Implantado pelo governo federal em maio de 2013, o programa Aeroporto 24 horas já apresenta resultados significativos no transporte de carga aérea no país. A redução no tempo de liberação de cargas; o custo do processamento burocrático; e aumento da capacidade dos terminais aeroportuários são alguns dos ganhos visíveis.
Quatro aeroportos de grande porte e responsáveis por quase 80% das cargas aéreas do comércio exterior — Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim (Galeão), no Rio; Aeroporto Internacional de Guarulhos e Aeroporto de Viracopos, em São Paulo, e o Aeroporto de Manaus — passaram a funcionar 24 horas, inclusive fins de semana e feriados, e os órgãos anuentes deixaram de atender apenas em horário comercial. O especialista em Competitividade Industrial e Investimentos do Sistema Firjan, Riley Rodrigues, explica que, desde que a Firjan começou a estudar e a pensar no assunto, o foco era entender como reduzir o tempo em que a carga fica parada no processo de verificação física e, com isso, ganhar em produtividade.
“Na média geral, uma movimentação de carga no Brasil entrava pelo décimo dia. E como a jornada de trabalho para o despacho da carga era de oito horas por dia, a demora chegava a 210 horas no total, contra quatro de Hong Kong, por exemplo. No caso do Galeão, o tempo de despacho de carga baixou de 9,1 dias para 4,7 dias. Para cada aeroporto há uma necessidade específica, de acordo com a carga que movimentam. Por isso, além de pessoal, é necessário concentrar o que é trabalho burocrático em uma só plataforma”, comenta Rodrigues, que espera que o funcionamento total do Portal Único do Comércio Exterior, lançado no final do primeiro trimestre desse ano, se conclua antes da data prevista, que é 2017.
“Há 23 órgãos diferentes e responsáveis pelo despacho de cargas. Se todos estiverem em uma plataforma única, a velocidade do processo aumenta mais e dispensa um tempo com burocracia que é precioso”, diz ele. Segundo Rodrigues, os quatro aeroportos que passaram a operar no sistema 24 horas aumentaram o seu potencial de movimentação de carga em 391 mil toneladas por ano ou o equivalente a 105 dias de trabalho em 2013. Isso, em volume de dinheiro, significa um potencial de US$ 14 bilhões. O potencial de carga depende da situação econômica, afirma o especialista da Firjan. O desafio agora, diz ele, é aumentar a movimentação de carga de maior valor agregado no país, na exportação, para que outros aeroportos passem a trabalhar com esse perfil e mais terminais 24 horas possam ser instalados.
Desde que assumiu a operação do Aeroporto Internacional de Viracopos, a concessionária Aeroportos Brasil Viracopos investiu cerca de R$ 30 milhões em reformas, melhorias e compra de equipamentos no Terminal de Cargas do aeroporto de Campinas (SP). Um novo complexo frigorífico foi construído com recursos de R$ 4 milhões, para tornar mais ágeis os processos de recebimento, atracação e armazenamento dos materiais perecíveis, reduzindo o tempo de exposição a temperaturas externas.
O aeroporto de Campinas também investiu na renovação de seus equipamentos, com a aquisição de 30 novas empilhadeiras de 2,5 toneladas , e também empilhadeiras de alta capacidade para cargas de até 20 toneladas. A concessionária também trabalha em um projeto-piloto para melhorar o fluxo de informações entre empresas aéreas, agentes de cargas e o aeroporto, diz o assessor de Negócios de Carga de Viracopos, Adam Cunha.
No Terminal de Cargas de Guarulhos (GRU Cargo), também em São Paulo, o investimento do concessionário incluiu a compra de dez tratores e 89 novas empilhadeiras com capacidade para 10, 7, 4 e 2,5 toneladas em substituição aos modelos antigos e a capacidade de armazenamento das câmaras frigoríficas foi praticamente triplicada: de 7,7 mil metros cúbicos para 26 mil metros cúbicos.
No acumulado até julho desse ano, somando importação e exportação de carga aérea, o aeroporto de Guarulhos movimentou 145.605 toneladas, um crescimento de 1% na comparação com o mesmo período de 2013. Os principais produtos movimentados no terminal são de farmacêuticos, automotivos, maquinários, tecnologia e têxteis.
A Infraero também vem trabalhando para melhorar os processos nos terminais de carga que administra. O Programa Infraero de Eficiência Logística está implantado nos aeroportos de Curitiba, Joinville, Florianópolis, Foz do Iguaçu e Londrina, na região Sul, São José dos Campos (SP); Salvador, Recife, Fortaleza, Petrolina, Teresina, Natal, João Pessoa, Aracaju e Maceió, na região Nordeste, entre outros. Ainda segundo o órgão, dependendo do tempo para liberação de licenças de importação, os processos podem levar até seis dias. Em 2013, foram processadas 484 mil toneladas de cargas na rede de aeroportos da Infraero.