Por karilayn.areias

Rio - Criados na década de 1970, os videogames foram paixão infantil. Mas hoje, meio século depois, ao se transformarem na maior indústria de entretenimento mundial, à frente até da música e do cinema, os amantes de jogos eletrônicos têm novo perfil. A quarta edição da Pesquisa Game Brasil 2017 revela que as mulheres, adultas, já são mais viciadas que os homens em jogos virtuais. Mas o hobbie, se não for controlado, pode virar um grande vilão, causando dependência e problemas de saúde.

Especializado em ‘detox digital’, o pesquisador Eduardo Guedes, fundador do Instituto de Psiquiatria (Ipub) da Universidade Federal do Rio (UFRJ), atesta o aumento no número de mulheres em busca de tratamento para a compulsão por games.

“De cada 10 novos atendimentos que fazemos, mais de 30% são pessoas com vícios exclusivamente em videogames, das quais um terço, aproximadamente, mulheres, acima de 21 anos”, contou Guedes. Nos últimos três anos, o Instituto Delete já atendeu mais de 500 pessoas com sintomas de dependência tecnológica. Boa parte teve que ser encaminhada para hospitais com problemas de coluna, visão e tendinites.

De acordo com o levantamento da Game Brasil, feito com quase três mil internautas, nos últimos quatro anos, o público feminino na jogatina online passou de 41% para 53,6%, superando o vício antes dominado pelo sexo masculino. Outra revelação: a faixa etária das mulheres que se declaram viciadas por games, vai de 25 a 34 anos (36,2%).

Do total de entrevistados, crianças de até 15 anos representaram só 0,8%. A pesquisa foi realizada em parceria entre a agência Sioux, a empresa de pesquisa Blend New Research e a Game Lab, divisão da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

“O problema não é a tecnologia e sim como lidar com ela de maneira educada e regrada. Esse é o principal desafio”, ressaltou o psicólogo João Alexandre Borba.

Rita Calegari, psicóloga da rede de hospitais São Camilo, uma das maiores especialistas do assunto no país, diz que, para evitar dependência em videogames no futuro, é preciso que os pais estejam atentos.

“Não existe regras de horários para uso de tecnologia. O que não pode faltar nunca é o diálogo, o olho no olho com os filhos. Além disso, cada momento com eles longe de aparelhos eletrônicos, devem ser bem aproveitados, como fazer um bolo, ir à praia, fazer uma trilha, ir a uma feira de artesanato, ou a um parque”, ensinou. 

Pais aprovam a brincadeira, mas se preocupam com o tempo gasto

A Pesquisa Game Brasil revelou que 65% dos pais gostam que os filhos joguem porque ficam “mais quietos e não se expõem à violência nas ruas”. Entretanto, a preocupação é com o longo tempo deles nos games.

“Percebi que meu filho (y., de 13 anos) é viciado em games porque eu também sou. Estou me tratando”, contou X., 49, paciente do Instituto Delete, confessando que passou a jogar até no trabalho, onde recebeu advetência.

A psicóloga Rita Calegari alerta que mudanças repentinas de humor podem ser indícios de quando o mundo virtual começa a substituir relações pessoais. “Os pais devem ficar ao lado dos filhos, entrar no mundo virtual com eles, estarem mais presentes”, aconselhou. Quando o vício sair de controle é hora de procurar o médico. No Rio, a Santa Casa de Misericórdia, oferece tratamento para depententes em videogames.

O levantamento aponta que 77,9% dos gamers utilizam smarphone para a jogatina, o que contribui para a maior dedicação de horas na atividade. Em segundo lugar, está o computador, com adesão de 66,4% dos jogadores.

Você pode gostar