Washington - Foi tenso o primeiro encontro de Estado entre Donald Trump e Angela Merkel, nesta sexta. Houve alguns afagos, mas as alfinetadas e um certo mal-estar sobressaíram — nem um aperto de mãos no Salão Oval foi encenado para os fotógrafos.
Na pauta, o custeio da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), acordos comerciais e, claro, a política migratória, principal divergência entre os dois países.
Diante da cobrança do presidente americano, a chanceler garantiu que a Alemanha empenhará 2% de seu PIB para a conta que mantém a Otan.
“Muitas nações devem vastas quantidades de dinheiro (à Otan), e é muito injusto para os EUA. Estas nações devem pagar o que devem”, vociferou Trump. “Agradeci à chanceler Merkel pelo compromisso de avançar com a contribuição”, afagou.
Outro momento de tensão foi quando, na coletiva, perguntaram sobre o decreto anti-imigração de Trump. “A imigração é um privilégio, e não um direito”, destacou o presidente. “Reconhecemos que a segurança migratória é segurança nacional. Devemos proteger nossos cidadãos daqueles que tentam divulgar o terrorismo, o extremismo e a violência dentro de nossas fronteiras”, continuou.
Ano passado, na campanha, Trump havia acusado Merkel de “destruir a Alemanha” com sua política de receber refugiados. Com relação a comércio, Trump disse à chanceler alemã que os americanos foram tratados de maneira injusta pelos outros países: “Eu sou a favor do livre comércio, mas também do comércio justo”, afirmou o mandatário. Já Merkel disse que espera que os EUA possam retomar as negociações para um acordo comercial com a União Europeia.
Quando perguntado pela imprensa sobre as acusações que fez contra o ex-presidente Barack Obama, de que ele teria grampeado seu telefone, Trump disse que ao menos nisso ele e Angela Merkel tinham “algo em comum, talvez”. Foi uma referência à revelação, em 2015, de que Merkel vinha sendo espionada pelo governo americano há anos.
Trump critica testes de Kim Jong-un
Relação nada cordial é com a Coreia do Norte. Trump recriminou Kim Jong-un ontem por “comportar-se muito mal”, e também a China, que “fez muito pouco para conter o regime norte-coreano”. “A Coreia do Norte vem brincando com os Estados Unidos durante anos e a China fez muito pouco para ajudar”, tuitou.
Os comentários do presidente acontecem depois que seu secretário de Estado, Rex Tillerson, afirmou na Coreia do Sul que a diplomacia paciente do governo de Barack Obama para lidar com o programa nuclear norte-coreano acabou e que todas as “opções estão abertas”. Tillerson será recebido hoje em Pequim pelo presidente Xi Jinping e pelo primeiro-ministro Li Keqiang.
Cultura se une contra cortes
O mundo do cinema e da música investe contra Donald Trump pelos cortes que ele planeja fazer nas verbas orçamentárias destinadas à arte e à cultura, em detrimento da segurança nacional.
Entre as várias vozes que criticaram o plano está a da Academia da Gravação dos EUA, que organiza o Grammy. “A proposta da Casa Branca é míope e alarmante”, disse Neil Portnow.
O Instituto Sundance afirmou que “apoia energicamente” os Programas Nacionais para as Artes. “Deixar de financiá-los solapa nosso patrimônio artístico e prejudica nosso futuro”, acrescentou.
Julie Andrews e a filha, a escritora Emma Walton Hamilton, escreveram carta aberta. “Nunca foi tão crucial defender e apoiar as artes, não só em nossas escolas, na vida.”