Melbourne - O chefe de Finanças do Vaticano, cardeal George Pell, acusado de abuso sexual na Austrália, compareceu nesta quarta-feira a um tribunal de Melbourne, onde se declarou inocente.
O advogado Robert Richter disse à corte que seu cliente nega todas as acusações, mas a alegação de inocência não foi formalizada por se tratar de uma audiência preliminar.
Visivelmente debilitado, o cardeal, de 76 anos, se apresentou a corte após o papa Francisco dar uma licença para que pudesse se defender.
A polícia australiana acusa Pell de abuso sexual, sem dar mais detalhes sobre a denúncia, explicando a necessidade de preservar a integridade do processo judicial.
Pell foi arcebispo de Melbourne entre 1996 e 2001 e depois se tornou arcebispo de Sidney até 2014, quando foi para o Vaticano, convocado pelo papa Francisco para administrar as finanças da Igreja Católica.
Número três da Igreja Católica e prefeito da secretaria de Assuntos Econômicos, Pell é o eclesiástico de maior graduação já acusado de abuso sexual.
O Vaticano tem reafirmado seu apoio ao cardeal, destacando o respeito do papa Francisco por sua "honestidade" e sua "enérgica dedicação" às finanças da Santa Sé.
Longa investigação
A denúncia contra Pell ocorreu ao final de uma longa investigação iniciada pelas autoridades australianas em 2012, com base em relatos de abusos sexuais contra menores.
Uma comissão tomou milhares de depoimentos e escutou denúncias de abusos contra crianças envolvendo igrejas, orfanatos, clubes esportivos, grupos de jovens e escolas.
Pell compareceu em três ocasiões para depor sobre o caso e admitiu em uma comissão de inquérito ter "falhado" em sua gestão envolvendo padres pedófilos no estado australiano de Victoria nos anos 1970.
O caso Pell tem origem nas investigações de uma unidade especial da polícia de Victoria a partir de informações de uma comissão parlamentar.
Segundo dados da investigação publicados em fevereiro, 7% dos padres católicos eram suspeitos de abuso sexual contra menores na Austrália entre 1950 e 2010, mas jamais foram oficialmente denunciados.
No total, 4.444 supostos incidentes foram relatados às autoridades eclesiásticas e, em algumas dioceses, até 15% dos padres acabaram envolvidos em denúncias de abusos.