Por marta.valim

Com apenas 1,5% da sua frota de veículos desmontados e reaproveitados a cada ano, o Brasil ainda engatinha num mercado que movimenta cerca de US$ 25 bilhões por ano nos Estados Unidos, de acordo com dados da Associação de Recicladores Automotivos (ARA). Montadoras, seguradoras e empresas destacam os benefícios decorrentes de duas leis — uma estadual e outra federal — que tratam do tema: diminuição no preço dos seguros, redução das emissões de gases poluentes e decréscimo nos gastos de manutenção. Apesar das vantagens, todas as partes concordam que há um longo caminho a seguir quando se trata da renovação da frota brasileira.

“Dos 81,6 milhões de veículos registrados no Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) em 2013, 37,1 milhões tinham mais de dez anos de uso”, diz Neival Freitas, diretor-executivo da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg). Quando se consideram os veículos com mais de cinco anos, o total sobe para 50 milhões de unidades. “Esse é um número majorado”, admite Freitas, acrescentando que há cerca de dois milhões de veículos apreendidos — por razões diversas — em pátios espalhados pelo país.

“A frota brasileira é muito velha. Não está acontecendo uma renovação. Nos últimos anos, vem crescendo num ritmo 3,5 milhões veículos novos por ano, em média. Mas quantos saem de circulação?”, questiona Roberto Bottura, diretor comercial da Control Motors, empresa especializada na desmobilização de frotas, com foco no mercado corporativo. “No Japão, o IPVA é o inverso daqui: quanto mais velho o carro, maior o imposto.”

A expectativa do executivo é de que, até 2016, o percentual de veículos desmontados e reciclados alcance 10%. De acordo com dados do Sindicato do Comércio Atacadista de Sucata Ferrosa e Não Ferrosa do Estado de São Paulo (Sindinesfa), o consumo de sucata nas aciarias do Brasil cresceu entre 2005 e 2012. No período, a participação da sucata na produção de aço bruto subiu de 25,7% para 29,5%, ainda abaixo da média mundial(45%). Das mais de cinco mil toneladas de vidro de para-brisa descartadas a cada mês, apenas 9% são recicladas atualmente no Brasil, segundo estimativa do Instituto Autoglass, que desenvolve ações ligadas ao tema.

Em vigor desde janeiro, a lei estadual que regulamenta desmanches de carros em São Paulo é similar a outra, federal, sancionada em 20 de maio deste ano, mas que ainda necessita ser regulamentada. Para as seguradoras, uma das principais vantagens seria a redução do número de roubos e furtos de veículos, estimulado pela existência de desmanches clandestinos. O uso de peças recicladas também pode baratear os seguros de carros com mais de cinco anos de uso. Pelo Código de Defesa do Consumidor, os reparos de carros pelas seguradoras devem ser feitos sempre com peças novas e originais. “Estamos conversando com a Susep (Superintendência de Seguros Privados) para poder oferecer dois produtos distintos aos proprietários de carros com mais de cinco anos”, informa Freitas, da FenSeg. “Um seria o seguro tradicional e outro, um que utilizaria peças usadas, mas com garantia, para reparar os carros.”

Freitas frisa que qualquer mudança só irá ocorrer depois da regulamentação da lei federal (nº 12.977). E que o aproveitamento de peças recicladas só aconteceria com autorização do segurado. Será necessário ainda que a peça tenha sua origem rastreada e seus dados inseridos num banco de dados. “Não achamos conveniente o aproveitamento de peças de segurança retiradas de carros batidos”, defende Luiz Moan Yabiku Junior, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), repetindo uma preocupação também externada pela FenSeg. “Para as outras peças, deveria haver uma regulamentação mínima aprovada pelo Inmetro”. Nos veículos fabricados atualmente, até 90% do material pode ser reciclado, segundo Moan.

A estimativa da Anfavea é de que existam 39 milhões de veículos em circulação no país — número considerado alto pelo presidente da associação. “É preciso que haja uma simplificação no processo de baixa de veículos”, sustenta Marcos Fonseca, presidente do Instituto Nacional de Empresas de Sucata de Ferro e Aço (Inesfa) e diretor comercial da empresa RFR.

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