Por marta.valim

Impulsionado pela migração de usuários 2G para o 3G e pela explosão dos serviços de quarta geração, o avanço da banda larga móvel no país deixou para trás um velho conhecido dos brasileiros. Enquanto o total de acessos de banda larga móvel aumentou quase 68% entre março de 2013 e o mesmo mês deste ano, o volume de modems de terceira geração manteve-se praticamente estável no período. Uma das principais razões para essa estagnação foi a migração de usuários para o acesso via smartphones e modems 4G.

Depois de chegar à casa dos 7,09 milhões de unidades em junho do ano passado, de acordo com números da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o dispositivo vem perdendo espaço mês a mês. “Mantido o patamar de queda atual, o modem 3G deve fechar 2014 num nível de 6,5 milhões de unidades”, estima Samuel Rodrigues, analista de mercado da consultoria IDC Brasil. “Não vejo como cair mais que isso. Dificilmente vão chegar a seis milhões, a menos que ocorra uma oferta muito agressiva no 4G”.

Na outra ponta, os acessos 3G por aparelhos saltaram de 61,3 milhões, ao fim do primeiro trimestre de 2013, para 105,4 milhões em março deste ano, uma expansão de 72%, conforme indicam dados da Anatel compilados pela consultoria Teleco. Já os acessos 4G por aparelhos tiveram crescimento acelerado no período — passaram de 15 mil para 2,07 milhões. “A tendência é de migração para o smartphone, tanto 3G quanto 4G”, resume Eduardo Tude, presidente da Teleco.

Rodrigues — do IDC — identifica no topo da pirâmide de usuários de banda larga móvel a tendência de substituição gradual dos modems 3G pelos 4G. Isso não quer dizer que os dispositivos de terceira geração, normalmente conectados à entrada USB do notebook ou do desktop vão desaparecer no curto e médio prazo. “Há bastante espaço para os serviços coexistirem por um bom tempo. No Brasil, o modem 3G assumiu papel de complementação do acesso fixo”, explica o analista. Os efeitos do uso crescente de modems 4G ainda não aparecem claramente nos números da Anatel porque, segundo explicou a assessoria de imprensa da agência, o total de acessos de quarta geração por aparelhos aparece misturado ao de modems.

Em áreas onde a banda larga fixa não chega, a alternativa de uma conexão sem fio à internet é atraente, mesmo a uma velocidade máxima de 1Mbps (megabit por segundo), como a dos modems 3G. No Brasil, onde boa parte das conexões fixas à web são feitas pela tecnologia ADSL (via linha telefônica digital), o acesso sem fio representa uma oportunidade para economizar o dinheiro da taxa de assinatura básica. “A tecnologia ADSL exige que o cliente tenha uma linha fixa. Para não pagar pela linha, o usuário pode, por exemplo, contratar um celular pré-pago e um modem 3G”, exemplifica Rodrigues. Outro fator que garante sobrevida ao modem de terceira geração é a cobertura desse tipo de tecnologia no país. A área de cobertura do 4G ainda abrange apenas 30% da população brasileira, aproximadamente, enquanto o 3G engloba cerca de 90%.

Entre as operadoras móveis brasileiras, Vivo/Telefônica e TIM sustentam que a demanda pelo serviço 3G via modem continuará a existir. Por meio de sua assessoria de imprensa, a TIM ressaltou que “existe uma demanda reprimida de clientes que precisam ou gostariam de utilizar esse serviço e não conseguem, principalmente pelo preço”. O custo de um plano é de, no mínimo, R$ 40 por mês, além do valor do modem, frisou a companhia. “Sabemos que a utilização de internet em modems não acontece de forma diária, como a de smartphones, e que, por isso, os clientes têm a percepção de que pagam um valor alto por um uso esporádico”, disse a TIM, acrescentando que acaba de criar um plano para atender a necessidade desses consumidores, com tarifação por dia de uso.

Para a Vivo/Telefônica, a navegação via smartphones 4G tende a “substituir parcialmente a necessidade de internet com mobilidade para uma determinada parcela de cliente”. Mas, em nota, a empresa fez questão de destacar que a conectividade oferecida pelo modem USB atende um público diferente do usuário de smartphone, com necessidade de conectar o notebook à internet em qualquer lugar. A Vivo/Telefônica ainda tem modems 3G em estoque, mas informa que, com a expansão do 4G, “está substituindo uma parcela cada vez maior do estoque por devices 4G, que oferecem uma experiência de navegação ainda melhor ao cliente.”

A Claro, por sua vez, reforçou que, por conta da amplitude de sua cobertura e serviços de quarta geração, “a tendência natural é que a procura pelo 4G aumente e os clientes optem por dispositivos compatíveis com a tecnologia, para que a experiência de navegação seja completa”. A Oi preferiu não comentar o tema.

A chinesa Huawei, fabricante que tem em seu porfólio de produtos modems 3G, enfatizou que o dispositivo ainda tem espaço no mercado de banda larga móvel atual. Paralelamente, a empresa continua investindo em novas tecnologias. “Recentemente, a Huawei anunciou que investirá US$ 600 milhões no desenvolvimento do 5G nos próximos cinco anos”, contou José Luiz do Nascimento, diretor de Vendas de Terminais da Huawei.

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