O status da Vale como a pagadora de dividendos mais generosa entre as grandes empresas de mineração será posto à prova se os preços do minério de ferro não se estabilizarem após caírem para os valores mais baixos em dois anos.
A alta dos custos dos fretes implica que a Vale, com sede no Rio de Janeiro, ganha entre US$ 10 e US$ 15 a menos por tonelada do que a BHP Billiton e o Rio Tinto, segundo o Citigroup, o que a torna mais vulnerável do que suas rivais australianas à medida que a expansão da produção e a desaceleração do crescimento da demanda na China empurram os preços para menos de US$ 100 por tonelada. Ao mesmo tempo, a Rio Tinto está aumentando sua produção mais rapidamente do que a Vale, permitindo à empresa com sede em Londres desterrar concorrentes com maiores custos e ganhar participação no mercado.

Embora as vendas de ativos e a redução de custos signifiquem que a capacidade de pagar dividendos da maior produtora de minério de ferro do mundo esteja garantida para este ano e o próximo, os pagamentos para 2016 estão em risco caso o preço do minério continue caindo, segundo o Citigroup e a UBS AG.
“Alguns investidores no Brasil acreditam que o dividendo da Vale é intangível”, disse Alex Hacking, analista de ações do Citigroup, em entrevista por telefone de Nova York. “A Vale somente pode pagar o que o preço do minério de ferro lhe permitir pagar. Há cenários para esse preço que requereriam uma redução de dividendos”.
Rendimento mais alto
“Ofereceremos fluxos de caixa livres para reduzir apropriadamente nossos níveis de dívida e distribuir dividendos crescentes aos nossos acionistas”, disse o presidente da mineradora, Murilo Ferreira, durante uma conferência em Miami, em maio.
O rendimento estimado dos dividendos da Vale, de 6,7%, o maior entre as 10 empresas de mineração com maior cotação, segundo dados compilados pela Bloomberg. A estimativa é que a BHP e a Rio Tinto paguem cerca de 4% nos próximos 12 meses, mostram os dados.
No mês passado, a Vale pagou US$ 2,1 bilhões aos acionistas em dividendos de 2014, a primeira parcela de pelo menos US$ 4,2 bilhões que concordou em desembolsar neste ano. Desde 2011, ano em que teve o retorno recorde de US$ 12 bilhões, incluindo uma reaquisição de ações por US$ 3 bilhões, a companhia tem reduzido seus dividendos à medida que os preços dos metais caíram. No ano passado ela distribuiu US$ 4,5 bilhões.
Crescimento da oferta
O minério de ferro prolongou seu declínio e caiu nesta quarta-feira para o menor preço em 20 meses, em meio preocupação com que a oferta global esteja crescendo mais rápidamente do que a demanda na China, a maior consumidora do ingrediente usado na fabricação de aço.
As ações da Vale recuaram 5,2% em dólares nos últimos 12 meses, ao passo que a Rio Tinto e a BHP avançaram 16% e 13%, respectivamente. As ações operam a menos de seis vezes os lucros estimados, a menor razão entre as maiores companhias de mineração, mostram os dados. A maior delas, a BHP, possui uma razão de 13 vezes, e a Rio Tinto opera a dez vezes.
Atualmente, o “trabalho fantástico” de Ferreira para transformar a empresa coincide com a queda do minério de ferro, disse George Cheveley, gerente de carteira de ações de commodities e recursos naturais da Investec Asset Management, que possui mais de US$ 110 bilhões em ativos sob gestão.
“Claramente, a Vale não afundará por causa disso, mas de qualquer forma eles precisam investir muito capital, e se o preço do minério de ferro estiver caindo, é difícil se entusiasmar muito com essa ação” disse ele em comentários enviados por e-mail.