Por monica.lima

A integração à Oi dos negócios da Portugal Telecom fez a dívida bruta consolidada da companhia saltar 51,6% no segundo trimestre do ano, na comparação com os três meses anteriores, totalizando R$ 52,22 bilhões. A variação brusca — no fim de março a dívida bruta estava em R$ 34,45 bilhões — foi resultado da consolidação no balanço da operadora brasileira de ativos e passivos da PT, a partir da conclusão da operação de aumento de capital, em maio. A integração significou um acréscimo de R$ 20,1 bilhões em débitos da companhia europeia à dívida bruta da Oi.

Apesar de ter ampliado sua receita líquida em 0,4% no segundo trimestre, na comparação anual, a Oi registrou decréscimo de 21,3% no Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) consolidado, que passou de R$ 3,23 bilhões (abril a junho de 2013) para R$ 2,54 bilhões (mesmo período deste ano). A receita líquida consolidada — incluindo as operações no Brasil, em Portugal e em outros países — totalizou R$ 9,02 bilhões. Em teleconferência com analistas realizada ontem, o presidente da Oi, Zeinal Bava, reiterou que a companhia está focada no controle de custos e investimentos, na monetização de ativos, na integração de operações com a PT e na mudança do modelo de negócios da operadora brasileira.

“Estamos controlando os custos. O opex (despesas operacionais) caiu 6% a nível consolidado, se excluirmos a desvalorização do real face ao euro e os custos adicionais com o aluguel de ativos que nós vendemos ao longo do último ano para ampliar nossa flexibilidade financeira. No Brasil, apesar de uma inflação de 6%, os custos caíram 2,7%”, informou Bava. Em termos de sinergia, a estimativa é de que a Oi obtenha, a partir de 2015, um ganho anual de R$ 303 milhões com um conjunto de 22 iniciativas que inclui a centralização das operações de campo e a a melhoria do processo de cobrança, entre outras.

No segundo trimestre, o faturamento líquido vindo das operações brasileiras da companhia apresentou queda de 2%, frente ao mesmo período do ano passado, influenciado pelo corte nas tarifas reguladas de interconexão do serviço móvel (VU-M) e pela diminuição da receita de voz fixa por conta do encolhimento da base de clientes, além da redução nas tarifas entre fixo e móvel. Outro fator negativo que interferiu no resultado foi o menor tráfego de voz e dados, consequência direta da Copa do Mundo, que reduziu o número de dias úteis em junho. Entre abril e junho, a Oi registrou prejuízo líquido de R$ 221 milhões, contra um resultado negativo de R$ 124 milhões um ano antes.

Ainda dentro da estratégia traçada por Bava desde que assumiu a companhia no ano passado, a Oi diminuiu em 18% seus investimentos (consolidados) no primeiro semestre deste ano, em relação aos seis primeiros meses de 2013. No Brasil, a operadora investiu R$ 2,58 bilhões entre janeiro e junho, uma retração de 19% na comparação anual. Já em Portugal a diminuição foi de 18,75%. “Nosso investimento em Portugal vai ser cada vez mais dependente da demanda do mercado”, afirmou Bava durante a teleconferência.

Para o analista Felipe Silveira, da corretora Coinvalores, a Oi enfrenta um momento delicado, na medida em que precisa obter recursos para honrar seus compromissos e, ao mesmo tempo, fazer investimentos estratégicos. “A elevação da base de clientes de planos pré-pagos foi positiva, ficou um pouco acima do mercado”, frisou Silveira. “Mas a companhia não acompanhou o setor nos segmentos residencial e corporativo, onde perdeu market share”. De maneira geral, a telefonia móvel tem crescido num ritmo mais moderado, com os resultados das operadoras sendo afetados diretamente pelo corte no VU-M — remuneração que uma empresa de telefonia celular recebe pelo uso de sua rede. Uma das prioridades no cronograma de investimentos das teles é o leilão da faixa de 700 megahertz (MHz), previsto para o próximo mês de setembro. “A frequência é importante para fazer a expansão interiorana do 4G, levar o serviço para fora das capitais. Com a empresa mais endividada e gerando menos receita, fica mais difícil fazer frente a um cronograma pesado de investimentos”, resumiu Silveira.

No segundo trimestre, as operações portuguesas aportaram R$ 1,85 bilhão à receita líquida consolidada da Oi. Esse total, somado ao faturamento obtido em outros mercados fora do Brasil, totalizou R$ 2,08 bilhões — 23% da receita líquida total da companhia. Na outra ponta, a da alavancagem financeira, a PT respondia no fim de junho por 38,5% da dívida bruta consolidada da Oi. Considerada separadamente, a dívida bruta da Oi (Brasil) sofreu uma redução de 6,8% na comparação com os três primeiros meses deste ano e de 4,4% frente ao segundo trimestre de 2013. Ao fim de junho, a relação entre dívida líquida e Ebitda da Oi era de 3,8 vezes, segundo informou ontem o diretor de Finanças e Relações com Investidores da Oi, Bayard Gontijo. Considerando apenas a relação entre dívida líquida e Ebitda da PT, esse indicador sobe para seis vezes.

A empresa terminou junho com 102,1 milhões de clientes, incluindo as operações no Brasil, em Portugal e em outros mercados. A base de telefonia fixa no segmento residencial brasileiro sofreu retração de 7,2%, na comparação entre o segundo trimestre de 2014 com igual período do ano passado, caindo para o patamar de 11,36 milhões de clientes. Na base de clientes com planos pré-pagos, houve expansão de 3,9% frente ao período de abril a junho de 2013 e de 0,9% em relação ao primeiro trimestre deste ano. No segmento de planos pós-pagos, o crescimento foi de 2,3% na comparação anual e de 1,3% em relação ao trimestre anterior. A Oi destacou que suas receitas de banda larga e TV paga no país cresceram anualmente 4% e 3,3%, respectivamente. O resultado compensou parcialmente a queda na receita de voz fixa (-4% no segundo trimestre de 2014 contra igual período de 2013).

Ainda no mercado brasileiro, a receita média por usuário (Arpu) atingiu R$ 73,90 no segmento residencial, uma alta de 5,3% na comparação anual. No segmento móvel, o Arpu foi de R$ 17,70, queda de 10,8 % sobre um ano antes.

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