Por lucas.cardoso

Londres - O secretário-geral da ONU, António Guterres, fez nesta terça-feira uma visita "de emergência" à Somália, de onde exigiu medidas imediatas para evitar que a grave seca que afeta o país resulte uma nova crise de fome como a ocorrida em 2011, quando 250 mil pessoas morreram.

"O mundo precisa agir agora para evitar uma crise humanitária", alertou Guterres durante uma viagem não anunciada ao país para abordar a crise pela qual 6,2 milhões de somalis - mais da metade da população - necessitam ajuda.

Após chegar à capital, Mogadíscio, Guterres teve um breve encontro com o novo presidente Mohammed Abdullahi "Farmaajo", que expressou a necessidade de ajuda da comunidade internacional para que seja evitada uma crise de fome "iminente".

"Este é um momento de tragédia, mas também é um momento de esperança com um novo governo somali que está preparado para agir", disse Guterres, que detalhou que são necessários US$ 825 milhões para atenuar as consequências da seca registrada nos últimos meses.

A escassez aumentou o preço da água e as comunidades se viram obrigadas a recorrer a fontes perigosas que aumentaram o risco de contrair doenças como cólera e diarreia. Neste ano, pelo menos 196 pessoas morreram por essas doenças, especialmente no sul do país, enquanto mais de 7,9 mil pessoas foram afetadas pelo novo surto de cólera, segundo a ONU.

Guterres também foi a Baidoa, capital da região de Bay, uma das mais prejudicadas pela seca e onde na semana passada morreram 110 pessoas em apenas 48 horas devido à escassez de água e às doenças agudas. O diplomata português se reuniu com as autoridades locais e visitou um campo de deslocados internos para conhecer de perto a situação dos somalis que tiveram que deixar suas casas devido a esta crise.

As autoridades alertaram que a situação piora a cada dia na região, onde o maior desafio é a restrição do acesso da ajuda humanitária devido à presença do grupo jihadista Al Shabab, que controla amplas zonas do sul e do centro do país.

O chefe humanitário das Nações Unidas, Stephen O'Brien, aproveitou a visita para se reunir com as agências humanitárias mobilizadas no país para traçar um plano de resposta urgente. Além disso, pediu às autoridades que intensifiquem os esforços para facilitar um maior acesso humanitário às regiões afetadas.

Segundo a ONU, cerca de três milhões de somalis estarão em situação de emergência alimentar em junho de 2017 e 950 mil crianças menores de cinco anos sofrerão desnutrição aguda neste ano, das quais 185 mil morrerão se não receberem tratamento médico imediato.

Por isso, organismos internacionais temem que esta grave situação resulte uma nova crise de fome como ocorreu em 2011, quando aproximadamente 250 mil pessoas morreram, mais da metade delas menores de cinco anos. Os países da região também alertaram que uma nova crise de fome pode piorar a situação da Somália, onde a ameaça jihadista e os confrontos entre etnias pelos recursos causam vários conflitos.

A Somália, que concluiu em fevereiro seu processo eleitoral mais democrático nos últimos 47 anos, carecia de um governo efetivo desde a queda do ditador Siad Barre em 1991, que deixou o país em mãos de milícias radicais islâmicas, "senhores da guerra" e grupos armados.

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