecanismo constitucional ao qual já recorreu para evitar a votação na Assembleia Nacional, onde não tinha maioria pela fratura em seu próprio partido socialista. 

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