Rio - Quando o celular de Alana Dutra, de 21 anos, caiu na privada, ela reconheceu ter um vício: o WhatsApp. Enquanto o aparelho secava no arroz, a estudante acordava no meio da noite procurando-o. Foram dois dias difíceis para ela, que estima passar até oito horas diárias checando seus 15 grupos. “Acordar no meio da noite para ver se tem mensagem é comum. Sempre me atrapalha na hora de estudar e de dormir”.
Assim como Alana, muitos dos mais de 100 milhões de brasileiros conectados ao WhatsApp não conseguem passar um dia sem o aplicativo. Mas o uso excessivo, segundo Fátima Vasconcelos, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria, aumenta o risco de ansiedade e até de depressão. O app dá a possibilidade de obter aprovação imediata por meio das mensagens e oferece grande número de estímulos.“Quando não se consegue a aceitação, impacta a autoestima, principalmente em adolescentes. Nos grupos, fica amplificado o sentimento de rejeição, causa um efeito maior na autoestima e pode levar à depressão,muito comum em jovens”, diz.
De acordo com a psicóloga Renata Bento, os estímulos constantes também podem gerar baixa capacidade de concentração. Nos mais novos, este elemento pode levar ao baixo rendimento escolar. Nos adultos, pode prejudicar o desempenho profissional. A hora de dormir também é afetada, afirma ela. “O sono é quando você se desconecta da realidade externa para ficar em contato com sua realidade interna. Se você está conectado com os outros, não tem esse contato consigo mesmo. O app cria uma falsa ideia de se estar com alguém o tempo todo, mas é uma realidade ilusória”, afirma.
Mas como saber que você já passou do limite? Para Sônia Bromberger, da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro, o WhatsApp é uma ótima ferramenta de comunicação, mas não pode substituir conexões mais profundas. “O excessivo é quando se substitui o olho a olho, a conversa”, conclui.
Concentre-se
?O master coach trainer João Alexandre Borba montou as dicas a seguir para passar menos tempo no WhatsApp:
?1 - Personalize os toques. Coloque diferentes tipos de notificação para cada grupo de contatos. Pessoas mais próximas devem ser identificadas com sons especiais. Checar o WhatsApp o tempo todo traz uma carga emocional muito grande e o cansaço mental vem muito mais rápido. Se você não controlar o aplicativo, vai receber muito estímulo de todos, e não só das pessoas que importam.
2 - Estabeleça horários. Programe-se para checar o WhatsApp em intervalos regulares, como de 40 minutos a 1h30. Quando estiver respondendo às mensagens, não se prolongue muito. Nessa hora, utilizar áudios ajuda. Estabelecer uma janela de tempo específica para atender às demandas do aplicativo evita que isso se torne uma tarefa que consome o dia inteiro.
3. Não ‘mime’ seus contatos. Evite acostumar as pessoas a receberem uma resposta imediata. Assim, a expectativa sobre você diminui e a frustração do outro lado também fica menor. Procure entender o WhatsApp como uma secretária eletrônica, e não se cobre demais. Responda quando puder.
4. Desative o ‘visto por último’. Ver uma mensagem com dois ‘checks’ azuis ou saber que alguém está online sem obter resposta é fonte de frustrações e até pontapé para brigas. Ao desativar estes recursos, você garante mais privacidade e menos cobrança. Ser encontrado o tempo todo diminui a liberdade e acaba tirando você de momentos mais íntimos.
5. Evite o uso 1h antes de dormir. Os vários estímulos que o WhatsApp oferece atrapalham o sono. O uso traz muitas emoções, você fala com muitas pessoas de contextos diferentes. É uma carga emocional grande para um momento em que você deveria estar desligando.
6. Silencie. Você pode e deve silenciar as notificações em momentos de descanso. Responder a demandas do chefe fora do horário do expediente pode configurar hora extra.
Fonte: João Alexandre Borba, mastercoach
Reportagem da estagiária Alessandra Monnerat, com supervisão da editora-assistente Rosayne Macedo